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Anistia Internacional defende investigação externa de caso Marielle

O crime completou 8 meses sem elucidação. Entidade questiona possível interferência indevida de autoridades brasileiras na apuração

atualizado

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Marielle
1 de 1 Marielle - Foto: Reprodução/ Instagram

No dia em que se completam oito meses do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, a Anistia Internacional afirmou que as investigações da polícia se
encontram num “labirinto”, uma vez que não há informações fechadas ainda sobre os mandantes, a
motivação do crime, os executores, e a arma e o carro usados pelos assassinos.

A ONG defende que seja estabelecido um mecanismo externo e independente para acompanhamento
do trabalho policial, de modo a aferir se não está havendo interferência indevida – o crime teve motivação política, segundo aponta a apuração.

A Anistia fez um levantamento sobre as poucas informações já divulgadas (o caso corre em sigilo total
pela área da segurança do Estado, sob intervenção federal desde fevereiro) e apontou todas as perguntas ainda sem respostas.

Por exemplo: qual foi a origem da arma e da munição utilizadas, por que não foram feitos exames de raio x nos corpos, qual foi o trajeto dos assassinos na noite do crime?

O documento foi divulgado nesta quarta-feira (14/11), com a presença dos pais de Marielle, Marinete e Antonio Silva. Marinete disse esperar que não haja prejuízo para as investigações com a troca de governo e mudanças na polícia a partir de janeiro de 2019.

“Já deram várias versões, disseram que o caso estava caminhando. Tanto o (ministro da Segurança
Pública) Raul Jungmann quanto (o secretário de Segurança, general) Richard Nunes disseram que
estava praticamente resolvido, e não estamos vendo isso. Cada vez que sai uma notícia que tem um
avanço e está chegando perto, a gente não tem nada de concreto. Temos que aguardar mesmo e ver o que acontece até o fim do ano”, afirmou Marinete.

“A impressão que tenho é de que estamos enxugando gelo. Todo mês são as mesmas perguntas sem respostas”, disse o pai da vereadora.

Em setembro, o deputado Marcelo Freixo (PSOL), que era amigo de Marielle e trabalhara há dez anos com ela na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, ouviu da polícia que o crime estava perto da elucidação. Poucos dias depois, o secretário da Segurança afirmou que ele poderia não ser desvendado até o fim da intervenção, dia 31 de dezembro.

No último dia 1º, Jungmann anunciou que a Polícia Federal está investigando se a condução da
investigação pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio está sofrendo ingerência externa (os
agentes federais não irão entrar na apuração do crime em si, ele ressalvou). Isso porque há a suspeita de que agentes do Estado, políticos ou policiais, podem estar atrapalhando o trabalho, para acobertar
comparsas – uma das hipóteses é a participação de integrantes de uma milícia, com ligação com a
polícia.

A coordenadora de pesquisa da Anistia, Renata Neder, disse que não há sinalização de que o conclusão se dê até o fim de dezembro. “Afinal, qual é o andamento da investigação? As autoridades precisam se responsabilizar diante desse quadro de incongruência e de perguntas sem resposta. Sem pressão não tem solução”, afirmou, lembrando que Marielle era defensora dos direitos humanos e vereadora eleita no Rio de Janeiro, segunda maior cidade do país, e que sua execução foi um ataque às instituições democráticas.

“A Anistia vem a publico reiterar sua posição de que é urgente um mecanismo externo e independente
para monitorar essas investigações, com peritos, juristas e especialistas em investigação criminal. Eles deveriam poder se debruçar sobre as investigações para verificar se o devido processo está sendo seguido, se todas as linhas estão sendo exploradas, se está havendo negligência, interferência externa indevida. A Anistia desde o início alertou para o risco desse caso ficar sem solução”, pontuou.

Defensora dos direitos de moradores de favelas, negros, mulheres e da população LGBT, Marielle levou quatro tiros na cabeça dento de seu carro na noite de 14 de março. Ela e seu motorista saíam de um evento no Estácio, região central do Rio, quando foram executados.

 

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