Um ano após a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos que faleceu após ser agredido por seguranças em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS), a diretora de Cultura e Desenvolvimento de Talentos da rede, Cristiane Lacerda, afirmou, em entrevista ao Metrópoles, que, com 100 mil funcionários, o supermercado tende a refletir “um pouco do que também acontece na sociedade”.
“Se há racismo [na sociedade], também temos dentro de casa. Se tem discriminação, também tem dentro de casa. Após o caso do João Alberto, em Porto Alegre, a gente fez um reforço no nosso time em relação a isso. Internalizamos a segurança logo de imediato, porque era uma ação importante. Mergulhamos profundamente na questão racial do Brasil, para a gente conseguir traçar o nosso plano de ação”, disse a representante (confira a partir de 0’37”).
De acordo com a diretora, após o episódio trágico, a marca se reposicionou e modificou procedimentos internos. “Desde novembro [de 2020], a gente revisou todas as políticas internas, não só com colaboradores, mas também com clientes e fornecedores. Adotamos o que chamamos de tolerância zero para todo tipo de discriminação, principalmente a racial”, afirmou. Cristiane explicou, ainda, a adoção de cláusulas antirracistas nos contratos com fornecedores. “Se você é um fornecedor que não adota práticas antirracistas, a gente não quer trabalhar com você”, disse (3′).
Questionada a respeito de outros episódios, como a morte de Manoel Moisés Cavalcante, colaborador de uma empresa parceira que faleceu numa loja Carrefour no Recife e teve o corpo escondido por guarda-sóis e caixas de cerveja; ou mesmo as humilhações provocadas por uma gerente a um funcionário da limpeza da rede, no Mato Grosso do Sul, Cristiane se recusou a responder. “Creio que seja melhor conversar com responsáveis pela segurança”, disse (10′).
Ainda assim, após insistência, ela declarou que a rede “englobou e fez uma revisão considerando situações variadas, e isso foi tudo revisado, adequado”. Cristiane abordou o que foi feito pelo Carrefour Brasil ao longo deste ano após a morte de Beto. Conforme explicou, foram estipuladas 8 ações divididas em 72 compromissos. “O que a gente fez ao longo deste ano foi colocar em prática essas ações. Eu costumo dividir em ações focadas em discriminação e violência; na empregabilidade; no empreendedorismo de pessoas negras e na educação. Todas as ações se dividem nesses blocos”, declarou.
“Não é uma questão do Carrefour”
Cristiane explicou que o Carrefour formou um comitê com pessoas ligadas à luta contra o racismo no país. O grupo deu base às ações propostas pela rede e indicou caminhos para a mudança no comportamento da empresa. “Eles nos ajudaram a entender esse universo. A partir daí, a gente foi construindo junto com eles as principais soluções, o que a gente daria como contribuição, porque é uma questão do Brasil, não é uma questão do Carrefour, mas o Carrefour, pelo tamanho, quer ter uma contribuição significativa”, disse.
Durante a entrevista, Lacerda ainda abordou assuntos como vagas para pessoas negras na rede Carrefour Brasil, planos de carreira, ações antirracistas, concessão de bolsas de estudos à população negra e capacitação de líderes negros nos quadros da empresa. Confira: