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Matias Mesquita e sua poética de luz e cor, concreto e alvenaria

Um tanto da produção recente do artista está em cartaz na Referência Galeria de Arte (202 Norte)

atualizado

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Bernardo Scartezini/Especial para o Metrópoles
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1 de 1 foto-de-abre12 - Foto: Bernardo Scartezini/Especial para o Metrópoles

A trajetória de Matias Mesquita em Brasília confunde-se com seu papel à frente do Elefante Centro Cultural. Desde que trocou seu Rio de Janeiro natal pela nova capital, há coisa de cinco anos, ele tem feito daquela casinha da 706 Norte um front a agitar a cena brasiliense das artes visuais. Ao mesmo tempo em que vem trabalhando ali, diariamente, em seu ateliê de pintura e escultura.

Os céus de Brasília revelaram a Matias Mesquita seu tema recorrente nesses últimos anos de carreira. Ele vem pintando nuvens, sempre em tinta óleo, sob as mais diversas cores e formas, sobre os mais diversos materiais e suportes.

Um tanto da produção recente de Matias está em cartaz na Referência Galeria de Arte (202 Norte). A exposição Intempéries Permanentes pode ser visitada até 23 de fevereiro. Foi montada num íntimo diálogo com a curadora Cinara Barbosa, parceira do artista no cotidiano do Elefante.

Ao receber a coluna Plástica para uma conversa na Referência, no início de janeiro, Matias conta que aproveitou o motivo desta presente exposição para se debruçar sobre novas linhas de pesquisa – envolvendo materiais pelos quais já tinha interesse, mas ainda não tinha tido a oportunidade de se deter neles.

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Chapas de alumínio e colunas de alvenaria são algumas das superfícies sobre as quais Matias exercitou recentemente sua poética, no meio do caminho entre pintura e escultura, pintura e objeto.

Grande parte da exposição tem a ver com experiências controladas em ateliê, explica Matias. Séries de tentativas em que procura entender e dominar as características de cada material. As placas de concreto, por exemplo, já lhe são bastante familiares. Matias sabe como elas reagem, entende que podem contrair e se expandir ao longo do tempo.

“Todo material respira, tem vida. Nós criamos essa ilusão de que uma viga, uma laje, um bloco de cimento são eternos, não se desgastam com o tempo. Mas não é verdade. Qualquer material precisa de um acompanhamento para durar. E eu busco entender isso. Deixo que se movimente, deixo que o material trabalhe.”

Matias, muitas vezes, assume as rachaduras que surgem durante o processo. Isso quando ele mesmo não as causa – dando leve batidinhas ou soltando marretadas – para que se tornem parte da composição. As placas, que ele faz ao misturar barro e cimento, costumam soltar bolhas de ar. Na maioria dos trabalhos, Matias tenta manter a superfície lisa para poder pintar nela quase como numa tela bem esticada. Em outros, abre mão de ter esse controle, não se preocupa em lixar, incorpora na própria pintura as imperfeições da superfície.

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Encostadas numa das paredes da Referência, quatro peças formam a série Fronteiriços (2018), que já tinha sido exibida no final do ano passado na Casa da Cultura da América Latina. Perceba que três dessas peças são pinturas de nuvens, recortes de uma paisagem urbana, feitas em óleo sobre placas de concreto. Uma das quatro peças, no entanto, não é pintura alguma. Trata-se de um aceno ao processo do artista: eis o molde de madeira no qual Matias produziu as outras três peças.

Fronteiriços, em metalinguagem, dá conta desse lugar que Matias Mesquita criou para si mesmo. Um tanto de pintura, um tanto de escultura. Ao mesmo tempo em que deixa evidente, em seus recortes de céus, uma terceira linguagem que antecede todo o trabalho em ateliê. A fotografia.

As pinturas de Matias usualmente partem do registro fotográfico de um breve instante. As fotografias que ele tira ao apontar a câmera para o céu são duplamente fugazes: não apenas a nuvem se desmanchará logo mais, ao sabor dos ventos, como aquela luz que naquele exato momento incide sobre ela dali pra pouco será outra.

“A questão da luz me interessa mais do que o volume. É super pontual. Um spot de luz que estoura e revela cores e intensidades. Pode até parecer que consegui capturar aquele instante. Mas o processo em si, de pegar a fotografia e transformar em pintura, sempre será uma tentativa frustrada. A ideia de deixar eterno aquele segundo será sempre uma tentativa e apenas isso, apenas uma tentativa.”

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Perseguir o inalcançável, convenhamos, deve ser tarefa um tanto desgastante. Talvez por isso o próprio Matias promova algumas quebras no realismo fotográfico que ele tanto persegue. No caso de Fronteiriços, ele se permitiu algumas liberdades cromáticas, adotando tons pouco realistas de azul para aqueles céus.

Nas quatro peças aqui apresentadas da série Construção Irregular (2018), as liberdades são ainda maiores. Desta feita, as nuvens desaparecem de todo, evaporam. Da pesquisa que Matias vem conduzindo nos últimos anos, resta a palheta de cores – a mesma que encontrou nos céus brasilienses, a mesma que aprendeu a dominar.

No entender de Matias, a série anuncia um passo a ser dado do figurativo para o abstrato. As nuvens, aliás, são mui propícias a esse trajeto. “Elas tanto podem ser absurdamente figurativas quanto totalmente abstratas, apenas luzes e sombras, dependendo de onde você coloca o pé.”

Ao mesmo tempo, Construção Irregular conversa com uma série de esculturas que Matias Mesquita vem desenvolvendo nos últimos anos. Esculturas que, já apresentadas em coletivas no Elefante e no Museu Nacional Honestino Guimarães, têm a forma de construções arruinadas. Colunas que não param de pé, que tombam ao chão, incapazes de sustentar o que quer que seja.

Aqui na Referência, as colunas que Matias Mesquita ergueu em tijolo, moldou em cimento, apenas para poder quebrá-las, estão penduradas na parede. Rachadas e descascadas, imprestáveis para ficar de pé, trazem equilíbrio para o artista que busca a excelência técnica em pintura ao mesmo tempo em que explora materiais pouco convencionais a um pintor.

Bernardo Scartezini/Especial para o Metrópoles
Estabilidade Falida (2018): óleo sobre placa de barro e cimento

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