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Presidente da OAB: “Interferência de Bolsonaro na PF já está caracterizada”

Segundo Felipe Santa Cruz, as denúncias de Moro teriam sido corroboradas por Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro

atualizado

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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz
1 de 1 O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, disse, em entrevista ao Metrópoles, acreditar que a interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal já está, em parte, caracterizada.

Para ele, as provas apresentadas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, agora corroboradas com as revelações trazidas a público pelo empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio, o filho senador do presidente, apontam as intenções de Bolsonaro de “aparelhar a PF” em proveito próprio e da família.

“A interferência indevida na Polícia Federal já está, em parte, caracterizada. A prova que o Moro fez da influência direta, o presidente dizendo assim: 10 a 12  deputados do PSL vão responder a inquérito na PF do Rio, e o presidente aponta que ali está o motivo para a retirar o superintende. Acho que houve interferência”, avaliou.

Agora, com as novas denúncias, que revelam um suposto adiamento de uma operação contra a família em função do segundo turno das eleições de 2018, fica destacado como a corporação, se aparelhada, pode servir a interesses políticos. “Esses são fatos graves, anteriores ao mandato, isso tem que ser dito, mas que configuram, se provados todos, um estado de coisas muito preocupante.  A Polícia Federal não pode ser aparelhada pelo presidente”, afirmou.

Elementos para impeachment

Na semana passada, a OAB começou um estudo sobre as denúncias feitas por Moro e a possível configuração de crimes de responsabilidade por parte do presidente da República. Foram enviados, ao ex-ministro e ao presidente, ofícios para que eles se manifestem sobre as acusações. Moro já respondeu. No âmbito dessa mesma comissão, a OAB solicitou, também, do ministro Celso de Mello, que é responsável no STF pelo inquérito das denúncias, o compartilhamento de informações sobre a investigação.

Felipe Santa Cruz, no entanto, preferiu não opinar sobre um possível apoio da entidade ao afastamento do presidente. Tanto no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello quanto de Dilma Rousseff, o apoio da ordem foi essencial ao processo.

“É uma decisão que não me cabe, é uma decisão coletiva. Eu tenho defendido também que esse não é o momento para essa discussão. Acho que agora cobramos do Jair Bolsonaro que ele governe e cuide dos enormes danos causados pela pandemia“, ponderou.

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Sergio Moro

Em uma análise macro, Felipe Santa Cruz considerou que a entrada de Sergio Moro no governo de Jair Bolsonaro causou prejuízos no combate à corrupção. Isso porque, na sua avaliação, o atual presidente não tinha histórico de luta nesse sentido. “Muito ao contrário. Bolsonaro é um apologista do regime militar, onde a corrupção no Brasil correu solta”, disparou

Ao tirar o juiz de Curitiba, avalia Santa Cruz, boa parte do aparato da Operação Lava Jato foi desarticulado. “É uma erosão para o patrimônio da Lava Jato, do combate à corrupção. Ele [Moro] atrelou a imagem desse patrimônios ao governo Jair Bolsonaro”, apontou. “Acho que o ministro errou”, prosseguiu.

A saída de Moro, que veio junto a uma série de acusações graves contra o presidente, como a busca por “relatórios de inteligência” da Polícia Federal, avalia o jurista, aumentaram o termômetro político, dada a imagem que o ex-juiz construiu na sua carreira. “As pesquisas mostram que a maior parte da população brasileira acredita no que o ex-ministro está falando”, completou.

Repúdio

Sobre a escalada de conflitos protagonizada pelo presidente ao longo das últimas semanas, Felipe Santa Cruz avaliou tratar-se de uma estratégia de Bolsonaro em meio aos dados ruins tanto da economia quanto da reação do seu governo às consequências do coronavírus. “O presidente se alimenta desse debate público”, afirmou.

Para ele, o atual momento demanda mais do que cartas de repúdio escritas por lideranças políticas e sociais. “Menos nota de repúdio e mais ação”, pregou. “Para nós, mais importante que nota de repúdio é que a gente comece a ter decisões efetivas, e acho que isso o Judiciário vem dando, dentro do possível”, considerou.

Cristianismo

No primeiro ano do governo, Bolsonaro disparou contra o pai de Felipe Santa Cruz, desaparecido na época do regime militar. O jurista, porém, diz não guardar rancores e dissocia as suas críticas ao governo do ataque recebido.

“Eu não guardo mágoas porque minha vida sempre foi muito difícil. Eu perdi meu pai com dois anos de idade. Só estranho esse lado pouco cristão dele [Bolsonaro]. Ele se elegeu dizendo ser um cristão e parte do tempo dele ele ganha ofendendo as pessoas, atacando jornalistas, fazendo atos que são, por natureza, anti-cristãos”, concluiu.

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