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Vizinhos de atirador relatam agressão, mania de perseguição e arma

Euler Fernando Grandolpho, autor do massacre na Catedral de Campinas, morava com o pai em área nobre de Valinhos (SP)

atualizado

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1 de 1 Euler1 - Foto: Reprodução/Facebook

O atirador da Catedral Metropolitana de Campinas, Euler Fernando Grandolpho, vivia sozinho com o pai em uma confortável casa de três andares, em área nobre de Valinhos, protegida com segurança privada. Há pouco mais de dez anos, perdeu a mãe. Há dois, um irmão, vítima de leucemia. As informações são de O Globo.

Analista de sistemas, com passagens pelo colégio técnico da Unicamp e Unip, passou em um concurso do Ministério Público de São Paulo em 2009 e prestou serviços como auxiliar de promotoria lotado na área regional da capital, a partir de 2012. Pediu exoneração e voltou para casa apenas um ano e meio depois, em dezembro de 2014, por razões ainda não esclarecidas.

“Ainda estou em choque. Você não imagina a gravidade de estar ao lado de uma pessoa dessas”, diz um dos vizinhos, um executivo de 59 anos alvo das reações extremadas de Euler durante a convivência no condomínio de classe média alta.

O empresário chegou a chamar a polícia para o vizinho, que atirava ovos na parede, balde de óleo de cozinha aberto e cocô de cachorro na piscina do executivo. Para ele, sempre esteve claro que era uma pessoa com graves problemas de saúde, de natureza psicológica.

O condomínio fica em Valinhos, a 20 minutos de Campinas, no interior de São Paulo. O comportamento de Euler era acompanhado de ameaças ao filho do vizinho, na época adolescente, e a solução foi chamar a polícia e também registrar um Boletim de Ocorrência.

“Eles (os policiais) vieram aqui, perceberam que era séria a coisa. Euler tinha até arma em casa, eles levaram, mas ficou nisso. Desde então ele parou de ameaçar meu filho, tirou a gente do foco. Mas os sintomas continuaram”, conta o executivo, que pede para não ter o nome identificado em respeito à relação amistosa com a família do autor dos ataques desta terça na catedral de Campinas. O episódio relatado ocorreu há sete anos, segundo o vizinho.

A rotina mais visível de Euler era o passeio matinal diário com o seu cachorro, um pastor alemão, seu único amigo, segundo conhecidos. Implicava especialmente com adolescentes do bairro, que dizia terem papel preponderante na perseguição que habitava sua mente. “Ele falava que os meninos eram hackers, que invadiam o seu computador e atazanavam sua vida”, conta o empresário.

“Ele era o louco”
Outro vizinho, um rapaz de 19 anos, estudante de comércio exterior, relembra: “Sempre foi um cara muito estranho, fechado, na dele. Andava com o cachorro sem coleira, com um pau na mão. Pra gente, ele era o louco, né?”, conta o rapaz, que morava a três casas de Euler, na mesma rua.

O pai do estudante, Waldemar, de 52 anos, viu Euler sair de casa por volta de meio dia de ontem, cerca de uma hora antes da chacina, com mochila nas costas e um óculos no rosto. “Vi ele na portaria. O pessoal brinca com esse negócio de depressão, mas é uma coisa muito séria. Não falava um bom dia, boa tarde, era uma pessoa totalmente alheia à realidade”, contou.

Após a tragédia, moradores do bairro eram unânimes ao relatar o carinho que nutrem pelo pai do atirador, Éder Grandolpho, que agora perdeu o segundo filho, de forma trágica. Católico fervoroso, ministro da eucaristia em uma paróquia de Valinhos e organizador de encontros para rezar o terço em sua casa, pedia desculpas com freqüência pelo comportamento do filho.

Éder Grandolpho recebeu a polícia em casa nesta terça vestindo uma bermuda, camiseta de futebol da seleção da Itália e um pesado terço de prata no pescoço. Moradores do bairro que faziam caminhadas no fim de tarde olhavam curiosos para a movimentação na casa. Ele não quis falar. “Em razão das circunstâncias, não vou fazer nenhum comentário. Peço desculpas, mas vou pedir gentilmente para vocês também se retirarem”, falou.

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