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Bolsonaro ao então ministro Moro: “Tenha dignidade para se demitir”

Polícia Federal incluiu no relatório entregue ao STF uma troca de mensagens inédita, por telefone, entre o presidente e o titular da Justiça

atualizado

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Andre Borges/Esp. Metrópoles
Moro e Jair Bolsonaro
1 de 1 Moro e Jair Bolsonaro - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

A Polícia Federal incluiu no relatório entregue ao Supremo Tribunal federal (STF) uma troca de mensagens inédita, por telefone, entre o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e o então ministro da Justiça Sergio Moro na qual o presidente diz que os ministros que contrariam o presidente devem se demitir, sugerindo que era o caso do ex-juiz federal. O documento foi enviado nesta quarta-feira (2/8). As informações são do colunista Rubens Valente, do portal UOl.

A análise foi feita a partir das conversas trocadas entre o chefe do governo e Moro durante o mês de abril, do dia 12 ao 23. Elas foram entregues pelo ex-ministro à Polícia Federal no inquérito que apura suposta intervenção indevida de Bolsonaro na cúpula da PF.

De acordo com o relatório da Polícia Federal, na tarde do dia 12 de abril Bolsonaro encaminhou para Moro a cópia de uma reportagem publicada pelo pelo jornal Valor Econômico, na qual o então ministro aparece dizendo que a polícia poderia impor coercitivamente medidas de isolamento social e quarentena na crise do novo coronavírus.

Então a reação do presidente da República teria sido furiosa e ameaçadora. “Se esta matéria for verdadeira, todos os ministros, caso queira [sic] contrariar o PR [presidente da República], pode fazê-lo, mas tenha dignidade para se demitir. Aberto para a imprensa”. Moro respondeu que “o que existe é o artigo 268 do CP [Código Penal]. Não falei com a imprensa”.

Moro havia dito, no dia 6 de abril, a mesma coisa publicamente, durante videoconferência de uma corretora de valores.

“A lei [relativa ao novo coronavírus] não foi muito clara quanto ao descumprimento da quarentena. Mas a polícia pode impor coercitivamente essas medidas. Já vi polícia pedindo decisão judicial para agir, mas a Justiça não tem condições de atender a essa demanda”.

Na parte das “considerações finais” do relatório, o agente da PF que analisou as mensagens apontou que o então diretor-geral do órgão, Maurício Valeixo, foi exonerado do cargo a partir de determinação de Bolsonaro.

“Em relação às conversas entre o ex-ministro Sergio Moro e o Exmo. sr. presidente da República Jair Bolsonaro, observa-se que a determinação emanada por este último no dia 22/04/2020 àquele se concretizou, tendo o Delegado de Polícia Federal Maurício Valeixo sido exonerado do cargo de Diretor-Geral da PF”.

Carla Zambelli

Também foram analisadas as mensagem e celular trocadas entre a deputada Carla Zambelli e o ex-ministro.

“O presente trabalho tem o objetivo de apresentar os resultados relacionados com supostas práticas do presidente da República em relação à gestão da Polícia Federal, em especial no que tange à sua participação direta na exoneração e substituição do diretor-geral do órgão”.

O relatório também menciona uma segunda mensagem relacionada à crise do novo coronavírus, mas ela não foi transcrita no documento.

“Em sua totalidade, a conversa entre ambos [Moro e Bolsonaro] se restringe a assuntos afetos à gestão pública, discutindo sobre decisões a serem tomadas na esfera internacional, como por exemplo a atitude de prorrogar ou não o decreto de fechamento da fronteira com o Uruguai durante a crise do coronavírus (proibição de entrada de uruguaios em território brasileiro). Não há registros de conversas afetas à vida pessoal”.

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