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Ao tomar posse, Raquel Dodge defende a harmonia entre os poderes

Solenidade teve apenas 30 minutos de duração. A nova procuradora-geral ocupa a cadeira deixada por Rodrigo Janot

atualizado

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1 de 1 WhatsApp Image 2017-09-18 at 08.46.28 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Em uma cerimônia rápida, de cerca de 30 minutos, Raquel Dodge tomou posse nesta segunda-feira (18/9) no cargo de procuradora-geral da República. A nova chefe do Ministério Público Federal (MPF) ocupa a vaga deixada por Rodrigo Janot, que atuou à frente da instituição por quatro anos. A solenidade teve início às 8h, no auditório Juscelino Kubitschek, da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília.

Após a execução do hino nacional, Dodge e o presidente da República, Michel Temer, assinaram o termo que dá posse no cargo à procuradora-geral da República. Em seguida, ela falou aos presentes. “Recebo com humildade o precioso legado de serviço à Pátria forjado pelos procuradores que me antecederam. O Ministério Público deve promover justiça, promover a democracia, zelar pelo bem comum, garantir que ninguém esteja acima da lei e que ninguém esteja abaixo da lei”, disse.

A chefe da PGR enfatizou que “a harmonia entre os poderes é um requisito para a estabilidade da nação”. Afirmou também que será necessária a ajuda de todos os membros e servidores do Ministério Público Federal. “O caminho que leva à liberdade e à integridade tem obstáculos que só podem ser superados com resiliência e coragem”, declarou.

Segundo Dodge, “a nação brasileira valoriza a liberdade de expressão e a união, aprecia a democracia e repudia a corrupção” e que “renova a esperança”, agora, em seu novo cargo. Ela reforçou que conta com “a firmeza de cada procurador e promotor do país em seus ofícios”.

“Estou ciente da enorme tarefa que está diante de nós e da legítima expectativa que seja cumprida com equilíbrio, firmeza e coragem com fundamento na Constituição e nas leis”, continuou. A primeira mulher na liderança da PGR citou o Papa Francisco ao falar da corrupção. “É uma tarefa necessária, que exige de nós coragem. O país passa por um momento de depuração”, concluiu.

A procuradora-geral também mencionou a poetisa Cora Coralina, “de meu amado Estado de Goiás”. Parafraseando a escritora, disse esperar contribuir “para que haja mais esperança em nosso passos do que tristeza em nossos ombros”.

Temer
Em seguida, foi a vez do presidente Michel Temer falar. Denunciado pela PGR por obstrução judicial e organização criminosa, ele disse que é uma honra extraordinária dar posse a Raquel Dodge. “Nós todos sabemos dos atributos da vida profissional, do trabalho desenvolvido pela procuradora-geral ao longo do tempo”, afirmou, enfatizando que ela é a primeira mulher no cargo.

 

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Compuseram a mesa o presidente Michel Temer, a presidente do STF, Cármen Lúcia; a nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge; o presidente da Câmara, Rodrigo Maia; e o presidente do Senado, Eunício Oliveira. Entre os presentes à sessão, os ministros do STF Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes.

Também compareceram o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ives Gandra da Silva Martins Filho, além do ex-procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Antecessor de Raquel Dodge, Rodrigo Janot não participou da solenidade. Na sexta-feira (15), em seu último dia útil como procurador-geral, ele se despediu do cargo em uma cerimônia interna com apenas membros da Procuradoria e servidores. Janot fez um balanço da gestão e ganhou de presente um arco e flecha, enviado pela tribo Xokó, de Sergipe. O presente foi uma alusão à frase “enquanto houver bambu, lá vai flecha”, dita por ele na reta final de seu mandato logo após apresentar a primeira denúncia contra Temer por corrupção passiva.

Primeira mulher a ocupar o cargo, Raquel Dodge foi indicada em junho por Temer como procuradora-geral da República, a partir de lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Seu nome foi aprovado pelo Senado em julho, com 74 votos favoráveis e um contrário, além de uma abstenção. A nova PGR é a primeira representante do DF a ocupar o cargo.

Além da cadeira, Raquel Dodge herda de Rodrigo Janot polêmicas da gestão anterior relacionadas à Operação Lava Jato e inquéritos em aberto no Supremo Tribunal Federal. A troca de comando do órgão ocorre uma semana após Janot denunciar o presidente Michel Temer e boa parte da cúpula do PMDB.

Perfil
Natural de Morrinhos, interior de Goiás, Raquel Dodge é formada pela Universidade de Brasília (UnB) e construiu sua carreira na capital federal. Mestre em direito pela Universidade Harvard, a nova PGR ingressou no Ministério Público Federal em 1987 e foi membro suplente da 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, responsável por temas envolvendo consumidor e defesa da ordem econômica.

Também integrou a 6ª Câmara (Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais) na época de sua implantação, e comandou a 2ª Câmara (Criminal) até 2014, período em que o MPF passou a investir em ações penais contra agentes de repressão no regime militar. Atuou também na equipe que redigiu o I Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil, e na I e II Comissão para adaptar o Código Penal Brasileiro ao Estatuto de Roma.

Dodge é notória por seu perfil técnico e reservado. Foi ela a responsável por denunciar ao STJ os envolvidos no maior escândalo de corrupção na história do DF, a Caixa de Pandora. Nada menos do que 37 réus estão arrolados nos processos criminais da operação brasiliense. Atuou ainda, em primeira instância, na equipe que processou criminalmente Hildebrando Paschoal, condenado por liderar um esquadrão da morte e por integrar uma quadrilha criminosa no Acre.

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