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Análise: Guedes briga com a esquerda e Bolsonaro recebe o centrão

Governo isola oposição no debate sobre Previdência e tenta formar base de apoio com partidos acostumados ao fisiologismo no Congresso

atualizado

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Paulo Guedes
1 de 1 Paulo Guedes - Foto: Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Em dois lances simultâneos, o governo se movimentou nessa quarta-feira (3/4) para tentar demarcar um campo de apoio político na tramitação da reforma da Previdência. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, defendeu as propostas enviadas ao Congresso e bateu boca com a oposição.

Ao enfrentar deputados de partidos da esquerda, ele isolou os setores contrários à reforma. Com isso, reforçou laços com os adversários dos governos petistas. Para o governo, esse é o universo onde será possível obter votos para aprovar mudanças na Previdência.

Loquaz e bem-disposto, Guedes expôs distorções do modelo brasileiro de aposentadorias. Desafiou os congressistas a apresentar soluções e disse que a oposição teve quatro mandatos no governo para corrigir as falhas do sistema e não o fez.

No final, o ministro apelou ao ouvir do deputado Zeca Dirceu (PT-PR) que se comportava como “tigrão” com aposentados, agricultores e professores, e “tchutchuca” com os privilegiados do país – referência ao funk Tchutchuca, sucesso de 2001 do Bonde do Tigrão.

Guedes devolveu: “Tchutchuca é a sua mãe e a sua vó”. Diante do baixo nível do debate, a sessão da CCJ foi encerrada.

O segundo movimento do governo com efeitos sobre a tramitação partiu do Planalto. O ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, anunciou a decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de receber líderes de partidos do centrão e de outras legendas para discutir a aprovação da reforma da Previdência.

Cargos federais
Nessa mesma direção, o vice-presidente, Hamilton Mourão, disse que o governo se dispõe a oferecer cargos na administração federal para os partidos da base de apoio ao Planalto. O objetivo é garantir aliados para as propostas enviadas ao Congresso.

Pelo conteúdo das declarações de Mourão e de Lorenzoni, pode-se concluir que o governo resolveu ceder às pressões dos políticos acostumados a trocar votos por cargos ou verbas. Bolsonaro promete agir diferente, sem toma lá dá cá, mas a realidade parece obrigá-lo a moderar o discurso.

As próximas semanas vão mostrar se a estratégia do Planalto para a aprovação das reformas está correta. Revelarão, também, até que ponto Bolsonaro resistiu à fome fisiológica dos partidos. De qualquer forma, deve-se reconhecer que o governo começou a se mexer para tentar se entender com o Congresso.

Corporações
Importante, por fim, registrar que as legendas e os parlamentares são apenas parte dos obstáculos para a tramitação das medidas do governo. Mesmo que as negociações com os partidos avancem, ainda será necessário enfrentar o lobby das corporações.

Aqui, vale fazer um alerta. É preciso distinguir as pressões feitas pelas categorias menos favorecidas, como os trabalhadores rurais, das mais abastadas, como os altos funcionários do Judiciário e do Legislativo. Deve-se tomar cuidado para que o justo discurso em defesa dos mais pobres não seja usado para manter os privilégios dos servidores mais ricos.

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