GO: “Tinha vergonha”, diz vítima que denunciou prefeito por pedofilia
Funcionário público conta que sofreu assédios sexuais dos 9 aos 16 anos. Assis Peixoto, prefeito de São Simão, foi preso preventivamente
atualizado
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Goiânia – Após seis anos de abuso e cinco em tratamento psiquiátrico, um funcionário público de 30 anos decidiu quebrar a barreira do silêncio e da vergonha para denunciar os crimes sexuais dos quais foi vítima na infância e adolescência em uma cidade do interior de Goiás.
Ele é uma das seis pessoas que procuraram o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) recentemente para denunciar o prefeito de São Simão (GO), Francisco de Assis Peixoto (PSDB), de 58 anos, preso de forma preventiva por suspeita de pedofilia, na última quarta-feira (28/7).
A vítima conta que tomou a decisão depois que um vídeo mostrando o prefeito se masturbando em uma videochamada com um menor de idade começou a circular na internet. Ele explica que não fez a denúncia antes pois tinha vergonha e não havia provas dos abusos.
“Quando vi aquilo, fez minha memória voltar ao meu passado. Eu falei: ‘Essa criança e essa família estão sofrendo’. A gente precisa fazer alguma coisa para denunciar e apoiar as famílias”, afirma o servidor.
Primeiro abuso
Os abusos teriam acontecido em diversas situações, como clubes, viagens e até durante uma festa de casamento. O jeito simpático e extrovertido do prefeito ajudava a conquistar a vítima, segundo o funcionário público. Ele ainda se lembra do primeiro abuso, quando tinha 9 anos.
“Foi na piscina do clube da minha cidade. Nós estávamos em uma rodinha de crianças na água. Ele se aproximou de nós e, quando me dei conta, já tinha pegado a minha mão e levado até a sunga dele. Percebi que ele estava excitado sexualmente. Fiquei assustado e guardei para mim. Tinha vergonha.”
A vítima relata que desenvolveu um quadro de depressão e síndrome do pânico, por causa dos abusos que sofreu entre 2001 e 2007. Ele passa por tratamento psiquiátrico há cinco anos e toma cinco remédios diferentes diariamente.
Alívio
Ele diz que ficou um pouco assustado quando soube da prisão nesta semana, pois não imaginava que ela aconteceria tão rápido. No entanto, teme que o caso não seja concluído. “Espero que ele pague por seus crimes.”
Sua família só soube dos crimes agora. Ele conta que sua mãe e irmã se desesperaram e choraram muito ao saber, mas que está recebendo muito apoio.
Chuva de denúncias
A primeira denúncia formalizada contra o prefeito foi feita em 19/7, depois que o Conselho Municipal de Segurança Pública de São Simão recebeu imagens e vídeos de uma mãe, que teve o filho de 15 anos assediado pelo prefeito.
Desde então, mais cinco pessoas fizeram denúncias oficiais contra o prefeito, segundo o MPGO. As vítimas tinham entre 8 e 15 anos na época dos abusos e são todas do sexo masculino, segundo a presidente do conselho, Vanessa Lima Araújo.
O advogado de Assis Peixoto, Dimas Lemes, informou que vai aguardar a conclusão da colheita de provas da investigação para apresentar a defesa completa. Ele defende que a prisão deve ser revogada, pois o cliente não oferece risco à continuidade da apuração.
Operação
Além da prisão do prefeito, foram cumpridos mandados de busca e apreensão. Participaram da ação, quatro promotores de Justiça, quatro delegados da Polícia Civil e 12 policiais civis.
A operação foi batizada de Paideia, termo do grego antigo que procura sintetizar a noção de educação na sociedade grega clássica. A palavra tem relação com a educação voltada para as crianças, referindo-se à educação familiar, bons modos e princípios morais.
Assis foi eleito com 4.277 votos em 2020, o que representa 40,65%. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele declarou como ocupação ser técnico em contabilidade, estatística, economia doméstica e administração. Ele tem ensino médio completo. O patrimônio declarado é de R$ 1,4 milhão. Natural de Araguari (MG), ele já teve outras passagens pela prefeitura da cidade.