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Veja dicas para não se complicar ao usar consignado do Auxílio Brasil

Medida sancionada pelo governo pode se transformar em uma espécie de armadilha para a população mais vulnerável

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
app do auxílio brasil no celular
1 de 1 app do auxílio brasil no celular - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A legislação que autoriza o empréstimo consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em 3 de agosto, pode agravar a situação econômica da população mais vulnerável do país, segundo especialistas. Comprometer parcela tão significativa da renda, no caso dos beneficiários, é um caminho rápido para o superendividamento.

A lei nº 14.431 surgiu de uma medida provisória aprovada pelo Congresso. Ela autoriza uma nova linha de crédito com o objetivo de beneficiar as famílias de baixa renda inscritas no programa do governo. A modalidade prevê desconto direto nas parcelas do auxílio recebido mensalmente.

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Mensalmente, o Ministério da Cidadania seleciona, de forma automatizada, as famílias que irão receber o benefício
A seleção é feita considerando os dados inseridos pelos órgãos responsáveis no Cadastro Único dos programas sociais do governo federal
O programa é destinado para famílias em situação de extrema pobreza
Famílias em situação de pobreza também poderão receber caso tenham, entre os membros, gestantes ou pessoas com idade até 21 anos incompletos
Famílias com renda per capita de até R$ 100 passarão a ser consideradas em situação de extrema pobreza, enquanto aquelas com renda per capita até R$ 200 serão consideradas em condição de pobreza
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Auxílio Brasil é o programa de distribuição de renda do governo Bolsonaro que substituiu o Bolsa Família

Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Mensalmente, o Ministério da Cidadania seleciona, de forma automatizada, as famílias que irão receber o benefício

Geraldo Magela/Agência Senado
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A seleção é feita considerando os dados inseridos pelos órgãos responsáveis no Cadastro Único dos programas sociais do governo federal

Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O programa é destinado para famílias em situação de extrema pobreza

JP Rodrigues/Metrópoles
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Famílias em situação de pobreza também poderão receber caso tenham, entre os membros, gestantes ou pessoas com idade até 21 anos incompletos

Reprodução/ Freepik
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Famílias com renda per capita de até R$ 100 passarão a ser consideradas em situação de extrema pobreza, enquanto aquelas com renda per capita até R$ 200 serão consideradas em condição de pobreza

Agência Brasil/Reprodução
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Beneficiários do Auxílio Brasil tiveram prejuízos com empréstimos, segundo a CGU

Aline Massuca/Metrópoles
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No entanto, no mês de dezembro, foi criado um "Benefício extraordinário" que fez a parcela chegar a R$ 400. O valor começará a ser pago a partir do dia 10

Hugo Barreto/Metrópoles
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Programa substitui o extinto Bolsa Família

Divulgação
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A Caixa será responsável por realizar a transferência de renda e pela disponibilização de canais para o atendimento de quem tenha dúvidas sobre o saque do benefício

Agência Brasil/Reprodução
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A consulta para saber se a parcela está disponível pode ser realizada pelo aplicativo Auxílio Brasil e CAIXA Tem

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
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ou ligando para o Atendimento Caixa Auxílio Brasil pelo telefone 111. Depois digite o seu CPF ou NIS

Raimundo Sampaio/ESP. METRÓPOLES

Foi estabelecido um limite de até 40% para o comprometimento dos ganhos mensais como crédito. Ou seja, quem recebe R$ 600, o mínimo que será pago pelo programa, pode retirar até R$ 240 da renda para o consignado, e sobram R$ 360 para as demais despesas. Os bancos, por outro lado, são livres para definir as taxas de juros.

Bradesco, Itaú, Santander, Nubank e BMG são algumas das instituições que já decidiram não oferecer o crédito. Em reunião na Febraban, na segunda-feira (8/8), o presidente Jair Bolsonaro fez um apelo para que os banqueiros concedam o crédito consignado aos beneficiários do programa de auxílio do governo.

