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Bolsonaro traz o insustentável peso da mudança. E isso assusta

A grande questão colocada hoje é quanto tempo o presidente terá no poder: um ou dois mandatos? E isso irá moldar o Brasil do futuro

atualizado

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Kacio Pacheco/Metrópoles
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1 de 1 guzzo-de-cara - Foto: Kacio Pacheco/Metrópoles

Vamos falar as coisas com franqueza e, se possível, ajudar o leitor a economizar um pouco de tempo nas suas conversas sobre “o país”. A grande questão da política brasileira, hoje, é a perspectiva real do presidente Jair Bolsonaro ficar no seu cargo não só pelos três anos de mandato a que ainda tem direito por conta da eleição de 2018 mas pelos quatro anos seguintes, até 31 de dezembro de 2026.

Não adianta fazer de conta que não é isso. É precisamente isso. Fala-se de tudo – da descomunal importância do presidente da Câmara para o futuro do Brasil e do Sistema Solar, do que se passa a cada minuto do dia na cabeça do presidente do Senado, dos entreveros de Bolsonaro com o sistema de pontos nas multas de trânsito.

Discutem-se novos partidos, velhos partidos, centrão, centro e centrinho. Há os filhos do presidente. Há o futuro de Lula: o que mais o STF pode fazer por ele? Há, todos os dias, a crise da manhã, a crise da tarde e a crise da noite, com ameaça real, direta e imediata à sobrevivência do governo. Há de tudo – menos a discussão aberta da única coisa que de fato interessa: até quando Bolsonaro vai ficar? O resto é o resto.

Não se trata de um “quiz” de adivinhação. Se o presidente ficar ”X” tempo, a sociedade brasileira terá uma cara; se ficar “X” + “Y”, terá outra. Não é mudança de governo. É mudança de vida. Daqui a três anos, se as coisas continuarem a andar do jeito que estão andando, o Brasil será um país tão diferente do que é hoje, mas tão diferente, que praticamente nada do que se discute no momento terá qualquer significado prático para o dia a dia dos brasileiros.

Se a história for ainda além, e Bolsonaro receber um segundo mandato – bom, aí já estaremos entrando em território absolutamente virgem. É uma perspectiva que assusta até o fundo da alma toda a ordem política, econômica e social que manda hoje no Brasil, como tem mandado há décadas, ou mais do que isso.

Assusta porque traz o insustentável peso da mudança para os que não querem que nada mude – ou que só mude aquilo que lhes interessa mudar. Mudam o sistema psicológico, a “ideologia”, os hábitos intelectuais, os valores, os usos e costumes. Quem está contente com o Brasil como ele foi até hoje não pode estar contente com o Brasil desconhecido que talvez esteja vindo aí pela frente.

Qual poderia ser ele? É uma perda de tempo, como se sabe, ficar preocupado em excesso com o futuro, porque ele virá de qualquer maneira. O que dá para fazer é uma lista de realidades – e ir checando, uma por uma, se elas estão mudando para melhor ou para pior.

A economia, por exemplo. Pelos fatos que podem ser vistos hoje – e não pelos sentimentos que você tem a respeito deles – a situação tende a melhorar ou piorar? O país, no futuro próximo, vai ter um outro STF e uma outra Justiça. A máquina pública deixará de crescer como cresceu nos últimos 50 anos. O Brasil, forçosamente, vai estar mais integrado às cadeias mundiais de produção.

O “investimento público” deixará de ter o tratamento sagrado que tem hoje. Não haverá novas empresas estatais. As pressões da maioria sobre os donos da vida pública vão aumentar – entre outras coisas, não há nenhuma hipótese de que as redes sociais se tornem menores e mais silenciosas do que são hoje.

Todas essas coisas somadas, e uma infinidade de outras, são positivas ou não? Faça suas contas. O fato é que ninguém pode esperar uma vida melhor se não houver mudança nenhuma no lugar onde ela se tornou ruim.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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