“Vergonhoso”, classifica Moro sobre pressão de Bendine ao motorista

Procuradoria da República sustenta que ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras tentou dissuadir Sebastião Ferreira de depor, em 2014

Estadão Conteúdo
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O juiz federal Sérgio Moro classificou como “vergonhoso episódio” a suposta pressão exercida pelo ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine sobre seu motorista. Ao pedir a conversão da prisão temporária do ex-dirigente em custódia por tempo indeterminado, o Ministério Público Federal (MPF), no Paraná, argumentou que o executivo tentou dissuadir Sebastião Ferreira da Silva, o “Ferreirinha”, de prestar depoimento, em 2014, em investigação da Procuradoria da República, em São Paulo.

Bendine foi preso na quinta-feira (27/7), na Operação Cobra, 42ª fase da Lava Jato. Durante busca e apreensão na casa dele, investigadores acharam anotações do executivo. Um dos manuscritos indicava: “1º/5: encontro com motorista. 5/5: telefone 10:49 hs p/ dissuadi-lo a não depor no MPF.”

Para a Procuradoria da República, Aldemir Bendine “procurou interferir na produção da prova que seria colhida pelo Ministério Público Federal, especificamente o depoimento que veio a ocorrer, por Sebastião Ferreira da Silva, pessoa que havia trabalhado como motorista do investigado no Banco do Brasil”.

Ao mandar prender preventivamente Aldemir Bendine, o juiz da Lava Jato afirmou. “Colhidas ainda provas de que, em investigação anterior, Aldemir Bendine, contando com o auxílio de cúmplices, ameaçou e pressionou motorista que lhe prestou serviços no Banco do Brasil, Sebastião Ferreira da Silva, a não depor ou a prestar falso testemunho em investigação acerca de aquisição de bem imóvel com vultosos valores em espécie.”

O juiz da Lava Jato foi incisivo. “A apreensão de manuscrito em sua residência, com anotações nesse sentido (“encontro c/ motorista” “p/ dissuadi-lo a não depor no MPF”) e o depoimento da própria testemunha relatando as pressões e ameaças, são provas, em cognição sumária, de um vergonhoso episódio, no qual o então presidente do Banco do Brasil teria pressionado testemunha, pessoa simples, motorista que prestava serviços a ele e à instituição financeira, para não falar a verdade, obstruindo assim a Justiça.”

Ferreirinha
Segundo a Lava Jato, em 29 de julho deste ano, Sebastião Ferreira da Silva, o “Ferreirinha”, foi novamente ouvido perante o MPF, “oportunidade em que também apresentou o depoimento prestado em 5 de maio de 2014”.

“A data do depoimento exibido (5 de maio de 2014) é idêntica àquela da anotação de Bendine, na qual ele registrava em notas o procedimento que adotaria para interferência na investigação ministerial na tentativa de “dissuadi-lo a não depor no MPF.”

Os procuradores relataram a Moro que no depoimento de 29 de julho foi perguntado a Ferreira como foi a pressão para não declarar nada sobre o que sabe acerca dos fatos. O motorista, afirma a Procuradoria, afirmou que “primeiramente Alexandre Abreu, pessoa relacionada a Aldemir Bendine, tentava demover Sebastião Ferreira de prestar depoimento no MPF, inclusive, tendo oferecido outro emprego”.

Para o MPF, “a credibilidade do depoimento de Sebastião Ferreira ganha amparo na anotação apreendida na casa de Aldemir Bendine, a qual retrata a realização de um telefonema e a intenção deste em ter encontrado com o motorista para evitar o depoimento no Ministério Público Federal, que veio a ocorrer, de fato, em 5 de maio de 2014”.

A Procuradoria sustenta também que ocorreram ligações telefônicas de Bendine para Gilberto Carvalho, poucos dias após a oitiva de Ferreira, a indicar que este ainda, de alguma forma, procurava embaraçar as investigações.

Os procuradores foram taxativos. “Além de utilizar da influência de uma das mais altas autoridades da República, Aldemir Bendine tentou pressionar o motorista a não depor, por meio de ligações de pessoas estranhas àquele que seria testemunha de fatos ilícitos praticados pelo então presidente do Banco do Brasil.”

“Os fatos relatados por Sebastião Ferreira ainda em 2014, bem como as anotações apreendidas na residência de Aldemir Bendine, revelam que o último adotou medidas concretas para obstrução de Justiça no recente ano de 2014, fato de elevada gravidade e que possui grande potencial de se repetir se mantido solto o investigado.”

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