Especialistas consultados pelo Metrópoles avaliam a medida como uma espécie de “armadilha” para a população vulnerável. A nova concessão impulsiona o risco de endividamento, a retroalimentação do sistema financeiro e um potencial aumento nos índices de fraude.

Na visão do economista Paulo Feldmann, da FIA Business School, a nova legislação é “condenável”. Ele sugere ainda que o limite de 40% é extremamente elevado, em especial para famílias em vulnerabilidade social, e chega a ser “cruel”.

“O limite é muito alto e na minha opinião é até cruel, pois só favorece os bancos e cria problemas sérios para as famílias mais vulneráveis”, frisa. Diante do contexto socioeconômico, é provável “que as famílias irão se endividar diante das dificuldades pelas quais estão passando”.

Órgãos de defesa do consumidor pedem veto de consignado a vulneráveis

Condições básicas de sobrevivência

Ainda no mês de julho, a Defensoria Pública da União (DPU) lançou uma nota técnica alertando para os problemas sociais e econômicos que a promulgação da lei pode causar.

O coordenador do Comitê Temático Especializado Renda Básica Cidadã da DPU, Ed Fuloni, ressalta que a mera possibilidade de financiamento, desvinculada de outras políticas públicas, não altera a situação econômica dos beneficiários, mas implica, a longo prazo, no aumento da pobreza.

“Sabemos que o valor de R$ 600 não compra uma cesta básica na maioria das capitais brasileiras. Com o empréstimo, o dinheiro vai entrar e sair, mas as dívidas permanecem” alerta. “Isso tanto não resolve o problema, como acaba criando outro”.

O endividamento e a inadimplência atingiram níveis recorde no mês de julho, conforme levantamento divulgado na segunda-feira (8/8), pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Após três meses em queda, o índice voltou a subir no mês passado e atingiu quase 8 em cada 10 famílias brasileiras, maior número registrado nos últimos 12 anos.

A condição extrema, chamada de superendividamento, corresponde à situação em que não é possível para o devedor pagar o que deve sem comprometer o valor mínimo necessário para a própria sobrevivência, conforme definição do Código de Defesa do Consumidor.

O contexto financeiro do país, marcado pelos altos índices inflacionários e pelo desemprego ainda elevado, sustenta a estimativa de que parte significativa da parcela de beneficiários vai optar por recorrer à alternativa de financiamento.

Retroalimentação do sistema financeiro

Considerando a faixa de renda da população brasileira que tem direito a receber o Auxílio Brasil, e o valor do salário mínimo ideal estabelecido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de R$ 6.527,67, o risco de superendividamento na faixa populacional é significativo.

O levantamento anual sobre o perfil do brasileiro endividado de 2021, realizado pela Serasa Experian, aponta que 48% dos brasileiros endividados que receberam auxílio emergencial gastaram a maior parte do montante recebido com alimentação básica, e 15% com o pagamento de dívidas. 

“A nossa preocupação é de que essa dívida seja mais vantajosa para o mercado financeiro do que para as famílias, diante da falta de limitação de juros em um momento de crise econômica”, aponta o defensor público Fuloni. “Quem tem fome, tem pressa. A limitação de taxas dos bancos poderia amenizar um pouco a situação que, como está posta, já é bastante preocupante”. 

Aumento de fraudes

Dados do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) revelam um aumento de 91% dos registros de reclamações no Portal do Consumidor e e de 172% na base de dados do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec) contra empréstimos consignados fraudulentos em 2021, em comparação com o ano anterior.

Especialistas do Idec e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), consultados pela DPU, sugerem que esse aumento ocorreu após a ampliação de 35% para 40% na margem de empréstimo consignado em benefícios previdenciários do INSS, em 2020.

“Existe um problema complexo e recorrente de fraudes em consignação de maneira geral. Esses golpes atingem, especialmente,  idosos e pessoas com pouco acesso à informação. Estamos colocando aproximadamente 20 milhões de pessoas nesse mercado — a nossa preocupação é que as pessoas fiquem especialmente vulneráveis a fraudes desse tipo”, pondera Fuloni.

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