Só uma mulher chegou ao nível mais alto da carreira militar no Brasil
Foi na Marinha. No Exército, que começou a admitir mulheres na academia em 2018, demorará ao menos 30 anos para uma delas virar general
atualizado
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Um. Este é o número de mulheres que conseguiu ascender ao nível de oficial-general – o mais alto na hierarquia das Forças Armadas Brasileiras – ao longo de toda a história. De acordo com dados obtidos pela Lupa via Lei de Acesso à Informação, Dalva Maria Carvalho Mendes, contra-almirante da Marinha desde 2012, é a primeira e única a virar oficial-general e hoje ocupa um dos 433 cargos que exigem do militar esse nível profissional. A Aeronáutica e o Exército do Brasil nunca tiveram mulheres entre seus oficiais-generais.
Dentro desse nível, cada uma das Forças Armadas tem quatro patentes e, a elas, é atribuído um determinado número estrelas. O almirante (na Marinha), o marechal (no Exército) e o marechal do ar (na Aeronáutica) têm cinco estrelas. São militares que necessariamente participaram de guerras. Quatro estrelas são dadas aos almirantes de esquadra, generais de exército e tenentes-brigadeiro. Três estrelas referem-se aos vice-almirantes, generais de divisão e generais-brigadeiro. Por fim, duas estrelas identificam contra-almirantes, generais de brigada e brigadeiros.
A contra-almirante Dalva Maria Carvalho Mendes é médica do corpo auxiliar da Marinha. Foi promovida em 2012, tornando-se a primeira mulher no generalato do país. As mulheres representam 8,7% do total de militares brasileiros. São 29.633 entre os 367,5 mil que servem às Forças Armadas.
A Marinha que deu à Dalva o grau de oficial-general também foi pioneira na admissão do sexo feminino em seus quadros. Em 1980, pela Lei n° 6.807, criou o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha, marco inicial da participação da mulher nas Forças Armadas Brasileiras. Hoje, elas representam 12,2% desta Força – com um total de 8.609 mulheres.
Em 2014, a Marinha admitiu a primeira turma de aspirantes femininas da Escola Naval. No entanto, foi apenas no ano passado, por meio do Memorando n° 1, de 10 de abril de 2017, que foi autorizada a participação de oficiais e praças femininas em atividades de aplicação efetiva do Poder Naval, como o embarque em navios e unidades de tropa. Até então, as mulheres que integravam a força só desempenhavam atividades auxiliares – e não as que tivessem ligação com as finalidades da Marinha, ou seja, com a “missão de zelar pela segurança do país, valendo-se do poder naval (o poder bélico da Marinha)”.
Na Aeronáutica, as mulheres representam 17,43% do efetivo total. São 11.550 mulheres e 66.228 homens na corporação, conforme a própria força. A primeira turma de mulheres aviadoras foi aberta em 2003. Desde então, a Força Aérea Brasileira tem pilotos mulheres nos mais diversos tipos de aviação militar, inclusive em seus caças.
Mas a mais alta patente ocupada por uma mulher na Aeronáutica é a de coronel – um nível abaixo dos oficiais-generais. Segundo a própria força, são oito coronéis mulheres. Todas elas fazem parte do quadro de saúde, sendo que quatro são comandantes de unidade.
A primeira delas foi a coronel Carla Lyrio Martins. Ela assumiu a direção da Casa Gerontológica de Aeronáutica Brigadeiro Eduardo Gomes (CGABEG), no Rio de Janeiro, em 2015. Em fevereiro de 2018, transmitiu seu cargo a outra militar, na primeira passagem de comando entre duas mulheres na Força Aérea.
De acordo com a Aeronáutica, as mulheres que hoje são coronéis podem chegar até o posto de major-brigadeiro médico, conforme “a avaliação de suas carreiras e o cumprimento dos interstícios regulamentares”.
Já o Exército Brasileiro levará pelo menos 30 anos para promover uma mulher a oficial-general. O ingresso feminino na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), que forma os oficiais combatentes do Exército, só foi permitido neste ano. Mas após a conclusão no curso de formação, são necessárias três décadas de carreira para um oficial chegar à patente de general.
Em 2017, ocorreu a primeira promoção de uma mulher ao posto de coronel no Exército. Assim como na FAB, esta é a mais alta patente conquistada por uma mulher. No Exército Brasileiro, as mulheres estão em menor número – representam só 4,5% da corporação.
Em nota, o Exército lembrou momentos da participação feminina em sua história, como a presença de Maria Quitéria, em 1823, na manutenção da Independência do Brasil, e a ida de enfermeiras brasileiras para a Segunda Guerra Mundial, em 1943. A força afirma que adequou suas instalações e contratou instrutores para uma formação adequada das mulheres na Aman, “não havendo, portanto, diferenças entre a carreira masculina e feminina”.
A Marinha não respondeu à Lupa.
*Por Clara Becker