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O que esperar de Raquel Dodge à frente do Ministério Público Federal

Nova procuradora-geral da República tomou posse nesta segunda (18). Com perfil discreto e rigoroso, Dodge conduzirá operação Lava Jato

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Raquel Dodge
1 de 1 Raquel Dodge - Foto: Michael Melo/Metrópoles

“Enquanto houver bambu, vai ter flecha”, disse o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, em julho, ao se referir às denúncias decorrentes da operação Lava Jato que ainda estavam por vir. Para a nova procuradora-geral, Raquel Dodge, o problema, no entanto, não deverá ser encontrar munição para novos ataques. No atual cargo, que assumiu nesta segunda-feira (18/9), Dodge tem como desafios a defesa da sua indicação, da continuidade da Lava Jato e da autonomia do Ministério Público Federal (MPF) em denunciar políticos das mais altas rodas de poder.

Dodge tomou posse em uma cerimônia rápida, no prédio da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília. Denunciado por Janot pela segunda vez na última quinta-feira (14), o presidente Michel Temer (PMDB) comandará a nomeação. A expectativa era de que o ex-procurador-geral, por outro lado, não comparecesse ao evento. Janot teria recebido o convite para a solenidade por um e-mail institucional assinado pelo órgão, enquanto outras autoridades, como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), receberam cópias impressas. Ainda assim, ele se fez presente.

A troca de comando da PGR acontece dois dias após o vazamento da minuta de uma portaria em que a nova procuradora-geral estabeleceria um prazo de 30 dias para a saída da atual equipe da Lava Jato. Segundo informações da revista Época, Dodge deverá montar um time de transição, com duração de um mês, para atualizar os novos membros do gabinete. A medida, de acordo com a publicação, teria causado desconforto entre os atuais membros do grupo de trabalho da operação.

Desafios
A mudança de equipe lança as atenções em cima de um dos maiores desafios que a nova procuradora deverá enfrentar em seu mandato: a operação Lava Jato. Os recentes desdobramentos das colaborações de executivos da JBS e a prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud levantaram questionamentos sobre o trabalho do Ministério Público Federal e a validade do artifício das delações premiadas.

Dodge terá pela frente o ônus de decidir sobre investigações envolvendo membros do Executivo, Legislativo e, até mesmo, do Judiciário. Caberá à procuradora conduzir a atuação do MPF na segunda denúncia feita por Janot contra Michel Temer por organização criminosa e obstrução justiça. Na próxima quarta-feira (20), o STF retoma o julgamento do pedido da defesa do presidente da República para que a acusação não seja enviada à Câmara dos Deputados.

Raquel Dodge também terá como tarefa a conclusão do processo de revisão dos acordos de delação dos executivos da JBS. Após o vazamento de áudios de conversas entre Joesley Batista e Ricardo Saud, Janot rescindiu o acordo e retirou os benefícios dos colaboradores, hoje presos. O pedido de rescisão, no entanto, ainda não foi homologado pelo relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin.

Perfil
Nesse contexto, é esperado que Dodge tenha uma atuação diferente do seu antecessor. Foi seu perfil rigoroso e discreto que a transformou em favorita à nomeação do presidente Michel Temer. Dodge foi a segunda colocada na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). O primeiro lugar, conquistado pelo procurador-geral eleitoral Nicolao Dino, candidato apoiado por Janot, foi preterido por Temer. A indicação do primeiro da lista elaborada por procuradores de todo o país não é obrigatória, mas era uma prática adotada desde 2003 durante o governo do PT.

A escolha de Temer foi simbólica. Dodge é tida por procuradores como uma opositora interna de Janot no Ministério Público Federal. Nos bastidores, já criticou a condução de delações premiadas, como as de executivos da JBS, e o vazamento de depoimentos. À frente do MPF, é esperado que Dodge desvie os holofotes da atuação do órgão nos mais recentes escândalos políticos e intensifique o trabalho em outros temas menos midiáticos, como Direitos Humanos, área da sua dissertação de mestrado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Isso não significa, no entanto, que a procuradora deverá se esquivar de ações diretas de combate à corrupção. Dodge já atuou em casos de grande repercussão nacional, como a Operação Caixa de Pandora, em 2009, que resultou na prisão do então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e a investigação de uma organização criminosa no Acre comandada pelo deputado Hildebrando Pascoal, que terminou na detenção de cerca de 80 pessoas.

Raquel Elias Ferreira Dodge nasceu em Morrinho, Goiás, em 1961. É graduada em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) e ingressou no MPF em 1987. A procuradora é casada com o americano Bradley Lay Dodge e tem dois filhos. A partir desta segunda (18), Raquel Dodge será a primeira mulher a comandar a Procuradoria Geral da República.

 

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