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Médico de GO que filmou homem acorrentado será investigado por racismo

Inquérito será remetido para delegacia especializada em crimes raciais, em Goiânia. Médico alegou que tudo foi “encenação” e “zoeira”

atualizado

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médico que filmou funcionário acorrentado em goiás
1 de 1 médico que filmou funcionário acorrentado em goiás - Foto: Reprodução

Goiânia – Apesar do vídeo de desculpas, o médico Márcio Antônio Souza Júnior, conhecido como Doutor Marcim na cidade de Goiás, antiga capital do estado, segue sendo investigado por racismo por ter filmado e publicado no Instagram imagens de um funcionário negro acorrentado nas mãos, pés e pescoço.

O inquérito iniciado na delegacia local será remetido ao Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), em Goiânia. No vídeo que gerou a investigação, o médico mostra o homem preso às correntes e diz:

“Aí, ó, falei para ele estudar, mas ele não quer. Então, vai ficar na minha senzala”.

Veja o vídeo:

O homem que aparece acorrentado é funcionário da fazenda de Márcio Antônio. Ele tem 37 anos e esteve na delegacia na tarde dessa quarta-feira (16/2), acompanhado por um defensor público. Segundo o delegado Gustavo Cabral, o funcionário disse que trabalha para o médico há três meses e que tudo teria sido uma brincadeira.

Em novo vídeo publicado no Instagram, Márcio Antônio, que não foi localizado pela polícia e estaria viajando, apareceu ao lado do trabalhador e pediu desculpas, alegando que tudo “foi uma encenação teatral” e “uma zoeira”.

Veja:

O trabalhador optou por não registrar ocorrência contra o patrão, por prática de constrangimento, mas o delegado informou que o caso pode ser interpretado como crime de racismo ou indução e incitação a discriminação ou preconceito por raça, conforme o Artigo 20 da Lei de Crimes Raciais.

Conforme o texto da legislação, o crime se configura quando é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza. Dessa forma, como o médico divulgou as imagens em seu perfil pessoal  na internet, ele se tornaria responsável pela propagação de símbolos que induzem a práticas racistas.

Escravidão não confirmada

Uma equipe da Polícia Civil de Goiás (PCGO) esteve na fazenda do médico, onde o trabalhador vive com a família. Segundo o delegado, não foi constatado no local qualquer prática de escravidão ou situação análoga.

O funcionário já havia dito isso, durante o interrogatório. Ele informou que recebe os pagamentos de forma regular e que jamais havia sofrido qualquer tipo de violência, ameaça ou xingamento por parte do médico.

No vídeo de desculpas, ele aparece ao lado do patrão e diz que ele próprio colocou as correntes em si. “Ele é como [se fosse] meu pai. Não tem como nem falar nada, sem palavras. Ele que me ajuda em tudo”, disse o funcionário. O médico deverá ser interrogado em Goiânia.

Repúdio

O caso chocou a população da cidade de Goiás, e a repercussão, logo, tornou-se nacional. A família do médico Márcio Antônio é tradicional e bastante conhecida em Goiás.

A prefeitura do município, por meio da Secretaria Municipal das Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos, divulgou uma nota de repúdio, na qual diz que fará questão de acompanhar de perto os desdobramentos do caso.

“O ato divulgado, sem explicação aceitável, causa profunda repulsa e deve ser objeto de investigação e apuração pela autoridade policial competente, para uma célere instrução e responsabilização nos termos da lei. Desta forma, a Prefeitura Municipal informa que acompanhará atentamente os desdobramentos da investigação e tomará as medidas de sua competência”, anuncia.

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