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DF: servidores que preparam corpos de vítimas de Covid-19 estão sem testes

Eles são do Núcleo de Serviço Funerário e são responsáveis por vestir cadáveres de pessoas carentes, embalsamá-los e levá-los ao cemitério

atualizado

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HUGO BARRETO/METRÓPOLES
Enterro de vítima do coronavírus
1 de 1 Enterro de vítima do coronavírus - Foto: HUGO BARRETO/METRÓPOLES

Pelo menos 11 servidores públicos lotados no Núcleo de Serviços Funerários estão sem o diagnóstico em dia sobre possível infecção pelo novo coronavírus. Integrante da estrutura da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), a unidade é a responsável por realizar os serviços de remoções dos corpos, incluindo os das vítimas do Sars-Cov-2, após a família declarar não ter condições de arcar com os custos de um sepultamento.

O Metrópoles teve acesso a um documento encaminhado pela pasta à Secretaria de Saúde. O texto alerta sobre a falta de cobertura diagnóstica nesses trabalhadores durante o atual momento, tido como o pico da pandemia da Covid-19 no Distrito Federal.

De acordo com o ofício, os servidores adentram diariamente os necrotérios dos hospitais e do Instituto Médico Legal (IML-DF) na busca e preparo dos corpos para o último adeus de familiares e amigos.

É papel deles também vestir os falecidos, preparar as urnas mortuárias e levar os cadáveres para algum dos seis cemitérios existentes no DF. “Dessa forma, estão em constante contato com agentes infecciosos”, ressalta o documento.

Os servidores do Núcleo de Serviços Funerários também mantém relações diretas com os parentes dos mortos, muitos deles também infectados, estando em constante exposição ao novo vírus. Atualmente, uma lei distrital prevê a testagem para todo o funcionalismo que estiver atuando na linha de frente contra o novo coronavírus.

“Em situação de isolamento social, quarentena, situação de emergência e estado de calamidade pública, todos os servidores públicos, policiais militares, bombeiros militares, policiais civis e agentes de fiscalização que estejam em atividade e contato com possíveis portadores do agente infeccioso devem passar por testes diagnósticos que indiquem se eles estão infectados, a cada 15 dias ou com a freqüência que melhor atenda aos melhores critérios e padrões de biossegurança”, registra o texto da legislação.

Em nota enviada à coluna, a Secretaria de Saúde informou “que as unidades de saúde têm um cronograma de testagem dos profissionais que atuam na linha de frente. Os testes são realizados nos profissionais que apresentam sintomas, e tão logo seja confirmada a doença, o profissional é afastado e cumpre a quarentena de 14 dias”.

Já a Secretaria de Desenvolvimento Social não havia esclarecido os questionamentos da reportagem até a publicação deste texto. No entanto, em nota encaminhada ao Metrópoles no início da manhã desta quarta-feira (15/07), a pasta disse que, “em parceria com a Secretaria de Saúde, a Sedes realiza a testagem nos profissionais que estão nas unidades e que prestam os serviços socioassistenciais, além do atendimento clínico da unidade do Consultório na Rua, principalmente nas unidades de acolhimento”.

Ainda na nota, a Sedes cita a Lei nº6.554, que prevê a testagem a “cada 15 dias ou com a frequência que melhor atenda aos melhores critérios e padrões de biossegurança”. E ressalta que a lei específica não estabelece as condições clínicas em que o teste deve ser realizado, deixando em aberto a situação de servidores assintomáticos.

“A norma estabelece que os servidores deverão passar por teste que indique se há infecção, portanto, como o teste indica a infecção somente após o surgimento dos sintomas, seja para PCR (após 3 dias) seja para TR (após o7-8 dia), é recomendada a indicação dos testes para servidores que estejam em atividade e contato com possíveis portadores do agente infeccioso, obedecendo os critérios”, diz o documento.

A equipe do Núcleo de Serviços Funerários da Sedes é formada por 12 servidores e, segundo a pasta, um desses profissionais apresentou teste positivo para Covid-19, no início de julho, sendo afastado imediatamente, segundo a pasta.

Enterros sociais

Em meio ao crescimento no número de casos confirmados e com as medidas de restrição de circulação de pessoas nas ruas, os sepultamentos tradicionais também passaram a ser limitados a grupos muito restrito de pessoas nos seis cemitérios do Distrito Federal.

Antes da pandemia, não havia limite no número de pessoas que poderiam comparecer aos sepultamentos. Agora, quem precisa enterrar um familiar, reclama que apenas 10 parentes ou amigos são autorizados a participar das despedidas com caixões totalmente lacrados.

Além disso, a recomendação dos órgãos de saúde é para que amigos e familiares dos mortos usem máscaras durante os sepultamentos. E, apesar do momento tão difícil, que evitem contato físico e mantenham distância mínima de um metro da urna mortuária.

Exceção à regra, a Campo da Esperança Serviços Ltda., empresa que administra os cemitérios da capital da República, tem informado que quando a morte não envolve o novo coronavírus, o tempo de duração do velório está limitado a duas horas, além dos 30 minutos do cortejo tradicional.

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