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Volkswagen cooperou com a ditadura no Brasil, aponta historiador

Alemão Christopher Kopper indica que os próprios seguranças da empresa multinacional agiam como espiões

atualizado

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1 de 1 Volkswagen - Foto: Divulgação

Com o conhecimento de sua direção, a Volkswagen entregou à polícia, durante o regime militar no Brasil (1964-1985), nomes de seus funcionários. Enquanto isso, os próprios seguranças agiam como espiões dentro da empresa. Essas são algumas das conclusões preliminares que o historiador Christopher Kopper, contratado pela companhia alemã, faz sobre o passado da multinacional no país.

Em entrevista à reportagem, ele confirmou que a multinacional colaborou com os órgãos de repressão do país. Mais de 100 pessoas foram prejudicadas pela ação da empresa, seja por causa de tortura, seja simplesmente perdendo o emprego.

A Volkswagen era a primeira empresa a negociar uma reparação judicial por ter financiado ou participado da repressão à oposição política e ao movimento operário durante a ditadura militar no Brasil. Em 2016, Kopper foi chamado para realizar a investigação sobre a empresa e determinar se houve responsabilidade da cúpula da montadora.

O pesquisador constatou que a colaboração ocorria de forma “regular” e a cúpula sabia. “O departamento de segurança atuou como um braço da polícia política dentro da fábrica da Volkswagen”, contou Kopper, historiador da Universidade de Bielefeld, na Alemanha.

No fim de semana, jornais alemães como o Süddeutsche Zeitung e as emissoras NDR e SWR revelaram detalhes do papel da empresa no regime militar. De acordo com o investigador, que esteve nos arquivos da empresa e no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), seu informe contém 125 páginas de documentos mostrando justamente essa relação.

A Volkswagen não tem data para a publicação do documento, que deve ganhar traduções em português e inglês, além da versão em alemão.

“Encontrei informes dos seguranças da Volks nos arquivos do Dops. São informações de 1969, 1971, 1972 e também do final dos anos 1970”, relatou. “Na maioria das vezes, são informes sobre incidentes dentro das fábricas em São Bernardo do Campo.”

Um dos casos, segundo ele, revela como os seguranças privados da empresa encontraram materiais com conteúdo comunista nos banheiros da empresa. “Isso foi enviado ao Dops”, contou. “Podemos dizer que havia uma atividade de espionar os funcionários. Seus armários eram monitorados para ver se encontravam material subversivo.”

Outro caso foi o de um grupo de comunistas liderados por Anita Prestes, filha de Luis Carlos Prestes. Em 1972, 32 pessoas que pertenciam a esse grupo foram detidas. Para o historiador, a Volkswagen pode ter tido um papel importante nessa operação.

“Seis dos 32 detidos eram funcionários da empresa. Ao passar informações, os seguranças corporativos da empresa podem ter contribuído para a prisão”, afirmou. Os arquivos também revelam, segundo ele, que os seguranças privados da empresa estavam presentes ainda quando as forças de segurança do Estado fizeram detenções em locais da multinacional. “Eles autorizaram as prisões.”

Denúncias
De acordo com Kopper, listas circulavam pelo ABC paulista no início dos anos 1980 com o nome de funcionários que tinham sido demitidos por terem feito parte de greves em alguma das empresas da região. “Eram espécies de ‘listas negras’ e quem estava ali dificilmente encontrava emprego”, detalhou o historiador.

Segundo Kopper, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também aparece nos informes. Entre 1979 e 1980, documentos da Volkswagen enviados ao regime militar falavam sobre os discursos do petista como sindicalista. “Muitos daqueles que faziam parte do movimento sindical trabalhavam na empresa e seguiam a liderança de Lula”, disse. “Eventos como esses, portanto, eram relatados ao Dops”, afirmou o historiador alemão.

No Brasil, a Comissão Nacional da Verdade já havia apontado o envolvimento da Volkswagen na doação de 200 veículos aos militares.

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