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Prisão choca colegas de pesquisador da Fiocruz, que creem em mal-entendido

Guilherme Franco Netto foi preso nesta quinta-feira no bojo da Operação Dardanários, que investiga desvios de recursos na área da saúde

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Guilherme Franco Netto, pesquisador da Fiocruz preso na Lava jato
1 de 1 Guilherme Franco Netto, pesquisador da Fiocruz preso na Lava jato - Foto: Reprodução

A prisão nesta quinta-feira (6/8) do pesquisador da Fiocruz Guilherme Franco Netto, dentro da Operação Dardanários, que investiga desvios de recursos da saúde e teve como alvo principal Alexandre Baldy, secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, deixou chocados e incrédulos seus colegas de trabalho. Não só na Fundação, mas também na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e na Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, locais onde Franco Netto já havia trabalhado. Quem conhece o pesquisador afirma que trata-se de uma pessoa honesta e que a prisão dele deve ser um mal-entendido.

Na Opas, onde atuou como consultor de Desenvolvimento Sustentável e Saúde Ambiental no México, entre 2006 e 2007, Franco Netto é bastante respeitado. “Ele é uma pessoa honesta, disso não tenho dúvidas”, disse ao Metrópoles um diretor da instituição, que tem sede em Washington (EUA).

Esse mesmo diretor, que prefere não ter a identidade revelada, relembra que o pesquisador estava há muito tempo afastado de cargos de gestão. De fato, Guilherme Franco Netto deixou a diretoria do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador da SVS em 2013.

Na Funasa, Franco Netto foi diretor da regional do Rio de Janeiro entre 1998 e 2000 e coordenador geral de Vigilância em Saúde Ambiental de 2001 a 2006. Na Fiocruz, onde entrou por concurso, ele é pesquisador na área de saúde, ambiente e sustentabilidade.

Não se encaixa

Franco Netto é acusado de ser o contato na Fiocruz no esquema de direcionamento de contratos. Mas como há muito não atuava em funções de gestor, o diretor da Opas não vê como ele poderia estar envolvido em esquemas de desvio de verbas públicas. “Deve ser um grande mal-entendido. Até aqui não consigo ver como Guilherme se encaixa nessa história”, ressaltou o diretor.

No Ministério da Saúde, a reação é igual. Como grande parte dos servidores está em trabalho remoto, devido à Covid-19, as impressões e repercussões do assunto do dia foram feitas, em sua maioria, por grupos virtuais. Alguns ex-companheiros do pesquisador creem que é um engano e que tudo logo será esclarecido.

Outros já veem uma “perseguição política” que contaria, inclusive, com a participação do “gabinete do ódio” que teria sido instalado no Palácio do Planalto. O alvo seria a própria Fiocruz. A instituição passará por uma eleição para escolher o sucessor da atual diretora Nísia Trindade Lima, que é ex-mulher de Guilherme Franco Netto.

Fato midiático

“Os ataques à Fiocruz estão em pleno andamento. Esse é um daqueles ‘fatos’ que buscam alcance midiático e que vêm com forma, tamanho, peso, cheiro e sabor todos endereçados ao objetivo de desgastar a imagem da Fiocruz”, acusa uma mensagem que circula por grupos de WhatsApp da Saúde, à qual o Metrópoles teve acesso.

“Para eles, o ataque fica dificultado em momento em que a capacidade técnica da Fundação é reconhecida e requisitada no desenvolvimento e fabricação de vacinas. Mas junto com esse tipo de ataque, há uma série de fake news que procuram apenas espalhar um clima de desconfiança”, reforça a mensagem.

“Guilherme estava na casa dele em Petrópolis, com os filhos. Reviraram a casa e nada acharam. Só no final, disseram que ele estava preso”, afirmou ao Metrópoles um diretor da SVS, também em off. “Acho que o que 100% das pessoas estão sentindo é estarrecimento, descrença de que Guilherme possa estar ligado a algo ilegal e rezando para que as coisas se esclareçam”, reforçou.

O professor Ildeberto Muniz, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ressalta que ficou “espantado” e que mais do que um ataque ao profissional Guilherme Franco Netto, sua prisão é um ataque à própria Fiocruz. “Vivemos um momento em que o negacionismo e os ataques à ciência e ao trabalho de cientistas se tornaram generalizados”, diz o professor.

“Vejo o que aconteceu ao Guilherme nesse sentido. Não há mais o respeito às pessoas, para que possam se defender, de saberem do que estão sendo acusadas. Fico preocupado de ver que profissionais com o histórico de contribuição importante no campo da saúde pública e na produção de conhecimento relacionada à sustentabiloidade e à defesa do meio ambiente, como o Dr. Guilherme, estejam sendo tratados dessa maneira”, completa Muniz.

Apuração interna

Em nota, a Fiocruz disse ter sido “surpreendida” com a prisão de Franco Netto. A instituição ressalta que é rigorosa em seus mecanismos de controle e transparência inerentes ao sistema de integridade pública e que abrirá processo interno para apuração dos fatos.

Leia a íntegra:

“A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi surpreendida na manhã desta quinta-feira (6/8) com a informação veiculada pela imprensa sobre a prisão do pesquisador Guilherme Franco Neto. A Fiocruz é rigorosa em seus mecanismos de controle e transparência inerentes ao sistema de integridade pública. O pesquisador Guilherme Franco é concursado e é um especialista de referência das áreas de saúde e ambiente, com extensa lista de contribuições à Fiocruz e à saúde pública. Diante das circunstâncias e como procedimento regulamentar, a instituição instaurou procedimento apuratório interno. A Fiocruz defende o princípio constitucional de presunção de inocência, tem convicção de que os fatos serão devidamente esclarecidos e está dando todo apoio necessário ao seu servidor, em contato direto com a família”.

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