A nova pesquisa do Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (27/10), a três dias do segundo turno, aponta o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à frente com 53% dos votos válidos. Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição, pontuou 47%.
Trata-se da quarta consulta de intenções de voto do instituto após o primeiro turno, no dia 2 de outubro. Desde então, os números têm mostrado uma estabilidade no cenário. Nos levantamentos de 7 e 14 de outubro, o petista teve 53% dos votos válidos e, na última semana, variou um ponto percentual para baixo, ficando com 52%.
Bolsonaro pontuou 47% nas duas primeiras sondagens e oscilou um ponto positivo na última pesquisa, chegando a 48%. A margem de erro para os levantamentos é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Pela legislação brasileira, um candidato a governador ou a presidente é considerado eleito se obtiver maioria absoluta dos votos; ou seja, metade dos votos válidos mais um – excluídos os votos em branco e os nulos.
O Datafolha ouviu 4.592 pessoas, entre 25 e 27 de outubro. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O levantamento está registrado no TSE com o número BR-04208/2022.
Pesquisa estimulada
No cenário estimulado, com votos totais, e no qual o entrevistado responde em quem vai votar com base numa lista de postulantes, 49% disseram escolher Lula no próximo domingo, enquanto 44% votarão em Bolsonaro.
Os que afirmam votar em branco ou nulo são 5%. Outros 2% estão indecisos.
O petista manteve o mesmo percentual, de 49%, nos três primeiros levantamentos. O candidato à reeleição pontuou 44% nos dois primeiros e variou para 45% na semana passada.

Em época de eleição, as pesquisas eleitorais são, quase sempre, termômetros importantes para acompanhar o cenário político. No entanto, não é raro observar resultados divergentes entre pesquisas que foram realizadas durante o mesmo período. Isso, na verdade, não aponta erro, mas explica como certas metodologias adotadas por empresas podem influenciar resultadosSDI Productions/ Getty Images

Quando não se entende como os estudos são feitos, é comum achar que institutos podem estar tentando manipular resultados. Afinal, por qual motivo as pesquisas eleitorais são tão diferentes e erram tanto, não é mesmo? A resposta é simples: dependendo do local, da escolha de abordagem e até do momento em que as pesquisas são feitas, os resultados podem divergirAnthiaCumming/ Getty Images

As pesquisas eleitorais são um retrato do momento que os dados foram coletados. Elas não funcionam em tempo real. Por exemplo, se a intenção de voto para um candidato A é alta, mas no dia seguinte as coisas mudam pois ele se envolveu em polêmicas, a pesquisa estará desatualizada e não corresponderá mais à intenção do públicoImage_Source_/ Getty Images

A metodologia utilizada também pode ser uma variante. As perguntas feitas pelas empresas e até mesmo a abordagem utilizada influenciam na resposta do público Getty Images

Por exemplo, levemos em consideração que a empresa B escolheu realizar a pesquisa eleitoral entregando uma lista com nome dos candidatos para que a pessoa possa circular. A empresa C optou por abordar verbalmente pessoas na rua para descobrir a intenção de voto delas. A chance da empresa A conseguir mais participantes na pesquisa é superior às chances da empresa C, e isso já influencia no resultado de uma para a outra Getty Images

Além disso, apresentar estímulos que podem afetar a resposta do eleitor, fazer a entrevista pessoalmente, por e-mail ou por telefone e até a ordem das palavras pode desestimular ou estimular a participação. Levando em consideração que várias empresas realizam enquetes, obviamente os resultados serão conflitantesIssarawat Tattong/ Getty Images

O local onde as pesquisas são feitas também pode fazer diferença. Geralmente, áreas onde a renda dos habitantes é baixa, determinados partidos tendem a ganhar, assim como locais onde a renda dos habitantes é mais alta, a preferência por outro determinado partido é nítida. Se um instituto conseguir entrevistar mais pessoas em um local e não no outro, o resultado também será influenciadoDimitri Otis/ Getty Images

Ou seja, em termos práticos, as empresas, muitas vezes, não estão erradas. As diferenças metodológicas das pesquisas é que definem o resultadokrisanapong detraphiphat/ Getty Images

Apesar de o que possa parecer, as diferenças entre as pesquisas não são mal vistas. Elas, na verdade, ajudam os institutos a compararem os resultados e melhorarem a abordagem para obter resultados mais exatos no futuroSEAN GLADWELL/ Getty Images
Rejeição
O instituto também mediu o índice de rejeição aos dois candidatos à Presidência. Os que disseram que não votariam de jeito nenhum no atual presidente são 50%. Outros 45% afirmam o mesmo sobre o petista.
Na pesquisa da semana passada, o percentual do ex-presidente Lula era de 46%, enquanto Bolsonaro manteve o índice de 50%.
Ainda segundo o Datafolha, 92% dos eleitores estão totalmente decididos sobre o voto no próximo domingo, enquanto 7% ainda consideram mudar.
Institutos sob investigação
Os resultados são divulgados em meio a uma nuvem de desconfiança sobre os institutos de pesquisa, incentivada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. A Polícia Federal e o Cade chegaram a abrir investigações para apurar a atuação das empresas durante a campanha eleitoral, mas foram suspensas pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
O ministro chamou os procedimentos de “evidente usurpação da competência” do TSE e apontou “incompetência absoluta” e “ausência de justa causa” da PF e do Cade.
Parlamentares buscam, na Câmara dos Deputados e no Senado, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os institutos. Ambos os requerimentos atingiram o mínimo de assinaturas necessárias; no entanto, não há previsão para instalação.
Em entrevista ao Metrópoles, na segunda-feira (24/10), Bolsonaro voltou a colocar dúvidas sobre a confiança nas sondagens. Segundo o mandatário, levantamentos feitos pela própria campanha apontam um empate técnico entre os presidenciáveis.
“Pessoal passa, meus técnicos, que a gente está num empate técnico. Mas eu sempre digo, não podemos confiar em pesquisas. Porque, coincidentemente, todas as pesquisas jogam contra mim desde 2018. E não foi diferente agora”, declarou em entrevista à diretora-executiva do Metrópoles, Lilian Tahan.
Em 2018, o último Datafolha antes do segundo turno apontava o atual presidente com 47% das intenções de voto contra 39% de Fernando Haddad (PT). Ao fim da eleição, Bolsonaro teve 55,13% dos votos válidos, e Haddad, 44,87%.
Primeiro turno
O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 2 de outubro, mostrou que a disputa pelo Palácio do Planalto entre Lula e Bolsonaro foi acirrada. Com 100% das urnas apuradas, o petista alcançou 48,43% dos votos, e o atual presidente, 43,20%.
Até a véspera do pleito, no entanto, os principais institutos de pesquisa não conseguiam cravar se haveria, ou não, um segundo turno na eleição nacional. No levantamento do Datafolha antes da eleição, Lula ficou com 48% contra 34% de Bolsonaro.