metropoles.com

Fazer alianças é da natureza da política

O problema não está em atuar com a centro-direita, mas sim em abrir mão de um programa de reformas estruturais

atualizado

Compartilhar notícia

Beto Barata/Presidência da República
Michel Temer e Lula
1 de 1 Michel Temer e Lula - Foto: Beto Barata/Presidência da República

O problema não está em fazer alianças com a centro-direita para enfrentar o bolsonarismo. O que não se pode é abrir mão do programa de reformas estruturais e da construção de uma Frente de Esquerda.

Para alguns, uma encruzilhada se apresenta na caminhada do PT, de Lula, da esquerda. Como se opor à coalizão de direita que governa o país, com todas as contradições reais surgidas nas votações das reformas da Previdência e do pacote anticrime; nas decisões do STF; no posicionamento de parte da mídia de oposição ao caráter autoritário do bolsonarismo e seu fundamentalismo religioso, mas não às suas reformas ultraliberais e à renúncia à soberania nacional.

Não será fácil encontrar um caminho que combine e articule a luta democrática com a luta social e política pelas reformas estruturais mais do que necessárias para que qualquer governo de esquerda ou centro-esquerda retome o crescimento com distribuição de renda, soberania, e amplie nossa democracia, sem o que governar não vale a pena.

Frente Democrática de Esquerda ou Frente Democrática com o Centro, essa entidade abstrata e ao mesmo tempo real, que se opõe tanto a Bolsonaro quanto ao petismo e Lula, mas atrai, encanta e articula setores importantes da esquerda, sem juízo moral ou de valor.

Nas votações na Câmara dos Deputados e, em certa medida, no Senado, derrotamos parte importante das reformas da Previdência e do Código Penal graças à aliança com setores do chamado Centrão. Foi o protesto e a manifestação de parlamentares de vários partidos que impediu a transferência arbitrária de Lula, quando preso, da Polícia Federal de Curitiba para a prisão de Tremembé, em São Paulo. E assim, por meio de frentes, tem sido construída a oposição no Parlamento à Escola sem Partido, à censura, à repressão, às tentativas de governar por decreto-lei ou violar o caráter laico do Estado.

Na prática, temos, portanto, lutas comuns democráticas e algumas sociais e econômicas. Então, por que a polêmica que parece dividir a esquerda? No passado, fizemos a campanha das Diretas em aliança com o PFL e setores que apoiaram no passado a ditadura. Idem na Constituinte, onde só pela pressão popular e alianças amplas conquistamos a Constituição Cidadã.

Acredito que a questão central não está em fazer alianças mas, sim, em não se subordinar à direita e não renunciar ao nosso programa. Que, no caso do PT, passa por reformas estruturais, como a política, a bancária e a tributária; pelo resgate da soberania; e pela ampliação da democracia.

Se temos que compreender os limites de classe da direita que não abre mão das reformas ultraliberais, o mesmo vale para nós. Frente Democrática ou lutas comuns para defender e ampliar a democracia e as liberdades civis e políticas, sim, mas sem deixarmos de lado as reformas estruturais e a construção de uma Frente de Esquerda, garantia da nossa independência e força para aplicar nosso programa de governo.

O mesmo vale para a articulação e combinação da luta social com a política institucional, a organização do povo trabalhador para a luta social e a pressão nas ruas, como a direita fez entre 2015 e 2018. Não há contradição entre priorizar a luta nos bairros e periferias e a luta política.

Ao contrário, sem força popular organizada e consciente não avançaremos e seremos dependentes das forças de direita que buscam construir uma saída que eles apresentam como de centro, como se o problema do país fosse a “polarização” entre a esquerda e a direita, entre o bolsonarismo e o PT e Lula. A principal contradição brasileira é social, é a desigualdade e a concentração do poder, da renda, da riqueza e da propriedade.

A polarização é a arma da direita para estigmatizar e criminalizar não só o PT e a esquerda como a política e suas instituições, escondendo a verdadeira divisão de nosso Brasil, a vergonhosa e criminosa concentração de renda e a recusa e o abandono do pacto social e democrático de 1988, a renúncia à democracia, o apoio ao golpe parlamentar de 2016 e, agora, ao autoritarismo.

Para nós, o que conta é o povo como ator e agente político legítimo e majoritário, cujo apoio a centro-esquerda conquistou em quatro eleições presidenciais. Só reconquistando o apoio popular, que não fomos capazes de mobilizar, seremos vitoriosos e teremos condições reais de realizar as reformas adiadas.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?