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Tirando as lentes cor-de-rosa, vê-se os percalços da vida em Portugal

País virou a bola da vez e tem atraído cada vez mais brasileiros, mas é preciso enxergar as dificuldades enfrentadas por quem decide imigrar

atualizado

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IStock
Imigrantes Portugal
1 de 1 Imigrantes Portugal - Foto: IStock

Portugal estava ali quietinho e sossegado. Como os portugueses mesmos costumam dizer, aquela casa no fim da rua chamada Europa. Eis que, de repente, virou a bola da vez, a casa mais charmosa da rua, e se transformou no alvo das discussões para o bem e para o mal.

Muito do que se escreve sobre Portugal tende a endeusar o país, transformá-lo numa nação nórdica, o que ele não é. É como se a pauta positiva do turismo contaminasse todos os segmentos e Portugal se tornasse apenas o país do bacalhau, do pastel de nata, dos bons vinhos, da Torre de Belém e das grandes oportunidades. O Eldorado europeu, que fala a nossa língua.

Essa visão do paraíso, como todos sabemos, tem atraído cada vez mais brasileiros que tentam fugir do vale-tudo no qual se transformou o Brasil. Antes era Miami (EUA). Hoje, é Portugal

Porém, é preciso tirar a lente cor-de-rosa e enxergar as dificuldades e os percalços de viver em Portugal, sem cair também no exagero de ser crítico em tudo. Eu mesmo – mea-culpa – às vezes exagero nas tintas coloridas sobre a terrinha.

Portugal é um país seguro? Sim. Você corre o risco de ser assaltado? Sim. Mas se aconteceu com você ou com alguém, isso não torna o país menos seguro. É igual ao argumento do fumante sobre o avô ter vivido até os 90 anos, fumando um maço de cigarros por dia, como prova de que fumar não provoca câncer.

Então, resolvi colocar aqui os quatro maiores mitos sobre Portugal, na minha visão.

Arrumar emprego em Portugal é fácil
Não é. Muitos brasileiros que migram para Portugal sonham em exercer aqui o mesmo ofício que tinham no Brasil. Se não for uma profissão qualificada, que exija uma formação altamente especializada, encontrar um emprego é difícil. Portugueses vão privilegiar a contratação de portugueses. Então, ou os brasileiros são muito qualificados ou vão se sujeitar a ganhar bem menos; ou vão trabalhar em subempregos ou em empregos que não exijam a mesma qualificação.

Parodiando uma lanchonete paulistana que se chamava O engenheiro que virou suco (que, por sua vez, parodiava um filme brasileiro dos anos 80, O homem que virou suco), em Portugal vemos filmes parecidos todos os dias: o técnico de TI que virou garçom, o publicitário que virou balconista, o contador que virou jardineiro, a enfermeira que virou faxineira…

Os salários em Portugal são maiores que no Brasil
A diferença entre os baixos e os altos salários em Portugal é muito menor que no Brasil. Um presidente de empresa grande no Brasil ganha muito mais que o seu equivalente português, mesmo fazendo a conversão da moeda. Já um operário brasileiro ganha bem menos que um português, que, além de ter seus direitos trabalhistas respeitados, com a seguridade social, consegue formar uma boa renda para a aposentadoria. E mais: muitos portugueses contratam brasileiros ilegais, pagando uma merreca, porque sabem que eles precisam do dinheiro e não vão reclamar, dada a sua condição irregular no país.

A vida em Portugal é mais barata que no Brasil
Depende. Se compararmos o valor da cesta básica versus o do salário mínimo, Portugal vence. Mas no dia a dia os gastos com transporte, roupas, supermercado e outros serviços, como cabeleireiro e lavanderia, o Brasil custa bem menos. Ouço todos os dias. Portugal não é para ganhar dinheiro. É para gastar. Daí as facilidades e os benefícios ficais oferecidos a aposentados de todo o mundo para ir viver em Portugal.

Portugal oferece muitas oportunidades para empreender
Também não é verdade. Tirando a cadeia do turismo, segmento que atrai todos os anos 20 milhões de pessoas para o país, o dobro da população local, Portugal não tem uma economia tão dinâmica assim. No Brasil, você fala com um mercado consumidor de 200 milhões de pessoas. Portugal é vinte vezes menor. Ainda que seja muito fácil montar um negócio, o difícil é mantê-lo, ainda mais considerando os impostos e os pesados encargos sociais a serem assumidos.

Vou parar por aqui, senão você desiste de ler minha coluna. É que às vezes a vida está mais para um triste fado do que para um delicioso doce português à base de ovos.

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