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Deltan teria feito lobby com governo Bolsonaro para emplacar novo PGR

Procurador Vladimir Aras, apesar de não estar na lista tríplice, é um dos principais nomes para assumir o lugar de Raquel Dodge

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Deltan Dallagnol
1 de 1 Deltan Dallagnol - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O procurador da República Deltan Dallagnol teria usado o prestígio obtido como coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba (PR) para tentar emplacar, nos bastidores, o procurador Vladimir Aras como o novo comandante da Procuradoria-Geral da República. Para isso, teria feito lobby com ministros do governo de Jair Bolsonaro (PSL), senadores e pelo menos três integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF).

As constatações foram publicadas nesta sexta-feira (16/08/2019) pelo UOL Notícias e fazem parte do acervo de mensagens da Vaza Jato, trocadas entre integrantes do Ministério Público Federal e outras autoridades públicas no Telegram, obtidas pelo site The Intercept Brasil. Os diálogos mostram que Aras e Dallagnol teriam começado a articular a candidatura ainda durante as eleições de 2018.

“Fala com Moro sobre minha candidatura à PGR”, teria pedido Vladimir Aras a Deltan Dallagnol, às 13h22 de 11 de outubro de 2018 — quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial. “Com Bolsonaro eleito, vou me candidatar”, completaria. Sergio Moro, então juiz federal, era considerado alguém próximo do grupo do presidente da República.

Aras teria dito que conversou com Moro sobre a candidatura e destacou a proximidade dele com Bolsonaro às 14h20. “Ele tem prestígio agora”, teria citado. Deltan então teria se mostrado otimista: “Conseguimos articular sua indicação. Temos várias pessoas para chegar lá”.

“Peço reserva, mas Moro confirmou para mim que você é o candidato que ele vai defender”, teria dito Dallagnol a Aras, no dia 14 de abril.

Com o STF
Deltan e Aras teriam acelerado as articulações em fevereiro. No dia 19, o candidato pediria explicitamente a ajuda do coordenador da Lava Jato para ter acesso à cúpula do Judiciário: “Você poderia me apresentar a Barroso e Fachin?”, teria questionado. “Preciso de aliados no STF”.

Os ministros citados por Aras formam a linha de frente da Lava Jato no Supremo: Edson Fachin é relator dos processos ligados à operação na Corte, enquanto Luís Roberto Barroso é tido como o principal defensor das investigações. Além dos dois, Deltan faria contato em abril com Luiz Fux, outro ministro alinhado com a Lava Jato.

Deltan também teria enviado um texto elogioso sobre Aras para esses ministros do STF. A mensagem defendia que Vladimir Aras “é um colega sério e ponderado, tem excelente capacidade de diálogo, é comprometido com o Estado de Direito e qualificado para o cargo” e ainda afirmava que, “se indicado, fará um grande trabalho na Procuradoria-Geral”. O depoimento, no entanto, teria sido redigido pelo próprio Aras, mas Dallagnol a apresentava como dele.

Com o governo e o Congresso
Além de Moro, Deltan teria dito em 15 de abril que enviou mensagem a Onyx Lorenzoni (DEM), ministro-chefe da Casa Civil, sobre a candidatura de Aras. Outro ministro contatado foi André Mendonça, da Advocacia-Geral da União (CGU).

Segundo as mensagens, Aras teve também um encontro com o senador Eduardo Girão (PODE-CE). Deltan ainda teria elaborado um plano de conversa com uma lista de 20 senadores em postos de liderança que deveriam ser procurados por Aras para obter apoio.

Outro lado
A força-tarefa da Lava Jato disse, por meio da assessoria de imprensa do MPF do Paraná, que é permitido aos procuradores “incentivar colegas a se candidatarem”, “fazer contatos” e “encampar iniciativas para a escolha dos melhores candidatos”. Destacou, porém, que tem “reiteradamente defendido” a lista tríplice “sem manifestar apoio a determinado candidato”.

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