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Não, caminhoneiros não vão parar o Brasil pedindo intervenção militar

Edgard Matsuki, editor do Boatos.org, fala sobre as informações que circulam pelas redes sociais no A Semana em Fakes

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
Caminhoneiros caminhao estrada
1 de 1 Caminhoneiros caminhao estrada - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Desde 2018, quando caminhoneiros fizeram greve nacional de 10 dias que gerou desabastecimento em diversas regiões do Brasil, ameaças de “greves por motivos políticos” circulam em mensagens falsas na internet. Nos últimos dias, tivemos três exemplos disso.

Na semana passada, quando o voto impresso ainda era a principal pauta das fake news na internet, uma mensagem apontava que “caminhoneiros iriam parar o Brasil” e só voltariam a trabalhar quando o voto impresso fosse aprovado e ministros do STF fossem depostos. O boato teve versão nova nesta semana. A “fake 2.0” desta história apontava que o “prazo era de 72 horas”.

Como foi possível de se ver, o voto impresso foi rejeitado na Câmara dos Deputados, o STF continua firme e forte e nenhum caminhoneiro parou o Brasil. O que também não pararam foram fake news envolvendo a classe. Desta vez, com uma “pauta nova”.

No sábado (14/8), um texto extremamente ufanista falava da grande “organização de 7 de setembro” que resultaria em uma “intervenção militar constitucional” (o que por si só já é uma nomenclatura falsa), fim do Congresso, STF e plenos poderes para Bolsonaro (ou seja, a volta de uma ditadura). O trunfo? Uma greve de caminhoneiros.

Não precisa ser vidente para saber que essa história de intervenção com a ajuda de caminhoneiros não passa de uma cascata com o intuito de incitar caminhoneiros mais radicais (e mais inocentes) e fazer barulho na internet. Barulho até faz, mas os caminhoneiros brasileiros não são trouxas a ponto de cair em uma “mobilização” dessas.

A greve de 2018 se deu em uma situação especial. O alto preço dos combustíveis, o baixo preço dos fretes e a falta de voz que a classe tinha para negociar gerava insatisfação que eclodiu em paralisação organizada por entidades de classe. Apesar de fake news da época (diga-se de passagem, algumas “patrocinadas” por grupos de direita e de esquerda) colocarem pautas políticas no movimento, o fato é que a redução do preço do diesel, a isenção de taxas e o preço mínimo para fretes acabaram com a greve. Nenhuma pauta política foi atendida.

É possível que haja greve dos caminhoneiros por pautas de classe? Sim, mas ela é menos provável do que em 2018. A situação de hoje é diferente em um ponto importante: há um diálogo entre líderes de movimentos de caminhoneiros e o governo federal e uma tentativa constante por parte do Executivo para que não haja paralisações.

As chances de que haja uma greve por “pautas políticas” caem para perto de zero. Há três motivos para isso. 1) A classe é heterogênea e nem todos (na verdade, quase ninguém) defendem pautas como intervenção militar. Com isso, não haveria adesão suficiente para “parar o Brasil”. 2) Pautas como essa não têm adesão de líderes de caminhoneiros. Tanto que essas ameaças circulam mais entre grupos bolsonaristas do que em grupos de caminhoneiros. 3) Uma greve com pedidos como esses não teria efeito algum. Na realidade, pioraria a situação do governo Bolsonaro. Os pedidos não seriam atendidos, e o governo teria mais uma crise econômica e política para contornar.

Ou seja: se você vir mensagens falando que caminhoneiros vão parar o Brasil por “voto impresso”, fim do STF ou intervenção militar, não acredite. Caminhoneiro quer frete bem pago, combustível barato e condições de trabalho. Se tem uma coisa que eles não querem é ser massa de manobra para grupos políticos.

Trends da semana

As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos sete dias foram, em ordem crescente, UnimedBarrosoGrupo Unimed alertaUnimed alertaVariante deltaAmericanasBom cia com BolsonaroTribunal constitucional militar e voto impresso

Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos 7 dias foram, em ordem crescente, sobre um alerta de que o telefone 912250041117 serviria para hackear celulares, que os caminhoneiros vão fazer uma greve pelo voto impresso, que a Americanas iria dar um iPhone em um site no WhatsApp, sobre um alerta a respeito da variante delta da Covid-19 por parte da Unimed e sobre a empresa Probank ser de José Dirceu.

No Twitter, No Facebook, No Instagram, o desmentido de que a Probank, empresa que mexe com urnas eletrônicas, é de José Dirceu foi o com mais engajamento na semana. No Telegram, a matéria mais vista foi o último A Semana em Fakes (sobre o voto impresso). Por fim, o vídeo mais visto no YouTube na semana falava sobre o telefone que aplica golpes com “pesquisa da vacina”.

Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 6 mil notícias falsas

Uma das novidades do Boatos.org para 2021 é a seção “A Semana em Fakes”. Periodicamente, faremos análises sobre os assuntos mais recorrentes em termos de desinformação na internet. Este conteúdo ficará aberto para republicação em outros veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Portal Metrópoles, Portal T5 e Conexão Marília (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.

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