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Pela 1ª vez, país fica estagnado no Índice de Desenvolvimento Humano

Brasil alcançou o indicador de 0,754 de uma escala de 0 a 1 — o mesmo obtido no ano anterior — e se mantém na 79ª posição

atualizado

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Wikipedia Commons/Divulgação
Rocinha favela
1 de 1 Rocinha favela - Foto: Wikipedia Commons/Divulgação

Pela primeira vez na série histórica, o Brasil ficou estagnado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Relatório das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira (21/3) mostra que o país alcançou o indicador de 0,754 de uma escala de 0 a 1 — o mesmo obtido no ano anterior. Com esse desempenho, ele se mantém na 79ª posição no ranking, empatado com a Ilha de Granada.

A Noruega, primeira da lista, alcançou o IDH de 0,949. Já a pior colocação foi da República Centro-Africana, com 0,352. Ao todo, participam do ranking 188 países e territórios.

“São poucos os países que ficam estagnados ou caem no desempenho do IDH. A tendência é de todos avançarem de um ano para o outro”, afirma a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional, Andréa Bolzon.

Neste ano, por exemplo, mais de uma centena de países apresentaram melhora nos indicadores. A queda de IDH foi registrada sobretudo em nações que enfrentaram condições adversas. Foi o caso da Síria. Para Andrea, o desempenho brasileiro é reflexo da crise econômica que o país já enfrentava em 2015, ano da coleta dos dados do relatório.

A pesquisadora observa que em 2014 e 2015 a pobreza no Brasil aumentou, rompendo um ciclo de queda identificado desde a década anterior. Dados indicam que, em 2015, 3,63% da população vivia em situação de extrema pobreza, com uma renda mensal per capita de até R$ 70. Naquele mesmo ano, 9,96% da população era classificada como vulnerável à pobreza, com rendimento de até R$ 140 por mês.

O desemprego, por sua vez, cresceu de forma expressiva nesse mesmo período. Os mais afetados foram jovens. A taxa de desemprego entre 15 e 24 anos em 2015 era de 23,1%, bem acima dos 17% identificados em 2014. Em seguida, estavam as mulheres. O nível de desemprego entre mulheres cresceu de 8,9% para 11,8% no biênio 2014-2015, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Padrão de vida
Desenvolvido há 26 anos, o IDH tem uma escala de 0 a 1. Quanto mais próxima de um, melhor a situação do país. As notas são dadas a partir da avaliação de três quesitos: saúde, educação e rendimento.

Entre 1990 e 2015, a média de crescimento do IDH brasileiro foi de 0,85% ao ano. A análise dos dados mostra que foi o padrão de vida que levou o país a quebrar essa trajetória. A renda nacional per capita foi de 14.145 P.P.P. (paridade de poder de compra, uma medida internacional usada para permitir comparação entre diferentes moedas). Em 2014, a renda havia sido de 14.858. O relatório mostra que, em 2015, a renda per capita na Turquia, por exemplo, era de 18.705. Já no México era de 16.383 e, no Chile, de 21.665.

Discreta melhora
Nos outros quesitos do IDH, o país apresentou uma discreta melhora. A expectativa de vida (usada para medir o desenvolvimento na área de saúde) foi de 74,7 anos. Mais do que os 74,5 indicados em 2014. Na área de conhecimento, o Brasil obteve um pequeno avanço na média de anos de estudo. Passou de 7,7 em 2014 para 7,8 em 2015.

No entanto, chama a atenção da estagnação de outra variante usada para avaliar o conhecimento, a expectativa de anos de estudo. Desde 2013, esse indicador não ultrapassa a marca dos 15,2 anos.

O IDH brasileiro está um pouco acima da média regional da América Latina e do Caribe, que foi de 0,751 em 2015. Na comparação entre Brics, apenas a Rússia traz um IDH superior ao do Brasil: 0,804. China, África do Sul e Índia aparecem no ranking em posições abaixo do país, com indicadores de 0,738, 0,666 e 0,624, respectivamente.

Desigualdade
A desigualdade no Brasil persiste. O Relatório de Desenvolvimento Humano mostra que o país cairia 19 posições no ranking se a desigualdade fosse levada em conta. Apenas duas nações teriam uma queda ainda maior: Irã (que despencaria 40 posições) e Botsuana, com perda de 23 colocações. Se for considerado o Coeficiente de Gini, o Brasil é o 10º mais desigual de uma lista de 143 países.

As diferenças de renda são o principal fator que leva o Brasil a ter uma redução no IDH ajustado (IDHD). O percentual de perda provocado por esse indicador é de 37,8%. Em seguida, vem a desigualdade na educação. Ela é responsável por um desconto de 22,6%. A diferença na expectativa de vida também é expressiva: ela provoca uma queda de 14,4% na média geral.

O impacto da desigualdade na classificação é sentido por outros países. O Chile, por exemplo, cairia 12 posições no ranking e teria perda de 18,2% no seu IDH, se as disparidades fossem levadas em consideração. Também ali a desigualdade na renda é que empurra o país para uma colocação mais baixa. A perda é de 35,5% no IDH.

Para a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional, é uma ferramenta importante para avaliar o quanto o progresso no desenvolvimento humano não atinge a todos da mesma forma. As diferenças, diz, estão presentes mesmo dentro de cidades.

“Basta ver a renda no Morumbi, bairro de São Paulo. A média é de R$ 13,8 mil. Em Cidade Tiradentes, por sua vez, é de R$ 373”, diz Andréa, citando dados de relatório sobre regiões metropolitanas do país.

A coordenadora do relatório observa que, embora o progresso tenha sido muito significativo nos últimos anos, há ainda muita gente sofrendo privações. “Muita coisa avançou, mas há um grupo de pessoas excluídas, que foram deixadas para trás nesse progresso.”

O relatório deste ano das Nações Unidas traz, entre suas mensagens, a necessidade de se fazer análises refinadas dos dados, que vão além das médias. “As médias escondem desigualdades. E o que não se mede, não se sabe como lidar”, afirma Andréa.

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