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Câncer de próstata: inimigo que ameaça um a cada seis homens

Para Gildázio Lopes, de 73 anos, que teve a doença, realizou a cirurgia e hoje está curado, a prevenção é a maior amiga do homem

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Gildázio Lopes
1 de 1 Gildázio Lopes - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O mês de novembro foi totalmente dedicado à prevenção do câncer de próstata, com a campanha internacional Novembro Azul. Mas os números da doença indicam que os cuidados devem se estender por todo o ano. Afinal, são dados que assustam: um a cada seis homens terá câncer de próstata durante a vida e um a cada 36 morrerá.

Esse é o sexto tipo de câncer mais comum em todo o mundo e o segundo entre os homens – depois do câncer de pulmão. No Brasil, está em primeiro lugar entre o sexo masculino – excluídos os casos de pele não melanoma.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 2018 deve fechar com 68.220 novos casos da doença. E são cerca de 15 mil mortes por ano: uma a cada 35 minutos.

Esse é o típico “câncer da terceira idade”, pois 75% dos casos aparecem em pessoas com 65 anos ou mais. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser justificado pela evolução dos métodos de diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação e notificação, e pelo aumento na expectativa de vida. E justifica o alerta: a doença está aí e deve ser enfrentada.

Foi o que fez o mestre de obras Gildázio Souza Lopes, de 73 anos. Em 2014, aos 69, descobriu que portava a doença. “Na terceira vez que eu fiz o exame, a biópsia apontou que tinha alguma coisa errada. Mas estava bem no início”, contou. Ele atribuiu o diagnóstico precoce ao cuidado que sempre teve com a própria saúde – mantém uma rotina de exames anuais.

Em 2016, com muita luta, Gildázio conseguiu realizar a cirurgia de retirada do tumor. De lá para cá, ele diz que só tem comemorado, pois o câncer não voltou a aparecer. “Eu estou esbanjando saúde. Estou ótimo”, afirmou, animado. O mestre de obras voltou a trabalhar e não deixou de fazer as atividades normais do dia a dia enquanto encarava o tratamento.

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De acordo com o Inca, alguns desses tumores crescem de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A maioria, porém, desenvolve-se lentamente (leva cerca de 15 anos para atingir 1cm³) e não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem.

Os sintomas da doença são fáceis de detectar e requerem atenção. Geralmente, são estes:

  • Dificuldade de urinar;
  • Diminuição do jato de urina;
  • Necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite;
  • Sangue na urina.

Na maior parte das vezes, tais sintomas não são indicativos de que a pessoa tem câncer de próstata, mas não custa nada relatá-los a um médico.

Segundo Carlos Watanabe, médico-urologista da Aliança Instituto de Oncologia, existem alguns pacientes que são do grupo de risco – têm maior chance de desenvolver câncer de próstata. “São os pacientes com obesidade, pessoas com hábitos de vida não saudáveis, pacientes que têm síndrome metabólica e afrodescendentes. Eles estão sob maior risco, então precisam iniciar o acompanhamento a partir dos 45 anos. Também há o grupo dos que possuem parente de primeiro grau que já tenha sofrido dessa doença”, alerta o especialista.

Desinformação e preconceito
Quando diagnosticado precocemente e tratado logo no início, o câncer de próstata tem grandes chances de cura. Para que isso ocorra, é necessária a prevenção, com exames periódicos a partir dos 50 anos de idade. Mas a prevenção esbarra em dois entraves: desinformação e preconceito.

Afinal, um dos exames mais comuns e de maior eficácia para a detecção da doença é o toque retal, que, por ser invasivo, é rejeitado por boa parcela dos pacientes.

Gildázio afirma que o preconceito é uma das grandes dificuldades da prevenção da doença. “Muito homem [pensa]: ‘Ai, eu sou machista, não vou porque posso ficar com incontinência [urinária], sem relação sexual’. Não é bem assim. Eu prezo pela minha saúde. Fiz todos os procedimentos e deu tudo certo, não mudou nada”, argumentou.

“Até hoje eu percebo o preconceito. Na minha época, quando eu era jovem, era muito grande. Hoje diminuiu, eu creio, uns 20% ou 30% – já devia ter diminuído uns 80%, no mínimo, né? Então, eu acho que o preconceito ainda é grande”, lamentou o mestre de obras.

 

Embora muitos homens falem em incômodo com o exame, ele é indolor, rápido (dura aproximadamente 10 segundos), seguro e, naturalmente, não implica em qualquer risco à sexualidade de quem se submete a ele.

O exame é realizado pelo médico responsável com a introdução do dedo indicador, devidamente protegido por luva cirúrgica lubrificada, no ânus do paciente. Isso possibilita sentir o orifício e musculatura do ânus, a mucosa do reto e da parte final do intestino, além da região posterior da próstata. Dessa forma, é possível perceber qualquer alteração no tamanho, densidade e formato da glândula.

Outro procedimento, menos invasivo, é o que avalia os níveis da enzima PSA (Antígeno Prostático Específico), feito através de um simples exame laboratorial de sangue. Na maioria dos homens, os níveis dessa enzima ficam abaixo de 4 nanogramas por mililitro. Em caso de alteração dessas taxas, testes complementares devem ser realizados para confirmar (ou descartar) a existência do tumor.

