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Com crise hídrica e pandemia, casos de dengue caem 47% e de zika, 19%

Seca e medidas de restrição por causa da Covid-19 são alguns dos fatores que podem ter contribuído para a queda

atualizado

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Venilton Kuchler/ ANPr
Mobilização contra o mosquito da dengue
1 de 1 Mobilização contra o mosquito da dengue - Foto: Venilton Kuchler/ ANPr

Em 1986 e 1987, o Brasil viu ressurgir um inimigo que acreditava já ter deixado para trás: a dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. A partir de então, o país convive com epidemias frequentes da enfermidade.

O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, porém, traz informações positivas. Os adoecimentos pela doença diminuíram 47,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

Até setembro, dado mais recente, foram 477,2 mil ocorrências. No mesmo período de 2020, tinham sido registrados mais de 700 mil casos.

A redução pode estar acontecendo por uma série de fatores, como as medidas de restrição por causa da Covid-19, a conscientização da população para a mitigação de criadouros do mosquito, o impacto da crise hídrica ou o comportamento sazonal da doença.

As infecções por Zika vírus, outra doença provocada pelo Aedes, que causou uma epidemia entre 2015 e 2016, levando o Brasil para as manchetes internacionais, também caíram.

Nesse caso, os adoecimentos computados somam 5.361 até setembro de 2021. No ano passado, até o mesmo mês, foram 6,4 mil.

Panorama

Os estados que apresentam as maiores taxas de incidência de dengue no país são Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, segundo o Ministério da Saúde.

A incidência de zika é maior em Sergipe, Paraíba, Acre e Rio Grande do Norte, de acordo com dados do boletim epidemiológico.

Menos água, menos mosquitos

O infectologista Dalcy Albuquerque, médico da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), comemora os resultados, mas faz alertas.

“Pode ser por conscientização? Espero que sim. Trabalho com dengue há mais de 10 anos. Espero que a população tenha se conscientizado por passar mais tempo dentro de casa. O isolamento social fez as pessoas se cuidarem mais, evitarem acúmulo de água”, pondera.

Para o especialista, a estiagem também teve participação no resultado. “Tem um lado positivo e outro negativo. O lado bom para menos adoecimentos é que com menos acúmulo de água se produz menos criadouros, menos mosquitos e menos transmissão”, avalia.

Mas ele pondera: “O efeito negativo é que, após um período de estiagem, as pessoas acumulam mais água, ou seja, criam mais depósitos para aproveitar água da chuva e de caminhões-pipas. Com isso, podem gerar criadouros, que vão criar mosquitos”, explica.

Dalcy frisa que os anos de 2020 e 2021 não foram um período epidêmico para dengue, mas pede atenção nos próximos meses. “A temporada das doenças transmitidas pelo Aedes está começando agora. A epidemia de dengue tem seu pico entre outubro e abril”, adverte, ao frisar que o cuidado precisa ser mantido.

Notificação

O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), pondera outro fator que pode ter influenciado a baixa nos casos.

“Essa redução no número de casos de arboviroses [vírus transmitidos por insetos] é consequência, provavelmente, de uma subnotificação, por uma menor vigilância devido ao remanejamento de funcionários para o registro da Covid-19”, opina.

Guerra vencida

No Brasil, as primeiras epidemias de dengue foram registradas em São Paulo no fim do século 19. No Rio de Janeiro, o primeiro registro de dengue epidêmica ocorreu em 1923.

Entre essa data e os anos 1980, a doença foi praticamente eliminada do país, em virtude do combate ao Aedes aegypti, durante campanha de erradicação da febre amarela. Um nova infestação do mosquito ocorreu a partir de 1967. Na década de 1980, foram registrados novos casos de dengue.

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