metropoles.com

Em Belém, Lula quer unir países amazônicos para cobrar nações ricas

Cúpula da Amazônia, em Belém, reúne países em busca de equilíbrio entre preservação e desenvolvimento

atualizado

Compartilhar notícia

Cláudio Kbene / PR
Lula na Colômbia
1 de 1 Lula na Colômbia - Foto: Cláudio Kbene / PR

A reunião de chefes de Estado de países amazônicos e de convidados que também têm florestas tropicais, na próxima semana, em Belém (PA), tem o objetivo de propor ações que equilibrem a proteção da vegetação e o desenvolvimento econômico e social.

Anfitrião da Cúpula da Amazônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articula para formar um bloco de nações florestais e cobrar dos países ricos recursos para trocar atividades que degradam a natureza por práticas sustentáveis.

“O que queremos é dizer ao mundo o que vamos fazer com as nossas florestas e o que o mundo tem que fazer para nos ajudar”, resumiu Lula em sua última live semanal. O petista adotou a pauta ambiental e a transição energética como marcas de seu terceiro governo, e tem insistido em cobrar publicamente US$ 100 bilhões que foram prometidos pelos países desenvolvidos, em 2009, para financiar ações contra as mudanças climáticas em nações pobres e em desenvolvimento.

O fortalecimento de um bloco de países que detém grandes áreas de floresta é a maneira proposta por Lula para buscar esses recursos já na próxima conferência das Nações Unidas para o clima, a COP-28, que acontecerá em novembro deste ano, em Dubai.

Por isso, além das nações que dividem a floresta amazônica, o Brasil chamou para a cúpula a Indonésia, a República Democrática do Congo e República do Congo, além da França, que controla a Guiana Francesa. O presidente francês, Emmanuel Macron, porém, não confirmou presença em Belém, frustrando um pouco a diplomacia brasileira, que vê na Cúpula da Amazônia um dos eventos mais importantes do ano.

Mesmo sem Macron, as expectativas são grandes para o encontro na capital paraense, que também sediará a COP-30, no ano que vem. Os detalhes do tratado a ser assinado pelos chefes de Estado no fim do evento ainda estão sendo debatidos, mas há a expectativa de que todos os países amazônicos façam o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030.

0

Participam do evento chefes dos seguintes Estado: Brasil, Colômbia, Bolívia, Colômbia, Guiana, Peru e Venezuela. Segundo o Itamaraty, os chefes de Estado de Suriname (Chan Santokhi) e do Equador (Guillermo Lasso) não virão, por questões de política interna, e deverão ser representados por ministros. Esses países assinaram um Tratado de Cooperação Amazônica em 1978 e agora deverão atualizar seus termos.

É esperado o fortalecimento regional para combater crimes como venda de madeira ilegal, garimpo e tráfico de drogas em toda a Amazônia, e acordos de cooperação entre países fronteiriços para ações contra o desmatamento.

Ao mesmo tempo, os negociadores querem propor aos países alternativas para viabilizar a substituição de atividades predatórias do meio ambiente por práticas sustentáveis. É nesse ponto que entra a necessidade de financiamento nacional e estrangeiro, pois fazer a transição custa mais aos produtores do que seguir práticas tradicionais de exploração do território.

Como fazer

O economista Rafael Feltran-Barbieri, do WRI Brasil, que é o braço brasileiro do World Resources Institute (WRI), instituição global de pesquisa e promoção da proteção ao meio ambiente, afirma que é preciso mostrar aos governos a possibilidade de zerar o desmatamento e ao mesmo tempo aumentar a renda na região amazônica.

A WRI Brasil fez um estudo projetando cenários econômicos com mudanças no modo de produção na Amazônia orientadas pelo Acordo de Paris. Num cenário em que há a transição para uma produção sustentável, a Amazônia Legal brasileira chega a 2050 com PIB R$ 40 bilhões superior, se nada mudar, com 312 mil empregos adicionais e 81 milhões de hectares de florestas a mais.

“Concluímos que temos capacidade de zerar desmatamento e aumentar renda, emprego e PIB da Amazônia”, disse o economista, em entrevista ao Metrópoles. “O desmatamento é ultra ineficiente do ponto de vista econômico. Numa equação que leva em conta terra, capital e trabalho, temos um desequilíbrio na Amazônia porque tem muita terra, boa parte grilada e invadida”, afirma Rafael.

“Se a gente trava o desmatamento, a terra não vai ser abundante, então os produtores agropecuários vão ter que usar mais capital e mais trabalho, ou seja, investir mais e melhor e empregar mais gente. Se o desmatamento de novas áreas deixa de ser opção, a opção será recuperar terras degradadas”, explica Feltran-Barbieri.

Rafael Feltran-Barbieri afirma que o objetivo de eventos como a Cúpula da Amazônia é explicar para a sociedade em geral a importância de agir contra a degradação ambiental. “Não há justificativa. A agricultura e a pecuária que pressionam pelo desmatamento estão matando a fonte de recurso de sua produtividade. A floresta em pé produz as chuvas e a regulação climática necessárias para a produção”, conclui.

Quanto e como

Porém, vai custar caro. O estudo da WRI previu que os investimentos para financiar uma nova economia da Amazônia foram estimados em 1,8% do PIB nacional ao ano. Seriam, até 2050, R$ 2,56 trilhões adicionais ao que o país já investe em ações na Amazônia.

Ações para estimular a transição para uma economia sustentável passam por subsídios financeiros e facilidades de crédito para iniciativas menos poluentes. Para os negociadores do tratado final da Cúpula da Amazônia, esses incentivos devem ser construídos junto com os planos para coibir o desmatamento ilegal, para que quem vive na região não fique pelo caminho enquanto há uma transição ecológica da economia.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?