Ministros do União Brasil criam embaraços a Lula no início do mandato
Pressão recente sobre Juscelino Filho, ministro das Comunicações, cresce e governo Lula espera explicações, mas ainda observa com paciência
atualizado

Um dos principais focos de desgaste neste início do terceiro governo Lula (PT) está sendo as denúncias em série contra ministros que fazem parte da ala de indicados políticos com o objetivo de fortalecer a base no Congresso. E, no centro de tudo, está uma sigla específica: União Brasil, fruto da fusão entre PSL e Democratas (DEM). Após baixar a temperatura da fritura da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, a pressão só aumenta em cima do titular das comunicações, Juscelino Filho. Ambos são da legenda.
As denúncias contra Filho, que foi indicado ao governo pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), estão dando munição para a oposição a Lula tanto nas tribunas de Câmara e Senado quanto nas redes sociais. Parlamentares alinhados ao bolsonarismo estão acionando a Procuradoria Geral da República e o Conselho de Ética da Presidência para repercutir acusações contra Juscelino Filho, que está sob fogo cerrado desde fevereiro.
As primeiras denúncias contra o ministro das Comunicações apareceram no Estadão e foram sobre uso suspeito de verbas do orçamento secreto na cidade maranhense onde o político e familiares seus têm fazendas. A gravidade das denúncias aumentou com a revelação de que Juscelino Filho, quando já era ministro, viajou de avião da FAB para São Paulo e passou parte dos dias participando de agendas privadas, como leilões de cavalos de raça, e recebendo diárias do governo federal.
Dois colunistas do Metrópoles também publicaram notícias que aumentaram a pressão sobre Filho. Rodrigo Rangel revelou que o ministro tem pressionado a estatal Codevasf a liberar a contratação de uma empresa suspeita de envolvimento em irregularidades para fazer obras no Maranhão com recursos de emendas conseguidas por ele. Já a coluna de Guilherme Amado noticiou que o pai e padrinho político do ministro, José Juscelino dos Santos Rezende, é réu pelo assassinato de um agiota no Maranhão.
Os parlamentares oposicionistas estão surfando nas denúncias, como exemplifica a postagem do deputado federal Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que levou para as redes discurso feito no plenário da Câmara:
O ministro do Lula praticou crime de responsabilidade, já encaminhamos denúncia à PGR. O patrimônio público não pode ser utilizado para interesses pessoais. pic.twitter.com/WdFg96ubbI
— Delegado Paulo Bilynskyj (@paulobilynskyj1) March 1, 2023
Governo observa sem se manifestar, mas paciência não é eterna
Como fez quando a ministra Daniela Carneiro virou foco de denúncias por suas relações políticas com milicianos do Rio de Janeiro, o governo federal está deixando a história se desenrolar sozinha e não age nem para defender nem para cobrar publicamente os ministros.
Internamente, porém, fontes do entorno de Lula admitem que as acusações contra Juscelino Filho são sólidas e que ele precisa se explicar – sobretudo sobre o recebimento de diárias e viagem em avião da FAB enquanto participava de agenda particular.
O ministro não havia se manifestado até a publicação desta reportagem, apesar de questionamentos enviados à assessoria de comunicação de seu ministério.
Juscelino Filho está fora do país, participando de um evento de telecomunicações em Barcelona, e, segundo parlamentares que o conhecem, ainda não sabe como lidar com o desgaste que está sofrendo. Em suas redes sociais, o ministro não tratou de nenhuma denúncia e apenas divulgou cenas de suas agendas no evento.
Veja:

Reprodução/Instagram

Reprodução/Instagram

Reprodução/Instagram
Em discurso na primeira reunião ministerial, ainda em 6 de janeiro, Lula alertou seus subordinados sobre como pretendia lidar com acusações, mas, ao mesmo tempo em que disse que não vai deixar nenhum deles “no meio da estrada”, afirmou que quem errar “vai ser convidado a deixar o governo”.
Devendo explicações ao presidente, Juscelino Filho se segura em uma complicada equação política para se manter no cargo. Com 61 deputados e 9 senadores, seu partido, o União Brasil, é visto como muito importante pelo Palácio do Planalto para fazer a diferença em votações difíceis que vêm aí no Congresso, mas não se comprometeu em fazer parte da base apesar de ter sido contemplado diretamente com dois ministérios e indicado mais um (Waldez Góes, do PSD). Além disso, a sigla abriga políticos abertamente de oposição, como o senador Sergio Moro (PR).
O tamanho do apoio do partido nas votações que vão começar na próxima semana serão determinantes para o futuro de Juscelino Filho.
Por enquanto, como aconteceu com a ministra do Turismo, o governo não gostaria de expor a equipe com uma demissão, mas uma minirreforma ministerial pode entrar nos planos se as tramitações no Congresso se mostrarem mais desafiadoras do que o esperado.
Cobranças da oposição
Enquanto isso, a oposição se esforça para fazer o ministro sangrar. Na quarta, deputados do PL protocolaram um requerimento para convocar Juscelino Filho para prestar esclarecimentos no plenário da Câmara.
Medidas parecidas estão sendo tomadas por opositores no Senado, como mostrou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF):
Já estou entrando com mais um pedido de apuração junto aos órgãos competentes. Está ficando difícil para este Governo. Que todos saibam que vou cumprir com minha atribuição e vou fiscalizar todos os gastos públicos.
Nao vou me omitir pic.twitter.com/OoIguHEVuL
— Damares Alves (@DamaresAlves) March 1, 2023
Enquanto a pressão sobre Juscelino Filho só aumenta, quem tem um refresco é a ministra do Turismo, que resistiu calada à primeira onda de ataques da oposição e agora está relativamente esquecida e sendo deixada em paz.