O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a questionar, nesta quarta-feira (12/1), a eficácia da vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Em mais um episódio de embate com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autarquia federal que autorizou a aplicação do imunizante no público infantil, Bolsonaro disse que a administração do fármaco em crianças é uma “incógnita” e cobrou a agência sobre o “antídoto” para possíveis efeitos colaterais.
“A Anvisa não disse qual o antídoto para possíveis efeitos colaterais”, declarou o mandatário em entrevista concedida na manhã desta quarta à Gazeta Brasil. “É uma incógnita muito grande ainda isso tudo que está acontecendo no Brasil.”
Especialistas afirmam que os benefícios da aplicação do imunizante em crianças — já realizada em diversos países do mundo — superam os riscos. Segundo a equipe técnica da Anvisa, as informações avaliadas indicam que a vacina da Pfizer é segura e eficaz para o público infantil.
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Entre as crianças, a faixa etária mais afetada pela doença foi a de 5 anos, com 65 mortes registradas. Em seguida, consta a idade de 6 anos, na qual houve 47 casos notificados; já em terceiro lugar, há um empate na quantidade de óbitos registrados em meninos e meninas com 7 e 11 anos, ambas as idades com 46 ocorrências cada. Crianças de 10 anos totalizaram 43 óbitos; as de 9, 40; e as de 8, 37 mortes.
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A Anvisa aprovou, em 16 de dezembro, a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Para isso, será usada uma versão pediátrica da vacina, denominada Comirnaty
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A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anos
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A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de imunização e também por pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para receberem a aplicação do fármaco
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Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no Brasil
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Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de mortes, há milhares de hospitalizações
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De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenos
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Contudo, desde o aval para a aplicação da vacina em crianças, a Anvisa vem sofrendo críticas de Bolsonaro, de apoiadores do presidente e de grupos antivacina
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Para discutir imunização infantil, o Ministério da Saúde abriu consulta pública e anunciou que a vacinação pediátrica teria início em 14 de janeiro. Além disso, a apresentação de prescrição médica não será obrigatória
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Inicialmente, a intenção do governo era exigir prescrição. No entanto, após a audiência pública realizada com médicos e pesquisadores, o ministério decidiu recuar
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De acordo com a pasta, o imunizante usado será o da farmacêutica Pfizer e o intervalo sugerido entre cada dose será de oito semanas. Caso o menor não esteja acompanhado dos pais, ele deverá apresentar termo por escrito assinado pelo responsável
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Além disso, apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacina
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Segundo dados da Pfizer, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose da vacina apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% os eventos tinham relação com o imunizante. Nenhum deles foi grave
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Países como Israel, Chile, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina e Cuba, e a própria União Europeia, por exemplo, são alguns dos locais que autorizaram a vacinação contra a Covid-19 em crianças
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Nos Estados Unidos, a imunização infantil teve início em 3 de novembro. Até o momento, mais de 5 milhões de crianças já receberam a vacina contra Covid-19. Nenhuma morte foi registrada e eventos adversos graves foram raros
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A decisão do Ministério da Saúde de prolongar o intervalo das doses do imunizante contraria a orientação da Anvisa, que defende uma pausa de três semanas entre uma aplicação e outra para crianças de 5 a 11 anos
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O diretor-presidente da Anvisa reagiu, no último sábado (8/1), à insinuação do presidente e fez um duro pedido de retratação ou de investigação, caso haja indícios de corrupção. “Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente”, disse.
Na segunda (10/1), Bolsonaro amenizou: “Não quero aqui acusar a Anvisa de absolutamente nada. Eu escolhi o Barra Torres, que ganhou luz própria. Espero que ele acerte na Anvisa. Não precisava agir daquela maneira. Ele fez uma nota agressiva”, lamentou o presidente durante a entrevista.
Segundo o Ministério da Saúde, em janeiro, o país receberá 4,3 milhões de doses; em fevereiro, outras 7,2 milhões. Por fim, em março, será entregue o maior volume: 8,4 milhões.
Ao todo, de acordo com o planejamento do Ministério da Saúde, foram encomendadas mais de 20 milhões de vacinas pediátricas da Pfizer para esta etapa da imunização.