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Eleições 2022: carta de Lula frustra mercado por “falta de clareza”

Documento assinado por Lula foi recebido com ânimo por investidores, que logo foi revertido pela falta de clareza sobre metas fiscais

atualizado

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Lula Alckmin / foto: Ricardo Stuckert
Lula Alckmin / foto: Ricardo Stuckert
1 de 1 Lula Alckmin / foto: Ricardo Stuckert - Foto: Lula Alckmin / foto: Ricardo Stuckert

Com o intuito de esclarecer como será seu eventual governo, incluindo sua agenda econômica, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou na noite de quinta-feira (28/10) a “Carta para o Brasil do Amanhã”. O documento foi recebido com ânimo por investidores da Faria Lima, que logo reverteram euforia pela falta de clareza sobre metas fiscais, enquanto há menção sobre subsídios e aumento dos gastos públicos para alavancar a infraestrutura. 

Após a leitura da carta, o humor da Faria Lima logo mudou, pois o documento não esclarece quais são as metas fiscais anuais do possível novo governo de Lula.

Veja o documento completo:

Carta para o Brasil do amanhã by Manoela Alcântara on Scribd

“Como via de regra, o mercado prefere uma certeza ruim se comparado a uma incerteza. E segundo, a carta do ex-presidente Lula, a impressão que passa para a Faria Lima, de forma geral, é a certeza de uma incerteza”, disse Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos.

Calestine enumerou dois pontos principais da “incerteza” que há na carta de Lula: “Além de não sabermos quem seriam os ministros indicados pelo presidente, também não sabemos do ponto de vista prático de como ele e sua equipe equilibrarem as contas públicas ao passo que estenderam as ajudas e pacotes de auxílio às populações de baixa renda e mais fragilizadas”.

“Ontem [quinta, 27/10], nós tivemos um primeiro movimento bem rápido de aceno positivo do mercado à carta após a publicação, bolsa para cima e dólar para baixo. Depois que a carta foi lida, o dólar devolveu a queda e o índice devolveu a alta, justamente pela dúvida que pairou no ar”, completou.

Lula e o teto de gastos

O mercado também tem dúvidas sobre qual será a âncora fiscal adotada pelo potencial novo governo, já que o teto foi reiteradas vezes atacado por Lula. Além disso, como noticiado pelo Metrópoles, o PT deverá propor uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para reformar o teto de gastos. 

“A Faria Lima recebeu muito bem, a princípio [a carta]. Porém, ao ver o conteúdo, o otimismo desapareceu. O que se avaliou negativamente foram as ideias de subsídios, ou seja, os gastos sociais deverão ser elevados. A questão que ficou foi qual será a âncora fiscal do país [em um governo de Lula]? Qual será a ferramenta para o Brasil ter credibilidade fiscal?”, questionou Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.

O documento pode ter sido um “banho de água fria” quanto às reformas que o mercado almeja ao país. “No contexto atual de crise, a gestão econômica, ao que tudo indica, seguirá uma incógnita até o ‘day after’ das urnas”, explicou Danilo Morais, professor de ciência política da pós-graduação do Ibmec-DF.

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A carta

O documento divulgado por Lula “detalha” os planos de seu eventual governo após críticas de que o projeto apresentado no início das eleições era genérico. “Esta não é uma eleição qualquer. O que está em jogo é a escolha entre dois projetos completamente diferentes para o Brasil”, começa a carta.

O texto descreve o atual governo com termos como “país do ódio”, “do racismo”, “da homofobia” e “do apreço à ditadura e aos torturadores”. Enquanto isso, o Brasil de Lula é descrito como “país da esperança”, “dos salários decentes”, “da comida no prato” e “do compromisso inabalável com a democracia”.

A carta cita medidas para um desenvolvimento econômico, social, sustentável, educação, saúde, habitação e infraestrutura, segurança, cultura e esportes, direitos humanos, reindustrialização, agricultura, política externa, democracia e liberdade.

O documento”pincela” como será a condução do Ministério da Fazenda, caso o petista vença o segundo turno em 30 de outubro. Em aceno ao mercado e a fim de apaziguar as desconfianças sobre sua candidatura sobre uma eventual política fiscal “irresponsável”, a carta fala em “regras claras e realistas” e em compromissos “plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação”.

O plano cita a combinação de responsabilidade fiscal e social com desenvolvimento sustentável, seguindo as “tendências das principais economias do mundo”. O trecho faz referência à agenda ESG (sustentabilidade, social e governança, na sigla em inglês), que os países desenvolvidos vem adotando a fim de melhorar o bem-estar de cada economia de mercado.

A agenda petista com viés desenvolvimentista é pautada no resgate de obras estruturantes que deverão ser decididas junto aos governadores estaduais. A retomada na construção civil, ou seja, na infraestrutura, é uma forma de acelerar a geração de empregos, setor que emprega mais rápido, mas também um aceno às empreiteiras.

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