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Análise: boquirrotos, Carlos e Olavo corroem o governo Bolsonaro

Filho do presidente e escritor direitista agem como “subversivos” contra os militares que resistem às suas ideias

atualizado

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Divulgação/Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Carlos Bolsonaro
1 de 1 Carlos Bolsonaro - Foto: Divulgação/Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Se depender do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e do escritor Olavo de Carvalho, o governo federal atravessará os quatro anos em tensão máxima. Eles veem inimigos por toda parte e disparam impropérios contra quem lhes parece atrapalhar os planos.

Mas nem se sabe que planos são esses. A se julgar pelas postagens no Twitter, onde se manifestam, o filho do presidente Jair Bolsonaro e o ideólogo direitista dão a impressão de que querem destruir o governo.

Boquirrota, a dupla aposta no confronto. Nos últimos dias, Carlos (foto em destaque) usou sua verborragia para atacar o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB). Foram cerca de 10 postagens com ironias e questionamentos em relação ao comportamento do general que formou com Jair Bolsonaro a chapa vencedora na última eleição presidencial.

Nas mensagens, o vereador recorre a frases pretensamente enigmáticas para descarregar sua raiva contra o vice. Faz referência, por exemplo, a um suposto “alinhamento” do general com “políticos que detestam o presidente”.

O medo de uma traição de Mourão fica evidente nas publicações de Carlos. Em uma delas, o vereador retuitou uma especulação de que o vice estaria “com ambição presidencial”, ou seja, gostaria de substituir o capitão no Palácio do Planalto.

No enfrentamento com supostos inimigos, o vereador segue a mesma linha destrutiva de Olavo de Carvalho (foto abaixo). O ideólogo direitista com frequência destrata não apenas Mourão. Da Virgínia (EUA), onde vive, ele dispara tuítes contra os generais no governo.

Reprodução/Facebook

Não por acaso, desde o início da atual gestão federal, os militares se revelaram o principal obstáculo para a implantação das ideias dos seguidores de Carvalho. Essa resistência ficou ainda mais evidente no Ministério da Educação, mas também se dá no combate às formulações esdrúxulas do chanceler Ernesto Araújo para a política externa brasileira.

“Sistema”
Tanto Carvalho quanto Carlos apostam na estratégia de esculacho contra uma tal “política cultural” que seria predominante no país. Nessa direção, pregam uma espécie de sublevação contra o que chamam de “sistema”. Ironicamente, trata-se da mesma palavra usada nos anos 1960 pelo movimento hippie para nomear a estrutura política que combatiam.

Importante ressaltar o completo antagonismo entre o movimento que, no passado, levantou jovens de todo o mundo na defesa das liberdades e a tentativa dos seguidores de Bolsonaro de aniquilar quem pensa diferente. Na falta de palavra mais original, eles recorreram à terminologia dos hippies.

Nesse mesmo sentido, então, pode-se inverter o viés ideológico de outro termo icônico dos anos 1960 e 1970 no Brasil. Pela insurgência contra o núcleo militar do governo, Carlos e Carvalho se comportam como “subversivos”.

Em sua exata acepção, essa palavra se aplica às pessoas que se posicionam contrariamente à ordem estabelecida. Durante a ditadura, os militares a usavam para designar os esquerdistas que resistiam ao poder fardado. Agora, curiosamente, expressa com precisão a postura dos direitistas que se insurgem contra os militares do governo Bolsonaro.

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