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Perdidos, bilionários e famintos. Tudo num mesmo Brasil, num mesmo dia

Um dia em que se registraram mortes de 4 mil pessoas por Covid, existência de 116 milhões sem o bastante para comer e 11 novos bilionários

atualizado

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Gui Prímola/Metrópoles
Ilustração-anderson-frança
1 de 1 Ilustração-anderson-frança - Foto: Gui Prímola/Metrópoles

Me dá uma sensação estranha saber que num mesmo lugar, num mesmo povo, num mesmo país, num mesmo dia, se dá a notícia de que morreram mais de 4 mil pessoas, e que 116 milhões estão em insegurança alimentar, e ainda dentro deste mesmo lugar temos 11 novos BILIONÁRIOS incluídos na badalada lista da Forbes.

Quando disseram que o comunismo ia destruir o Brasil, eles conseguiram enxergar um cenário pior que esse?
Se sim, os comunistas fazem o quê? O que sobra pros comunistas destruírem?

Porque se os comunistas pegarem o Brasil hoje a pergunta é essa: o que sobrou pra destruir?

Veja, isso nem é uma defesa de comunista.

É interesse mesmo pelo tema destruição.

Pode ser qualquer outra ideologia. Pode ser comunista, trabalhista, kardecista, eletricista, seja sincero: não sobrou nada.

O tão aplaudido e desejado neoliberalismo e bolsonarismo derrapou na execução, se é que derrapar não seria, em si, o projeto.

A venda do medo da ameaça comunista colou num povo de educação crítica baixa e, no geral, deficitária. Mas a crise na educação brasileira também parece ser um projeto. Povo ignorante vota errado. Bolsonaro vendeu a ideia de que a petralhada ia destruir o país, e, se colocarmos na balança, é Bolsonaro que surge como quem enterrou o Brasil. Em cova rasa.

São 341 mil mortos, e em dias, esse número será defasado.

Um país onde um vereador e a sua esposa torturam e matam uma criança, por crueldade e prazer. Um governador, que era juiz federal, chora descaradamente no Tribunal de Justiça do Rio, dizendo que sempre foi honesto, mesmo comprovados os desvios de dinheiro da saúde, em plena pandemia.

Witzel chorou, e ficou pior pra ele.

O delator se apresentou no tribunal, coberto por um lençol, atrás de um biombo.

Estava nu. Nu, de verdade. Não sem as roupas, mas sem as camadas de mentira que vestem a classe política brasileira.

O curioso caso do país que tinha gente passando fome, e gente bilionária.

Gente que apoia a direita, e morre em fila de hospital.

Enquanto isso, André Mendonça diz que: “Nós, cristãos, estamos dispostos a morrer”, e ele não foi informado que, em Mato Grosso, 17 pastores morreram de Covid por serem obrigados a abrir as igrejas, da Assembleia de Deus. Veja que coincidência macabra, 17 pastores.

Nos Estados Unidos tem vacina pra todo mundo. E a Covid perdeu força lá, porque, mais que ciência, trocaram o presidente.

Não sei quem deu o poder para o André Mendonça falar por mim. Eu sou protestante, e quero ficar em casa. Não quero e não estou disposto a morrer de Covid, não.

Se tivéssemos uma Polícia Federal séria, já se investigavam os motivos que levam os pastores a forçar a abertura de igrejas para receber o dízimo em cash. Quem precisa receber em espécie sempre, ou não tem acesso a banco, ou não quer declarar o quanto ganha. E será que tem igreja lavando dinheiro?

Cadê a policia?

Polícia pra quem? A mando de quem?

Um povo que se encontra espalhado num espaço enorme de terra, com fome, sem trabalho, sem remédio, sem vacina, sem garantias. Jornalistas que trabalham sob intimidação, processos, perseguição. Médicos e cientistas que trabalham sob ameaças. E a TV, que deveria entreter, revela o racismo nas nossas casas, como se fosse pouco o que vemos todos os dias, na vida. E Bolsonaro dizendo em Chapecó que água de côco serve pra transfusão de sangue. Podiam botar água de côco na ampola da vacina dele, pra fazer um teste.

Dizem que o Brasil é rico, tem recursos, um clima ótimo, um povo feliz.

Que o Brasil é um país maravilhoso.
Eu já penso que o Brasil não é um país maravilhoso, mas um lugar maravilhoso onde poderia existir um paraíso.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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