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Após atritos com Congresso, governo se fecha antes de viagem a Israel

Bolsonaro teve agenda não divulgada e, depois de se reunir por quatro horas com ministros, pauta do encontro semanal não foi informada

atualizado

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Marcos Corrêa / Presidência da República
reuniao ministerial marcos correa PR
1 de 1 reuniao ministerial marcos correa PR - Foto: Marcos Corrêa / Presidência da República

Após uma semana de embate público de integrantes do governo federal com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o Palácio do Planalto tentou blindar o chefe do Executivo federal, Jair Bolsonaro (PSL). Nessa terça-feira (26/3), o presidente da República teve um compromisso fora da agenda pública e se reuniu com ministros por quase quatro horas sem que os temas tratados fossem divulgados. Ao fim do dia, não houve o já rotineiro encontro do porta-voz, general Otávio Rêgo Barros, com jornalistas, tampouco a transmissão ao vivo do presidente pelo Facebook.

Nesta quarta (27), Bolsonaro irá a São Paulo para realizar exames e deve visitar uma universidade. Ele ainda não falou diretamente sobre o conflito com Maia e não há, até o momento, previsão de que os dois se encontrem antes de o presidente embarcar para Israel, no sábado (30), onde ficará até o dia 3 de abril.

Pouca divulgação
Eleito com uma plataforma de aumentar a transparência das ações do Executivo, Bolsonaro teve uma terça-feira de trabalho praticamente não divulgada. Durante a manhã, o paradeiro do presidente da República era desconhecido até cerca de 10h30.

Às 9h, fora do previsto na agenda, ele foi ao cinema acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e de diversas crianças para uma sessão do filme Superação – O Milagre da Fé. Ele saiu sem dar declarações aos jornalistas, que descobriram a escapulida e aguardavam o presidente ao fim da sessão.

À tarde, Bolsonaro participou da reunião semanal com os 22 ministros de seu governo – o que prometeu que faria desde o período de transição, após ser eleito. A pauta do encontro, que durou quase quatro horas, não foi divulgada pela Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto. Nem sequer o porta-voz da Presidência, que tem feito um balanço quase diário das realizações do governo, se pronunciou nessa terça-feira.

À noite, o presidente faria ainda uma transmissão ao vivo em suas redes sociais com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. A live, marcada para as 19h, também não constava na agenda presidencial, mas estava na lista de afazeres do ministro. O compromisso foi cancelado e o presidente deixou o Planalto por volta das 19h20.

Nesta quarta, o chefe do Executivo vai à capital paulista para uma bateria de exames no Hospital Albert Einstein. Havia a possibilidade de Bolsonaro visitar a Universidade Presbiteriana Mackenzie para conferir pesquisas sobre o uso do grafeno, considerado o material mais fino do planeta. O compromisso, informado à imprensa pelo porta-voz do Planalto na segunda-feira (25), não estava confirmado até as 20h30 dessa terça.

Atritos, “morde e assopra”
Desde domingo (24/3), auxiliares e ministros tentam arrefecer a temperatura entre Executivo e Congresso. Contudo, o “morde e assopra” das declarações de autoridades dos dois Poderes tem dificultado o andamento da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.

Durante a semana passada, Bolsonaro e o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) entraram em rota de colisão com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O embate começou com a cobrança de Moro sobre o pacote anticrime enviado à Casa. Incomodado com a pressão – pública e privada – do ministro para que o projeto ande com celeridade, Maia chamou Moro de “funcionário” de Bolsonaro e disse que seu projeto era um “copia e cola” do apresentado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Acrescentaram-se à insatisfação do deputado federal os ataques dos quais virou alvo na internet, partindo de apoiadores de Bolsonaro – incluindo o filho vereador do presidente, Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Maia então comunicou ao Planalto que abria mão de tentar articular a reforma da Previdência. Teve início o enfrentamento público entre o presidente da Câmara e o da República por meio de declarações. O “cessar-fogo” só só foi declarado nesse domingo, quando Bolsonaro voltou do Chile e se encontrou com o líder do governo na Câmara, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO).

Ao deixar o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, o líder afirmou que a temperatura iria baixar. “Vamos caminhar para uma aproximação. O clima vai arrefecer”, ressaltou então. Major Vitor Hugo afirmou ainda que Bolsonaro estava calmo. “O presidente nunca perdeu a tranquilidade.”

Horas depois, o líder disparou uma mensagem no grupo de deputados do PSL no WhatsApp, reforçando a crítica ao que Bolsonaro tem chamado de “velha política”. Questionado, o líder do governo na Casa disse que não estava fazendo críticas a Maia, mas reforçou a posição de Bolsonaro para “trabalhar de uma maneira diferente”.

Na segunda-feira (25), diversos agentes políticos passaram a agir em uma “operação rescaldo” para evitar mais danos ao ambiente da tramitação da reforma da Previdência. No Planalto, o porta-voz disse que Bolsonaro está “aberto” para eventualmente conversar com Maia e “ao lado” do Congresso pela aprovação da matéria.

Por outro lado, Rêgo Barros reforçou a responsabilidade do Parlamento e afirmou que há apenas duas opções para a proposta: “aprovarmos o projeto ou mergulharmos em um buraco sem fundo”, definiu.

Sem Guedes, Onyx entra no circuito

WILTON JUNIOR/ESTADAO CONTEUDO

O mal-estar não parou e teve novo capítulo com a desistência do ministro da Economia, Paulo Guedes, de comparecer à sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara nessa terça (26/3). Ele tinha concordado em comparecer ao colegiado para tirar as dúvidas dos parlamentares quanto às mudanças nas regras de aposentadoria dos brasileiros. Horas antes, a assessoria do ministro afirmou que ele não iria, uma vez que o relator do texto ainda não foi escolhido, mas deixaria a equipe de técnicos à disposição.

Em resposta, os integrantes da CCJ ameaçaram aprovar uma convocação no lugar do convite feito para a sessão dessa terça-feira. A mudança não é sutil: quem é convocado não pode deixar de ir ao Parlamento, sob o risco de responder depois por crime de responsabilidade. Um novo acordo foi costurado para que Guedes compareça à reunião da CCJ na próxima quarta-feira (3/4).

Um dos responsáveis pela articulação do Planalto com o Congresso Nacional, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi à Câmara no fim do dia e afirmou que “é preciso chegar a um entendimento” entre Executivo e Legislativo. Ele deu pistas de que a reunião de Bolsonaro com os ministros foi também um momento para o governo federal afinar o discurso, mas não entrou em detalhes sobre as orientações dadas pelo chefe no último encontro com o primeiro escalão antes de o presidente seguir para Israel.

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