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Jornalista Izabella Camargo fala dos desafios e da vida após o burnout

Após viver um “apagão” ao vivo na televisão, Izabella decidiu que era hora de priorizar sua vida e ajudar outras pessoas a evitar o burnout

atualizado

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Arquivo pessoal/Imagem cedida ao Metrópoles
Izabella Camargo
1 de 1 Izabella Camargo - Foto: Arquivo pessoal/Imagem cedida ao Metrópoles

“Trabalhe enquanto eles dormem”. A frase, usada para estimular a produtividade, traz grandes prejuízos para a saúde mental de qualquer trabalhador quando os limites pessoais não são respeitados e sinais de esgotamento são negligenciados.

O dia 14 de agosto de 2018 foi o estopim na vida da jornalista Izabella Camargo. Após sofrer um “apagão” ao vivo enquanto apresentava a previsão do tempo em um telejornal, ela percebeu que era hora de procurar ajuda de um psiquiatra. Foram dois anos de exames, laudos, pedidos de afastamentos e mudanças de horário até receber o diagnóstico que mudaria o seu estilo de vida para sempre: a síndrome de burnout.

O distúrbio emocional é o resultante de estresse crônico provocado pelo ofício. Os principais sintomas são exaustão, esgotamento mental e redução de produtividade. Em janeiro de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o burnout na lista de doenças do trabalho.

Em conversa com a Coluna Claudia Meireles, a profissional relembrou que, antes do episódio que dividiu sua vida em antes e depois, acumulou vários sintomas, como problemas graves no estômago e intestino, bruxismo, taquicardia, problemas de queda de cabelo, pele, vascular (ela precisou retirar uma safena), distúrbios de circulação e hormonais.

Antes do apagão ao vivo, Izabella teve vários sintomas físicos

“Quando falamos de distúrbios hormonais, isso afeta o humor, o raciocínio e o seu modus operandi, que é como você funciona em sociedade. Como sempre mantemos esse modus 100% para que ninguém perceba que você está passando mal, vamos nos sobrecarregando, estressando demais o nosso organismo para mostrar que está tudo bem, mas que no fundo não tem nada bem”, diz.

A autora do livro Dá um tempo!: como encontrar limite em um mundo sem limites explica que o burnout não chega de um dia para o outro na vida do indivíduo, assim como não vai embora da noite para o dia.

“As dores são mensageiras e é um convite que estamos recebendo para se cuidar e redobrar a atenção para o equilíbrio e para pararmos com a autonegligência. Elas vão ficando crônicas e aumentando nosso necessaire. O estresse afeta o órgão mais vulnerável de cada um”, avalia Camargo, que definiu a doença como “ausência de si mesmo”.

Para se curar, Izabella fez muita terapia, uso de medicamentos e mudou completamente o seu estilo de vida para evitar cair na armadilha da rotina e abrir espaço para o retorno da síndrome.

“Passei a buscar um pouco mais de ‘eu’. Na verdade, comecei a me respeitar mais, respeitar o meu cansaço e as minhas necessidades. Parei de me achar a Mulher-Maravilha e o que as outras pessoas diziam sobre ‘Você parece tão bem!’, porque com a maquiagem a gente sempre esconde muitas dores”, avalia.

Nova vida

Depois de passar por um momento tão obscuro em relação à saúde mental, a jornalista, que construiu uma carreira de muito sucesso, decidiu se priorizar e ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo. Ela tornou-se consultora e palestrante. Ao todo, mais de 150 mil pessoas já acompanharam suas palestras.

“Vivi uma das piores consequências desse estilo de vida insustentável, que era trabalhar de madrugada. Tem pessoas que não tem tantas sequelas, mas a própria medicina já aponta as chances maiores que você tem quando trabalha de madrugada para o desenvolvimento de cânceres e mais 84 doenças. Quem dorme menos de 6 horas por noite têm quatro vezes mais chances de morte”, relembra a jornalista que chegou a fazer três jornais ao mesmo tempo.

Além disso, ela lançou o livro Dá um tempo!: como encontrar limite em um mundo sem limites, para ajudar pessoas estressadas e com dificuldades de viver no mundo atual. As pesquisas começaram em 2017. No total, foram entrevistados 150 especialistas, entre médicos e filósofos, para entender as perspectivas em relação ao tempo.  Atualmente, ela está escrevendo o segundo livro.

A jornalista é autora do livro Dá um tempo!: como encontrar limite em um mundo sem limites

Além de prestar consultoria, Izabella Camargo criou o movimento da Produtividade Sustentável, que busca levar para empresas a ideia de não ter um estilo de vida insustentável, no qual os indivíduos se negligenciam para atingir metas e acabam desrespeitando os próprios limites.

O banco Bradesco e a Boticário são instituições para onde ela levou a iniciativa. “Fico muito feliz quando as empresas de grande porte levam a produtividade sustentável para o pilar dos negócios delas. Estão vivendo uma nova cultura do trabalho”, avalia.

Diante de tantos desafios que passou com a síndrome de burnout, Camargo olha para o passado e entende que a doença lhe trouxe “consciência das consequências do que a gente faz ou deixa de fazer”. “Durante o tratamento, eu descobri a minha missão. Hoje, eu promovo a prevenção do burnout e a não banalização do termo, porque eu vejo muitas pessoas se confundindo com cansaço e exaustão”, esclarece.

Quando sentir que o seu corpo está manifestando dores crônicas, procure ajuda imediatamente. “Embora cada um esteja conversando com o seu médico ou tratando algum sintoma isolado, fique atento ao conjunto de sinais”, finaliza a profissional da comunicação, que acumula quase 600 mil seguidores no Instagram.

Classificação da OMS

Em janeiro de 2022, a OMS incluiu a síndrome de burnout na lista oficial de doenças de trabalho. A entidade reconhece o distúrbio como um fenômeno ocupacional “resultante de um estresse crônico associado ao local de trabalho, e que não foi adequadamente administrado.”

Ele pode se manifestar das seguintes maneiras: como uma sensação de exaustão ou falta de energia; com sentimentos de negativismo, cinismo ou distância em relação ao trabalho e/ou como uma sensação de ineficácia e falta de realização.

Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.

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