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Greve de servidores federais do Judiciário completa 129 dias. É a mais longa da história do setor

Sem aumento desde 2006, os trabalhadores pedem a reposição das perdas inflacionárias dos últimos nove anos

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
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1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A greve conduzida por servidores da Justiça Federal já é a mais longa na história do Judiciário brasileiro. Iniciada em 9 de junho, a paralisação completa 129 dias nesta quinta-feira (15/10). Até então, a maior interrupção nas atividades da categoria havia sido em 2010, quando servidores da Justiça Estadual de São Paulo pararam por 127 dias.

Sem aumento desde 2006, os grevistas pedem a reposição das perdas inflacionárias dos últimos nove anos. No Congresso Nacional, o movimento tem apostado na pressão sobre parlamentares pela derrubada do veto 26/2015 da presidente Dilma Rousseff, que barra o projeto de lei responsável por um reajuste dos salários em cerca de 59%.

Em meio à crise política e econômica enfrentada no país, entretanto, as expectativas da categoria são cada vez mais reduzidas.

O presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajufe), Adilson dos Santos, acusa partidos de terem transformado a pauta do veto em moeda de troca na reforma ministerial e avalia que as demandas foram “atropeladas pela conjuntura”.

Sintrajud-SP/Divulgação
O coordenador-geral da Fenajufe, Adilson Rodrigues dos Santos

Na próxima semana, entre os dias 23 e 25 de outubro, haverá uma reunião nacional para definir os rumos do movimento, na Paraíba. O mais provável é que os sindicatos reunidos votem pelo fim da paralisação. “Vamos fazer um balanço do que já fizemos, analisar o quadro da conjuntura e como dar continuidade à campanha para cobrar respeito àquilo que nos é devido, senão novos movimentos serão deflagrados”, diz o coordenador-geral da Fenajufe.

Nossa greve se alongou para além do que deveria e a gente sabe que isso penaliza a população e o usuário da Justiça. Mas os responsáveis pela deflagração e pelo alongamento da greve são o governo e o Judiciário – que só se preocupou com a vida dos magistrados e lavou as mãos sobre as condições de trabalho do servidor.

Adilson dos Santos

Reclamações
Com o avanço da greve, os servidores do Judiciário federal passaram a enfrentar duras críticas de advogados e usuários em geral. São recorrentes os relatos de endividamento e, entre os mais jovens, há casos de escritórios de advocacia que tiveram de fechar as portas por causa da paralisação nos processos acompanhados.

É o caso de Ana Cláudia Machado, de 31 anos. Advogada desde 2008, ela e alguns colegas abriram um escritório próprio no ano passado, voltado para as áreas cível, trabalhista e previdenciária. Atolados em dívidas, os sócios tiveram de devolver o espaço alugado no centro de Brasília.

Com a crise econômica, os clientes não tinham dinheiro para pagar honorários e começamos a combinar o pagamento no êxito. Achamos que dava para levar assim, até que com a greve todos os processos simplesmente pararam de andar ou andaram a passos muito lentos”, conta Ana Cláudia. Ao todo, foram praticamente cinco meses sem receber nada e até o estagiário teve de ser demitido.

Agora, vou ter de sair limpando meu nome e pagando minhas contas. Nós mantivemos a sociedade, então, depois que me reestruturar, se eu sentir que dá para recomeçar, vamos ver se é possível reabrir o escritório.

Ana Cláudia Machado
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Vilmonias não consegue receber um pagamento determinado pela Justiça; dinheiro seria usado na compra de um novo salão de beleza e pagamento de dívidas

 

Dona de um salão de beleza na Asa Norte, Vilmonias Pereira Freire também diz ter sido prejudicada pela paralisação. Há alguns anos, a empresária investiu suas economias na compra de um apartamento em Águas Claras, mas a construtora declarou falência e só neste ano a Justiça obrigou o pagamento. Com a greve, a devolução do dinheiro teve de ser adiada.

“Acho que esta greve está durando muito tempo e só vai piorar. Já perdi a chance de negociação e não vou conseguir comprar uma loja que tinha encontrado”, diz Vilmonias.

Hoje, ela paga cerca de R$ 5 mil pelo aluguel do salão e ainda não tem casa própria. “Estou perdendo muito dinheiro, ainda mais com essa crise. Estou tendo de encaixar cliente em tudo quanto é horário, para conseguir pagar minhas dívidas”, desabafa a empresária, ao sair do salão por volta das 22h.

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