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Atrás do voto dos ruralistas, Alckmin endurece discurso e estratégias

O candidato à Presidência quer atrair um dos setores mais fortes da economia brasileira e, para isso, intensificou posicionamentos e medidas

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Michel Melo/Metrópoles
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1 de 1 144339df-ee16-4f46-bd93-223369b05734 - Foto: Michel Melo/Metrópoles

O agronegócio sempre foi determinante para a economia do Brasil e, com a recente crise, sua importância aumentou ainda mais. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o setor contribuiu com 70% do Produto Interno Bruto do ano passado. Os números mostram também um crescimento de 13% da atividade no país em 2017. Os empresários das fazendas brasileiras acumulam dinheiro, poder e força para ajudar a eleger o próximo presidente da República.

Ainda de acordo com o IBGE, o agronegócio emprega cerca de 5,5 milhões de pessoas em todo o país e, ao levar em consideração empresários, familiares e pequenos produtores, o número pode chegar a 25 milhões de eleitores que dependem diretamente do setor. De olho nessa fatia dos brasileiros, os candidatos à Presidência lutam entre si para agradar os donos desses votos. Sem conseguir deslanchar nas pesquisas, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB)  endureceu o discurso, aumentou a agenda de reuniões com entidades representativas da zona rural e, para completar, escolheu uma vice que agrada os fazendeiros.

Se o apoio do Centrão – bloco formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB – foi pouco para convencer o campo, Alckmin contrariou o próprio Partido Progressista e escolheu Ana Amélia como companheira de chapa. Integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária, a candidata a vice tem como missão recuperar esse eleitorado do PSDB na Região Sul do país, que demonstra simpatia pelos adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Alvaro Dias (Podemos).

No Centro-Oeste, onde o agronegócio também é a motriz da economia, Alckmin incumbiu o ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), seu coordenador de campanha, traçar estratégias visando os votos dos ruralistas. Promessas como queda de juros e melhoria das rodovias da região estão sendo usadas como chamariz para esse eleitorado. No entanto, no estado, Perillo enfrenta a resistência de outro defensor do setor, o senador Ronaldo Caiado que, apesar de pertencer ao Democratas, já afirmou ter sido um erro a aliança do partido com Alckmin.

Em São Paulo, seu estado natal, Alckmin aumentou as reuniões com entidades representativas do agronegócio, em especial com a Sociedade Rural Brasileira (SRB). Apesar de a associação afirmar, de forma oficial, “não defender nenhum candidato”, estaria fechada com Bolsonaro. Recentemente, Frederico D’Ávila, ex-aliado do tucano, afastou-se da direção da SRB para elaborar o programa de governo na área rural do candidato do PSL.

Em entrevista ao Metrópoles, o deputado federal Nilson Leitão (MT) contou o trabalho que o PSDB faz para convencer os ruralistas. Ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso Nacional, Leitão minimiza o efeito Bolsonaro entre os fazendeiros. “Tem aquele que acha que ele é um caminho, mas não tem uma proposta plausível para colocar em prática. Precisamos apenas fazer com que nossas propostas cheguem ao produtor”, completa.

Novo discurso
Até mesmo o discurso de Geraldo Alckmin mudou nos últimos dias, tudo para agradar os ruralistas. Em junho, quando o presidenciável esteve na redação do Metrópoles, ao ser perguntado sobre o projeto de lei que visa modificar as regras para uso e fiscalização de agrotóxicos no Brasil, conhecido como PL do Veneno, ele desconversou. “Nós temos hoje ciência para preservar a saúde da população, saber se isso pode ou não pode”, afirmou.

Na semana passada, o tucano foi bem mais enfático ao ser perguntando novamente pela reportagem sobre o assunto. “Na verdade, é a Lei do Remédio, não é Lei do Veneno. Quando você precisa cuidar da saúde do animal, você não dá um remédio? Precisamos ter defensivo agrícola para proteger a planta também. Mas eles precisam ser mais eficientes, para proteger a plantação e atingir menos a saúde da população”, completou. O projeto é defendido pelos agricultores e condenado pelos ambientalistas.

Em maio, Alckmin admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de porte de armas na zona rural, outro ponto defendido por Bolsonaro e que agrada aos fazendeiros. “Se mora isolado, fica alvo fácil. No agro hoje, as coisas são caras, equipamentos têm valores impressionantes. Então, você atrai quadrilha”, afirmou.

Em entrevista à Globo News na semana passada, o tucano trouxe o assunto à pauta e afirmou categoricamente a necessidade de armar essa população. “Até os 16 anos de idade, nunca morei na cidade, só morei na zona rural. Sempre teve uma espingarda lá em casa. Você não tem viatura passando na porta a 30 quilômetros de distância. Um lugar ermo, sozinho, você não tem telefone”, justificou Alckmin.

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