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Spoofing: hacker tinha dois carros e restaurante em shopping no DF

Thiago Eliezer é suspeito de integrar organização criminosa junto a Walter Delgatti Neto, que confessou ter invadido celular de autoridades

atualizado

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1 de 1 hacker2 - Foto: Reprodução/ Facebook

O ano era 2017 e um jovem empresário comemorava alegremente a abertura de um restaurante próprio. “Estamos muito felizes com essa inauguração. O público da região estava ansioso por unidade da rede aqui em Taguatinga.” O autor da frase é Thiago Eliezer Martins Santos, que, dois anos mais tarde, seria preso na segunda fase da Operação Spoofing. Ao lado de Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila de Oliveira, Danilo Costa e Luiz Henrique Molição, o rapaz é suspeito de ajudar a hackear uma série de autoridades – entre as quais, o ex-juiz federal e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Na época, Thiago era proprietário de uma empresa individual que abriu no ano de 2010. Com esse registro, tornou-se franqueado da rede Tomatzo, de massas e arroz cremoso, e a loja foi aberta no Taguatinga Shopping, no Distrito Federal. O empreendimento, porém, teve vida curta. Pouco menos de um ano depois de a frase ser dita, em entrevista ao site Sua Franquia, a filial foi encerrada. Segundo relatam pessoas que conviveram com o empresário, Thiago era de trato complicado e com pouco tino para os negócios. O CNPJ foi encerrado em fevereiro de 2018.

Ao Metrópoles, Thiago Vitor, advogado do suspeito, reforçou que a rede de alimentos era uma franquia e que Eliezer atuava como pessoa jurídica, ou seja, apenas como empresário. “Já tinha conhecimento e atuava na rede de alimentos. Essa era a atividade empresarial dele, não tem conexão nenhuma com as investigações [da Operação Spoofing]”, esclareceu o defensor.

Ainda assim, o suspeito conseguiu comprar dois carros, registrados no nome dele: um SUV Honda HRV e um Kia Picanto. Os carros, após a prisão de Thiago, são usados pela família, que se recusou a falar sobre a vida do suspeito. O rapaz era morador de uma casa em Taguatinga (foto abaixo).

Myke Sena/Especial para o Metropoles
Casa de Thiago Eliezer Martins do Santos, preso pela polícia Federal na Operação Spoofing. Foto Myke Sena/Especial para o Metrópoles

Irmã do suspeito e cantora, Eliza Maria Martins Santos apagou os perfis nas redes sociais logo após a prisão de Thiago, na última quinta-feira (19/09/2019). Em frente à casa onde Thiago vivia, ela foi abordada pela reportagem do Metrópoles ao estacionar o Kia Picanto do irmão. Eliza esquivou-se do assunto e entrou na residência. Preferiu não falar.

Os vizinhos, sob condição de anonimato, descreveram o empresário como uma pessoa calada, sem muita relação com os residentes do local. “Ele era um cara muito quieto, um cara difícil. Sempre foi muito na dele, muito reservado, de poucas palavras”, contou um morador da região. Uma mulher relatou ter visto a movimentação policial no dia da prisão. “Não tinha como saber que ele era hacker. Parecia uma pessoa simples”, narrou.

Simples ou não, Thiago tinha conhecimento de informática. Em entrevista à revista Crusoé, o pai do suposto hacker disse que o filho trabalhava como desenvolvedor para bancos. “Meu filho é trabalhador, é direito. Trabalha com informática, é programador. Não tem emprego fixo. Trabalha fazendo aplicativos de bancos, desenvolvendo aplicativo para bancos”, sustentou Eliezer dos Santos.

Foi justamente esse conhecimento que o teria aproximado de Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, apontado como o líder do grupo. A Polícia Federal (PF), responsável pela operação, investiga se o novo personagem teve relação com as invasões de celulares e se pode ser um braço financeiro do grupo. Contra ele, pesa ainda a ausência de explicações sobre transações financeiras no passado. Em depoimento, Delgatti afirmou que comprou um veículo Land Rover de Thiago, no valor de R$ 50 mil. Disse também não saber explicar o motivo de ter feito uma transferência de R$ 4,5 mil ao colega.

O defensor de Thiago Eliezer confirmou que a formação do suspeito é analista de sistemas, contudo, não sabia nem mesmo como hackear. “Ele não tinha conhecimento nenhum com relação à forma de invasão de dispositivos, nem mesmo como invadir telefones celulares ou aplicativos de mensagens”, sustentou. Ainda segundo o advogado, o cliente jamais teve algum contato com o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil.

Segunda fase 
A Polícia Federal prendeu na quinta-feira (19/09/2019) mais dois suspeitos de hackearem celulares de diversas autoridades. A movimentação foi continuação da Operação Spoofing, que prendeu, inicialmente, quatro suspeitos de participarem da invasão a aparelhos de Sergio Moro e Jair Bolsonaro.

Um dos alvos foi justamente Thiago Eliezer Martins. Na primeira fase da Spoofing, deflagrada em julho, a PF prendeu quatro pessoas — Walter Delgatti Neto, o Vermelho, apontado como o líder do grupo de hackers, o casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira e Danilo Costa.

Hacker diz ser “fonte”
Walter, preso em 23 de julho último por suspeita de hackear centenas de autoridades, afirmou em depoimentos à Justiça ter dado ao jornalista Glenn Greenwald, de forma anônima, acesso a informações capturadas do aplicativo Telegram. As informações teriam sido repassadas de forma voluntária, sem cobrança.

O site The Intercept Brasil tem divulgado desde o dia 9 de junho mensagens trocadas entre Moro e procuradores da Lava Jato, relativas ao período em que era juiz do caso em Curitiba.

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