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Em dia de derrota para o Planalto, Previdência vira saco de pancada

Paulo Guedes é emparedado pela oposição, reage e audiência na Câmara sobre reforma acaba em tumulto. No Senado, passou Orçamento Impositivo

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Guedes CCJ 7
1 de 1 Guedes CCJ 7 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

“Que dia para esquecer!” A expressão certamente ecoará por muito tempo nos corredores e salas do Palácio do Planalto. De fato, se colocar na balança, essa quarta-feira (3/4) foi de muito mais perdas do que ganhos para o presidente Jair Bolsonaro (PSL).

No Senado, houve a aprovação da PEC do Orçamento Impositivo, que obrigará o governo a executar as despesas determinadas pelo Congresso Nacional. Na Câmara, a oposição se uniu e pôs o ministro da Economia, Paulo Guedes, no paredão. O projeto de reforma da Previdência virou saco de pancada. Irritado, nervoso e reativo, o ministro perdeu de vez a fleuma quando foi chamado de “tchutchuca da classe privilegiada”.

A ausência da tropa de choque do governo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deixou Guedes vulnerável. O ministro, que foi explicar aos parlamentares os pontos da reforma da Previdência, chegou acompanhado do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que ficou a seu lado durante boa parte da sessão, mas, na véspera, sentindo o termômetro da reunião dessa quarta, já avisava: “Não vou levar Maracugina pra ele [Guedes] não“.

A verdade é que Guedes esteve praticamente sozinho. Foi sentida a ausência da líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), chegou no início da noite; e o líder do Governo na Câmara, Major Vitor Hugo (GO), falou no início do segundo bloco de perguntas, elogiando a postura do ministro.

No início da noite, alguns governistas se juntaram no resgate do ministro. O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) tomou a frente para desfazer o mal-estar. “O senhor tem apoiadores aqui dentro desta Casa. O senhor tem apoiadores e a reforma previdenciária tem apoiadores. Temos aqui diversos parlamentares que apoiam a reforma desde o início desta CCJ”, disse.

No ambiente parcialmente hostil, Guedes foi confrontado com a falta de defesa explícita por parte do presidente Jair Bolsonaro dos pontos propostos pela reforma. O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) chegou a dizer que o presidente tinha “vergonha” da versão apresentada.

Ao responder, Guedes reagiu dizendo que fez o seu trabalho, mas sem tentar desfazer a ideia de falta de compromisso do presidente com a proposta. “A turma da Previdência fez sua missão, e não foi fácil. Nós conversamos seriamente, eles são patriotas. Eles querem ajudar”, destacou Guedes.

Se o presidente não quer apoiar, a reforma não vai passar. O povo votou no presidente, o presidente não apoia a reforma, a reforma não vai passar. Vocês são os senhores deste processo

Paulo Guedes, ministro da Economia

“O meu papel é muito pequenininho. O leque de escolhas está todo na frente de vocês. Se a reforma for forte, é possível pensar em um futuro para os filhos. Se a reforma for fraca, virou uma reforma tipo essas que foram aprovadas. Daqui a três anos, vocês estarão reunidos de novo. Eu não, mas vocês estarão reunidos de novo”, disse Guedes referindo-se aos deputados.

As amenidades foram, pouco a pouco, dando lugar a provocações. Guedes não demorou a perder a paciência com os parlamentares, principalmente da oposição, e partiu para o bate-boca. O ministro praticamente jogou no colo do Parlamento a culpa pelo atual quadro de déficit previdenciário.

De dedo em riste e sem tratar os deputados por “Vossa Excelência”, exaltou-se ao ser interrompido: “Vocês estão há quatro mandatos, há 18 anos no poder. Por que não botaram imposto sobre dividendo? Por que deram benefício para bilionário? Por que é que deram dinheiro para a JBS? Por quê?”, disparou, irritado. “Vocês estiveram no governo. Vocês foram governo. Nós estamos há três meses. Vocês estiveram 18 anos no poder e não tiveram coragem de mudar”, atacou.

Daniel Ferreira/Metrópoles
Sem a presença da tropa de choque do governo, Paulo Guedes ficou vulnerável aos ataques da oposição

 

Mais calmo, ainda tentou contemporizar. “Não levo mágoa nenhuma. Sei que vocês estão representando um papel importante. Os eleitores de vocês estão olhando, vendo a defesa feroz”, disse, antes de explicar que, por estar “há seis horas bebendo água”, precisava fazer xixi. “Eu preciso dar um pulo no banheiro. Mas eu volto. Parada para os comerciais.”

Tigrão, tchutchuca e confusão
Na volta do WC, porém, o cenário piorou. O ministro foi provocado pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR). “O senhor é ‘tigrão’ quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de necessidades. É ‘tigrão’ quando é com os agricultores e com os professores, mas é ‘tchutchuca’ quando mexe com a turma mais privilegiada.”

Guedes reagiu, contundente: “Vossa Excelência não falte com o respeito comigo. ‘Tchutchuca’ é a mãe, é a avó, é a sua família. Eu respeito quem me respeita”. O presidente da comissão, deputado Felipe Francischini (PSL-PR), pediu para que os dois retirassem suas palavras. Sem sucesso no apaziguamento, encerrou a sessão.

A confusão, porém, prosseguiu, generalizada, com insultos, deputadas se dizendo agredidas e o ministro saindo da CCJ escoltado por assessores e seguranças.

Após encerrar a audiência, o presidente da CCJ assegurou ao Metrópoles que não vai chamar Guedes novamente à comissão depois da confusão dessa quarta. Segundo ele, “o objetivo foi atingido. Guedes respondeu a mais de 30 perguntas e, se voltar agora, será para ser agredido”.

Resultado da quarta desastrosa: uma oposição revigorada, um governo sem base e um projeto de reforma previdenciária que apanhou bastante. Será preciso bastante esforço do Planalto para colocá-la em forma novamente.

Veja vídeos da quarta-feira de Paulo Guedes na CCJ:


 

Não fosse o bastante, no Senado, a Proposta de Emenda Constitucional n° 34/2019, batizada de PEC do Orçamento Impositivo, passou por 59 votos a favor e 5 contra. Na prática, isso significa que, se a Câmara também validar o que foi determinado pela Casa – senadores e deputados já fizeram um acordo para que isso ocorra –, o governo Jair Bolsonaro (PSL) será obrigado a executar as despesas determinadas pelo Congresso Nacional.

A PEC limita o poder de investimento do Executivo federal, ao forçá-lo a executar as emendas parlamentares e, assim, pode até mesmo comprometer o teto de gastos da União.

A decisão de impor a execução das emendas de bancada foi tomada pelos parlamentares depois de o Ministério da Economia anunciar um corte de R$ 29,8 bilhões no Orçamento de 2019. Assim, tanto o Senado quanto a Câmara deram uma resposta às determinações do atual governo: se depender do Congresso, a vida do Executivo federal não será fácil.

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