O monitoramento de violência contra jornalistas realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou um aumento de 69,2% nas agressões graves em 2022. Nos primeiros sete meses do ano, foram registrados 66 ataques considerados graves contra profissionais de imprensa. No mesmo período do ano passado, a Abraji identificou 39, o que, na época, foi considerado um recorde histórico.
O cenário geral de ataques também teve um aumento de 15,5%. De janeiro a julho deste ano, a Abraji registrou 291 violações contra a liberdade de imprensa. Esses casos incluem ocorrências de discursos estigmatizantes, processos, restrições na internet e uso abusivo de poder estatal.
Dos 291 ataques registrados, 209 partiram de políticos e agentes do Estado. Destes, 157 foram feitos por membros da família Bolsonaro. O presidente, segundo o monitoramento, atacou a imprensa 60 vezes, o deputado Eduardo Bolsonaro 51 vezes, o vereador Carlos Bolsonaro 32 vezes e o senador Flávio Bolsonaro 20 vezes.
Já nos casos mais graves, que envolvem destruição de equipamento, agressões físicas ou morte, dos 66 registrados, 19 têm autoria de políticos e autoridades. Dois dos casos mais graves foram executados por membros de facções criminosas e 23 por pessoas desconhecidas.
O assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista e servidor público da Funai Bruno Pereira, em junho deste ano, está entre os casos mais graves de violação da liberdade de imprensa registrados pela Abraji em 2022.
Estão na lista também o ataque do vereador Paulo Luiz de Cantuária (MDB), de Ouro Fino (MG), em maio, que lançou pedras contra o jornalista Alexandre Megale, o atentado contra jornalistas da GloboNews, em abril, que foram ofendidas e quase atropeladas por um homem não identificado em São Paulo, e a morte do jornalista Givanildo Oliveira, do portal Pirambu News, que foi assassinado em fevereiro horas depois de publicar uma reportagem sobre a prisão de um suspeito de homicídio em Fortaleza.

Em 5 de junho de 2022, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira viajavam juntos para que Dom realizasse entrevistas para o livro que escrevia sobre a preservação da AmazôniaPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images

Naquele dia, eles foram vistos pela última vez na comunidade ribeirinha São Rafael, pela manhã, e saíram em direção ao município de Atalaia do Norte, seguindo pelo rio ItaquaíArquivo pessoal

Contudo, nesse percurso, os dois desapareceram. As equipes de vigilância indígena da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) fizeram as primeiras buscas, sem resultadosDivulgação

No dia seguinte, a Univaja emitiu comunicado informando, oficialmente, o sumiço dos homens. Em seguida, equipes da Marinha, Polícia Federal, Ministério Público Federal e do Exército foram mobilizadas e deram início a uma operação de busca Reprodução/Redes sociais

Em 8 de maio, a força-tarefa efetuou a prisão do primeiro suspeito pelo desaparecimento: Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado. Vestígios de sangue foram encontrados na lancha de Amarildo após perícia da Polícia Federal Arquivo pessoal

Em 12 de junho, uma semana depois, mochilas com os pertences pessoais de Dom e Bruno foram encontradas. Não muito tempo depois, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, irmão de Pelado, foi preso sob suspeita de envolvimento no crimeReprodução/Redes sociais

Em 15 de junho, Pelado narrou à Polícia Federal que a perseguição à lancha na qual Bruno e Dom estavam durou cerca de 5 minutos. Jeferson Lima, outro envolvido no crime, teria atirado contra o indigenista, que revidouPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images

Bruno, no entanto, foi acertado e perdeu o controle da embarcação, que entrou mata adentro. Depois disso, Pelado e Jeferson teriam ido até a lancha e executado os dois Material cedido ao Metrópoles

Os suspeitos, então, teriam retirado os pertences pessoais das vítimas do barco em que estavam e o afundaram. Em seguida, queimaram os corpos de Dom e BrunoRedes sociais/reprodução

A tentativa de ocultação, porém, não teria dado certo. Jeferson e Amarildo retornaram no dia seguinte, esquartejaram os corpos e os enterraram em um buraco escavado. A distância entre o local em que os pertences foram escondidos e onde os corpos foram enterrados é de 3,1 kmDivulgação/Polícia Federal

Depois de fazer uma reconstituição do caso junto a Amarildo, a força-tarefa anuncia ter encontrado “remanescentes humanos” que, mais tarde, se confirmariam como os corpos de Dom e BrunoReprodução/Redes sociais

Em 16 de junho, os corpos chegaram a Brasília para realização de perícia e confirmação de identidade. Dois dias depois, a polícia prendeu Jeferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da DinhaIgo Estrela/Metrópoles

Em 19 de junho, a polícia informou ter identificado outros cinco suspeitos que teriam atuado na ocultação dos cadáveres. Segundo a PF, “os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”Reprodução/Twitter/@andersongtorres

O exame médico-legal indicou que a morte de Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caçaPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images

A morte de Bruno Pereira foi causada, segundo os peritos, por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, “que ocasionaram lesões no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”Funai/Divulgação

Bruno era considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai. Ele dedicou a carreira à proteção dos povos indígenas. Nascido no Recife, tinha 41 anos. Ele deixa esposa e três filhosReprodução

Dom Phillips, 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador, com a esposaTwitter/Reprodução