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Em estudo inédito, 73% dos brasileiros apostam na fé contra o câncer

Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, a população tem bom conhecimento a respeito da doença, mas pouco faz para preveni-la

atualizado

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Câncer
1 de 1 Câncer - Foto: Istock

Enviada especial (RJ) – O brasileiro sabe como se prevenir do câncer, mas toma poucas atitudes em relação a isso. Aposta no poder da fé contra a doença e acredita em tratamentos alternativos. As conclusões são do estudo inédito “Panorama sobre Conhecimento, Hábitos e Estilo de Vida dos Brasileiros em relação ao Câncer”, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), apresentado nesta terça-feira (24/10) na abertura da I Semana Brasileira de Oncologia, no Rio de Janeiro. É a primeira vez que uma sociedade médica mapeia conhecimento, informação e hábitos de vida da população do país em relação à doença.

A SBOC ouviu 1,5 mil pessoas com mais de 18 anos nos 26 estados, além do Distrito Federal. Segundo o estudo, 4 em cada 10 brasileiros acreditam ter conhecimento mediano sobre a doença (nota entre 5 e 7 numa escala de 1 a 10) e apenas 26% dos entrevistados responderam que conhecem “profundamente” o câncer (nota entre 8 e 10). Os tumores de mama, próstata e pulmão foram os mais lembrados pelos voluntários.

Com relação às causas, o tabagismo aparece como principal fator de risco na percepção dos entrevistados (93%). No entanto, 21% dizem que fumar apenas ocasionalmente não aumenta o risco da doença, como se existisse uma “quantidade segura” de cigarros para consumir. Herança genética (84%) e exposição ao sol (83%) também foram citados como causas importantes da doença. Por outro lado, 27% dos brasileiros não relacionam sobrepeso a câncer e 26% não associam doenças sexualmente transmissíveis a tumores.

Chama atenção também o regionalismo das respostas. Em estados com forte atividade agropecuária, a relação entre agrotóxicos e câncer é mais lembrada do que em outros. “O que é ótimo e mostra um bom nível de informação, tendo em vista que o Brasil é o maior reciclador de embalagem vazia de agrotóxico do mundo”, disse o oncologista Cláudio Ferrari, diretor de comunicação da SBOC, na apresentação dos dados.

Outros sintomas importantes da doença em estágio precoce são desconhecidos de boa parte da população. Apenas 21% sabem que sangue nas fezes pode ser sinal de câncer, 22% têm conhecimento de que perda de peso fora de uma dieta também é indício, e 23% dariam importância a sangue na urina, enquanto 26% reconhecem que dor no estômago deve ser investigada. “Essa é a parte do copo meio vazio que descobrimos nessa pesquisa”, sublinhou Ferrari.

Crenças e terapias alternativas
De modo geral, os brasileiros são otimistas: 80% acreditam na cura da doença e reconhecem quimioterapia, radioterapia e cirurgia como as principais formas de tratamento. Um dado positivo, de acordo com Ferrari, é a quantidade de pessoas que apostam no poder da fé como ajuda nessa luta: 73% dos entrevistados.

“A fé é importantíssima no tratamento porque traz qualidade de vida. O indivíduo que tem esperança vai sofrer bem menos do que aquele que não acredita em nada. Os tratamentos alternativos podem até ser úteis no sentido de trazer essa esperança. Alguns hospitais, inclusive, têm agregado terapias interativas, como acupuntura e técnicas de relaxamento”, lembrou o presidente da instituição, Gustavo Fernandes.

Fernandes ainda fez uma ressalva quanto a esses tratamentos alternativos, apontados como positivos por 67% dos entrevistados. “O cuidado que se deve ter quando se coloca uma terapia como o reiki em um hospital que trata câncer é avisar que aquilo não tem comprovação científica nenhuma, embora possa trazer algum benefício de bem-estar”, afirmou.

Medo e prevenção
Outro aspecto abordado pelo estudo é o nível de temor do brasileiro em relação à doença. 21% dos entrevistados disseram ter “muito medo” de câncer, enquanto 22% têm uma relação de medo “médio” com relação ao diagnóstico. No entendimento da SBOC, no entanto, isso pouco impacta em atitudes de prevenção.

“O medo é um mau conselheiro. Ele motiva muito pouco exames e ações de prevenção”, afirmou Ferrari. Os números da pesquisa mostram que 24% dos brasileiros não fazem nenhum tipo de exame de rastreamento do câncer. Além disso, embora conheçam um pouco sobre atitudes que ajudariam a afastar a doença, não colocam em prática os hábitos saudáveis.

Por exemplo, 81% dizem que deveriam fazer atividade física, mas apenas a metade das pessoas praticam exercícios pelo menos uma vez na semana.

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