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Delator diz que empresário comprou 4 votos para Rio sediar Olimpíadas

Segundo Carlos Miranda, amigo do ex-governador do RJ Sérgio Cabral, Arthur Soares Filho pagou R$ 9,22 milhões em esquema de corrupção

atualizado

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GIULIANO GOMES/PR PRESS
EX-GOVERNADOR DO RIO É TRANSFERIDO PARA PRESÍDIO EM CURITIBA
1 de 1 EX-GOVERNADOR DO RIO É TRANSFERIDO PARA PRESÍDIO EM CURITIBA - Foto: GIULIANO GOMES/PR PRESS

Carlos Miranda, amigo de infância do ex-governador carioca Sérgio Cabral (MDB) e apontado como operador do esquema de corrupção liderado pelo político emedebista, afirmou à Justiça Federal nesta segunda-feira (21/5) que o empresário Arthur Soares Filho pagou US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 9,22 milhões) para comprar quatro votos de dirigentes africanos a fim de garantir a realização das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. A eleição foi realizada em outubro de 2009 em Copenhague, na Dinamarca.

O delator afirmou ter ouvido essa informação do próprio Cabral (foto em destaque), em conversa dos dois na prisão, no primeiro bimestre de 2017. O ex-governador do Rio de Janeiro e Carlos Miranda estão presos desde novembro de 2016. Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, é dono de firmas que teriam mantido contratos de até R$ 3 bilhões com o governo do estado durante a gestão do emedebista.

Miranda firmou um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e já havia mencionado aos procuradores essa conversa com Cabral. Nesta segunda, no entanto, declarou isso pela primeira vez em juízo, durante audiência de processo resultante da Operação Unfair Play, promovida pela Polícia Federal e pelo MPF em 5 de outubro do ano passado.

O processo investiga a compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse eleito sede das Olimpíadas. Neste caso, são réus Sérgio Cabral, o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Organizador da Rio-2016 Carlos Arthur Nuzman e o ex-diretor de marketing do COB Leonardo Gryner.

Segundo Carlos Miranda, o empresário Arthur Soares Filho teria usado um banco francês para transferir o dinheiro aos quatro dirigentes.

Três décadas de comentários sobre crimes
Cabral nega a compra de votos. Presentes ao depoimento desta segunda-feira (21/5), seus advogados perguntaram a Miranda porque o ex-governador teria feito essa afirmação a alguém que, naquele período, já estava negociando um acordo de delação premiada. Segundo o delator, era comum conversar com Cabral sobre os esquemas de propina.

“Participei de uma organização criminosa na qual  Sérgio Cabral era o chefe. Os comentários sobre esse ou outros crimes aconteceram ao longo de 30 anos”, afirmou.
O operador do esquema de corrupção já havia feito a mesma afirmação em depoimento prestado ao MPF em abril de 2017, ainda antes da Unfair Play. “Recentemente, na prisão, cerca de dois ou três meses atrás, Sérgio Cabral comentou com o colaborador que Arthur (Soares Filho), de fato, teria feito pagamentos a dirigentes africanos ligados ao setor de atletismo para a compra de quatro votos”, registrou o depoimento daquela época. A delação foi homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A investigação do MPF indica que o dinheiro foi transferido por Soares Filho para uma empresa de Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, ex-presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF – na sigla em inglês).
Um e-mail de Papa Diack a Leonardo Gryner indicou haver outros beneficiários. O africano reclamou do atraso de uma parcela do pagamento. Segundo ele, a falta de pontualidade provocou “todo tipo de constrangimento de pessoas que confiaram no nosso comprometimento em Copenhague”.
A operação Unfair Play é um desdobramento da Lava Jato e apura suposto esquema de compra de votos para escolha da capital fluminense para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
O outro lado
Em nota, a defesa de Sérgio Cabral destacou: “as declarações de Carlos Miranda são inverídicas, como todas as anteriores, além de não terem suporte em qualquer outro elemento que não seja a sua própria imaginação”.

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