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Análise: Bolsonaro aposta no populismo e apoia manifestação do “Dia B”

Presidente estimula ato em defesa do governo marcado para 26 de maio, tenta pressionar o Congresso Nacional e flerta com autoritarismo

atualizado

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Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
Brasília (DF), 12/03/2019 Cerimônia Oficial de Chegada do Presidente da República do Paraguai, Senhor Mario Abdo BenítezPalácio do Planalto Local:  Palacio do Planalto
1 de 1 Brasília (DF), 12/03/2019 Cerimônia Oficial de Chegada do Presidente da República do Paraguai, Senhor Mario Abdo BenítezPalácio do Planalto Local: Palacio do Planalto - Foto: Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

À medida que os dias passam, fica mais clara a estratégia traçada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para tentar mudar a legislação do país e implantar suas ideias no governo. Avesso às negociações com o Congresso, ele conta com o apoio da faixa mais radical dos eleitores que o escolheram para o Palácio do Planalto.

Pelo visto até agora, pode-se dizer que Bolsonaro optou pelo caminho do populismo para tentar contornar as resistências do Congresso às suas propostas. Sem sintonia com os parlamentares, ele busca um atalho fora das amarras do Legislativo.

Nessa segunda-feira (20/05/2019), o presidente acenou na direção da plateia ao fazer uma referência positiva à manifestação em favor do governo marcada para o próximo domingo (26/05/2019). “Nesse movimento espontâneo previsto para o dia 26, [os manifestantes] querem agilidade”, afirmou o presidente durante discurso na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

A decisão de realizar a manifestação dividiu os apoiadores do Planalto. Aliada de peso, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), por exemplo, critica a convocação do ato e entrou em atrito com o partido em decorrência dessa iniciativa.

Os defensores das manifestações tratam o próximo domingo com uma espécie de “Dia B” de Bolsonaro. Confiam no sucesso da mobilização para dar suporte ao governo no embate com o Congresso. Dirigem as críticas, sobretudo, ao Centrão, ala de deputados e senadores que constitui maioria nos plenários e exige vantagens para votar os projetos.

Nesse rumo, o “movimento espontâneo” estimulado por Bolsonaro tem a pretensão de pressionar o Parlamento pela aprovação das propostas do governo. No primeiro momento, foca no pacote anticrime e nas reformas administrativa e da Previdência. Em seguida, se a estratégia funcionar, pauta os projetos conservadores.

O presidente demonstra disposição de enfrentar o Congresso desde a semana passada. Na sexta-feira (17/05/2019), ele distribuiu nas redes sociais o texto de um internauta com impressões sobre a política brasileira e a afirmação de que o país é “ingovernável” sem “conchavos” no Legislativo.

Ao jogar parte população contra o Parlamento, o presidente procura criar condições para impor sua agenda ao país, sem intermediação dos políticos. Sob a ótica da democracia, essa é uma postura temerária.

No regime republicano, os Três Poderes devem manter convivência harmônica e equipotente. Esse mecanismo estabelece freios e contrafreios destinados a regular o funcionamento do Estado e coibir eventuais excessos das autoridades constituídas.

Quando recorre ao contato direto com a população para suplantar o Legislativo, o chefe do Executivo atua contra os pilares da democracia reforçados pela Constituição de 1988. Confronta-se com a autonomia do Parlamento e sobe um degrau na direção do autoritarismo.

Dois cenários para o “Dia B”
Caso os organizadores confirmem a manifestação de domingo (26/05/2019), pode-se imaginar dois cenários. Em um deles, os apoiadores de Bolsonaro lotarão as ruas de centenas de cidades, darão fôlego para seus instintos arbitrários e aumentarão a polarização política no país.

Em outra perspectiva, o “Dia B” fracassará e o presidente ficará ainda mais isolado. Nenhuma das duas hipóteses parece razoável para o Brasil retomar o rumo da tranquilidade política, necessária para a construção de acordos que unam a população.

Se a opção for pela radicalização, certamente a solução para os problemas econômicos e sociais estará mais distante. Nesse caso, como sempre, os mais fracos serão os primeiros prejudicados.

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