O ex-juiz Sergio Moro iniciou sua campanha à Presidência da República distribuindo adjetivos desabonadores a Lula e a Bolsonaro (mais a Lula do que a Bolsonaro). Ao falar do presidente, por exemplo, Moro o associou a milicianos e disse que o governo federal é leniente com a corrupção. É um giro de 180 graus em relação ao que ele pensava há pouco tempo.
Cinco dias após aceitar o convite de Bolsonaro para se tornar ministro da Justiça, Moro disse que o presidente era uma pessoa “moderada, ponderada e sensata”. “Eu não vejo, em nenhum momento, risco à democracia e ao Estado de direito”, afirmou.
Moro dizia ainda que as falas controversas de Bolsonaro eram tiradas de contexto. “Quais as propostas concretas do governo que afetam ou ofendem minorias?”, questionava ele, não citando algo que naquele momento já era público, o excludente de ilicitude.
Uma vez no governo, Moro se manteve firme na defesa do presidente. “Jair Bolsonaro tem um compromisso com a prevenção e o combate à corrupção”, disse o então ministro, no dia 27 de agosto de 2019.
Em dezembro daquele ano, Moro declarou que Bolsonaro era “uma pessoa muito íntegra” e que “todo mundo que o conhece atesta isso”.
Também arrependida de ter votado em Bolsonaro, a advogada Rosângela Moro, casada com o ex-juiz, concedeu entrevista no dia 16 de fevereiro para defender o governo. “Sou pró-governo federal. Eu não vejo o Bolsonaro, o Sérgio Moro. Eu vejo o Sérgio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só”, afirmou.
Moro pediria demissão do Ministério da Justiça pouco mais de dois meses depois das declarações de Rosângela. Ele deixou o cargo denunciando a tentativa de Bolsonaro de interferir no comando da Polícia Federal. No último dia 7, o ministro do STF Alexandre de Moraes prorrogou por mais 90 dias o inquérito que apura as acusações de Moro.

Após 22 anos de magistratura, o ex-juiz Sergio Moro, conhecido por conduzir a Lava Jato, firmou aliança com Bolsonaro e assumiu a condução do Ministério da Justiça, em 2019Rafaela Felicciano/Metrópoles

A união dos dois se deu pela forte oposição ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT)Igo Estrela/Metrópoles

Presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Sergio MoroIgo Estrela/Metrópoles

Outrora aliados, Bolsonaro e Moro trocam críticas públicas frequentementeAndre Borges/Esp. Metrópoles

No fim de agosto de 2019, Bolsonaro ameaçou tirar Maurício Valeixo, chefe da Polícia Federal indicado por Moro, do cargo de direção da corporação Rafaela Felicciano/Metrópoles

“Ele é subordinado a mim, não ao ministro, deixar bem claro isso aí”, afirmou, na época, o presidenteRafaela Felicciano/Metrópoles

Em 24 de abril de 2020, Bolsonaro exonerou Valeixo do comando da PF e Moro foi surpreendido com a decisãoRafaela Felicciano/Metrópoles

Sergio Moro critica o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma entrevista ao EstadãoHUGO BARRETO/ Metrópoles

Para o senador, Moro não representa um adversário forte por não integrar o cenário político e não possuir o "exército de seguidores" de BolsonaroRafaela Felicciano/Metrópoles

Em novembro, o ex-juiz retorna ao Brasil e se filia ao partido Podemos. Pela sigla, lançou-se pré-candidato à Presidência da RepúblicaRafaela Felicciano/Metrópoles

A relação, antes amigável, torna-se insustentável. Em entrevistas e nas redes sociais, Moro e Bolsonaro protagonizam trocas de farpasRafaela Felicciano/Metrópoles