“Ainda existe grande resistência, por parte dos homens, em cuidar da própria saúde, procurar urologista, atendimento médico. Acredito que seja uma grande barreira cultural. Temos vencido isso cada vez mais. O acesso à informação tem facilitado nosso trabalho, mas ainda existe uma certa dificuldade em trazer o homem para cuidar da própria saúde”, afirmou o urologista Carlos Watanabe.

Para desestimular a onda de preconceito em torno da prevenção contra o câncer de próstata, Gildázio deixou um recado:

Se cuidem. Se cuidem, porque eu tenho amigos que morreram de câncer de próstata. A 500 metros da minha casa, eu ouvia eles gritando. É triste. É doído você ver um amigo morrer nessa situação. E não é só amigo. Qualquer pessoa, mesmo que seja o meu inimigo, eu peço a ela que se cuide. É muito melhor prevenir do que remediar

Gildázio Souza Lopes, mestre de obras

Tratamento
O tratamento da doença, segundo o Inca, depende do estágio no qual ela se encontra. Se o tumor atingiu a próstata, mas não avançou para outros órgãos, são aconselhadas cirurgia, radioterapia e observação. Para a doença em fase avançada, radioterapia ou cirurgia com tratamento hormonal complementar são as alternativas. Para metástase (quando o tumor já se espalhou para outras partes do corpo), o tratamento mais indicado é a terapia hormonal.

“O câncer de próstata hoje em dia é um espectro. Tem diferentes tipos, graus de agressividade, e o tratamento é diferente [para cada caso]. Tem alguns pacientes que precisam apenas de acompanhamento e ver em que momento é necessária a intervenção”, disse o urologista Carlos Watanabe. “No paciente com estágio avançado, hoje em dia as técnicas evoluíram muito: tem a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. A taxa de cura na fase inicial chega a mais de 90%, ou seja, é uma alta taxa de sucesso”, concluiu.

Em seu portal na internet, o Inca lista fatores que podem aumentar o risco de o homem desenvolver câncer de próstata. São eles:

  • Idade: fator de risco importante, uma vez que tanto a incidência quanto a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos;
  • Histórico familiar: pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos, podendo refletir tanto fatores genéticos (hereditários) quanto hábitos alimentares ou estilo de vida de risco em algumas famílias;
  • Sobrepeso: excesso de gordura corporal aumenta o risco de câncer de próstata avançado;
  • Exposição a agentes externos: aminas aromáticas (comuns nas indústrias química, mecânica e de transformação de alumínio), arsênio (usado como conservante de madeira e como agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), fuligem e dioxinas estão associados ao câncer de próstata.

Hábitos saudáveis
Uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos, cereais integrais e com menos gorduras, principalmente as de origem animal, ajuda a diminuir chances de se desenvolver câncer. Outros hábitos saudáveis também são recomendados, como 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado, diminuir o consumo de álcool e não fumar.

Alimentar-se de maneira saudável é um dos fatores primordiais para a prevenção do câncer de próstata, afirma a nutricionista funcional e oncológica Michelle Mendes. Segundo a especialista, para ter uma alimentação balanceada durante o tratamento da doença, é necessário dar “prioridade para ‘alimentos de verdade’, evitando o excesso de industrializados, como bebidas açucaradas e produtos ricos em sódio, conservantes e corantes”.

A saúde brasileira determina a presença de nutricionistas em equipes de tratamento do câncer de próstata. É necessário que, para cada paciente, seja indicada uma dieta diferente. “Essas necessidades variam dependendo do tipo e localização do tumor, estado nutricional atual, se há doenças associadas ou não, alterações bioquímicas, efeitos do tratamento, entre outros fatores”, justifica Michelle.

Existem alguns alimentos que podem ajudar o paciente a superar os efeitos colaterais do tratamento – mas, como os efeitos são diferentes para cada pessoa, há indicações individuais. No caso de diarreia, Michelle orienta a ingestão de líquidos e alimentos mais constipantes. Para evitar a náusea, ela recomenda alimentos gelados.

Um dos nutrientes mais indicados para a prevenção do câncer de próstata é o licopeno, presente principalmente em alimentos de cor vermelha – como o tomate, tão consumido pela população

Michelle Mendes, nutricionista funcional e oncológica

Com base nessa afirmação, a especialista indica uma receita de molho de tomate funcional:

8 tomates maduros sem pele
1 cenoura pequena
1 beterraba pequena
2 colheres de sopa de azeite de oliva extravirgem
1 cebola grande picada
4 dentes de alho amassados
2 colheres de café de açafrão moído
Ervas a gosto: manjericão, orégano, cebolinha, salsinha
Sal a gosto

Modo de preparo: ferva os tomates até que fiquem com a pele soltando. Bata no liquidificador juntamente com a cenoura, a beterraba e um pouco da água do cozimento dos tomates. Na panela, refogue a cebola e o alho juntamente com o azeite. Acrescente o molho liquidificado e deixe ferver por cerca de 20 a 30 minutos. Enquanto o molho estiver no fogo, acrescente aos poucos o açafrão moído, as ervas e o sal a gosto. Espere esfriar e armazene em potes de vidro. Pode ser conservado na geladeira por uma semana ou três meses no congelador.

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