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De finanças ao autoconhecimento: 7 coisas que a escola não ensina

Apesar de a “inteligência emocional” ter sido incluída na Base Nacional Comum Curricular, alguns temas importantes ainda estão de fora

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Alunos escola
1 de 1 Alunos escola - Foto: GettyImages

Dificuldades em gerir finanças e lidar com emoções são alguns dos assuntos que mais afetam as atuais gerações. E o que esses temas têm em comum? A maioria não é abordada nas instituições de ensino tradicionais.

O Metrópoles conversou com especialistas e elencou o que não pode ser deixado de lado no momento de transição da escola para a vida adulta:

1. Saber evitar a Síndrome de Burnout

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Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a doença como um “fenômeno ligado ao trabalho”. Entre os sintomas estão a sensação de esgotamento, eficácia profissional reduzida e cinismo ou sentimentos negativos sobre o próprio trabalho. Conhecida também como síndrome do esgotamento profissional, passou a ser considerada doença ocupacional em 1º de janeiro deste ano e foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) da OMS.

Para a psicóloga Liliany Souza, a doença é um reflexo da modernidade.

“Eu vejo o burnout como um sintoma da sociedade moderna, onde temos uma exigência enorme de produtividade. Além disso, a evolução dos meios tecnológicos facilitou o processo que nos mantém em contato constante com o trabalho. Isso faz com que o trabalho preencha todas as esferas em um nível tão grande que a pessoa chega no limite de exaustão” afirma.

Ela diz que, apesar de cada caso necessitar de um tratamento específico, existem algumas dicas que podem ajudar a evitar a síndrome. São estas:

  1. Respeitar os horários de trabalho e, para quem é profissional autônomo, estipular quais são os horários específicos para trabalhar, porque senão o trabalho acaba tomando tudo. Manter o contato profissional restrito a esse horário também é importante.
  2. Ter uma rede de apoio de amigos ou familiares.
  3. Ter hobbies fora do trabalho. Ter momentos de lazer e fazer atividade física são essenciais para tirar o trabalho desse lugar central, onde a pessoa não faz mais nada além disso.
  4. Saber encontrar o equilíbrio entre o prazer e o dever.

2. Praticar o autoconhecimento

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A investigação de si mesmo é algo essencialmente contrário à metodologia da maioria das instituições tradicionais, que oferecem aulas, matérias e avaliações que seguem um estilo padronizado, sem considerar a individualidade dos alunos. A escassez dessa habilidade pode causar problemas em relacionamentos pessoais e profissionais e em diversas áreas da vida.

Liliany explica que o desenvolvimento pessoal está altamente ligado ao autoconhecimento. “A partir do momento em que você entende melhor as suas emoções e pensamentos, você consegue se comunicar e se relacionar melhor. Suas habilidades pessoais e relacionamentos se desenvolvem de uma maneira muito mais fácil, com saúde mental. Com certeza é um grande potencializador do desenvolvimento pessoal.”

“É fundamental para uma vida plena e saudável, pois cada ser humano é único. Você precisa ter consciência de si, de quem você é, das suas principais características, potenciais, pontos de melhoria, valores e afins para saber o que te faz feliz e onde você quer chegar. Como diria Lewis Carroll (romancista): ‘Se você não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve’.” diz a Life Coach Tatiana Yuri.

Ela destaca o poder de conhecer a si mesmo. “O autoconhecimento traz direcionamento e clareza de quais são os melhores caminhos a serem seguidos para atingir seus objetivos, tornando a trajetória mais  assertiva e eficaz. Além disso, minimiza as chances de erros e insucessos, gera autocuidado, autoestima,  autonomia, consciência de equilíbrio, entre outros benefícios. Investir em autoconhecimento é investir em qualidade de vida.”

3. Ter inteligência emocional nos relacionamentos

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Tão importante quanto saber se relacionar consigo é manter relações saudáveis com outros indivíduos. A partir do ano de 2020, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu conhecimentos socioemocionais em suas novas diretrizes, mas ainda é uma área rudimentar que precisa ser mais explorada e valorizada no Brasil.

Sobre o assunto, Tatiana diz: “Em minha opinião, nosso sistema educacional é muito falho. Vivemos uma realidade em que nas escolas se aprende o ‘técnico’, mas não se desenvolve habilidades internas e sociais. Um exemplo disso está em aprender a ‘ler e escrever’, mas não a refletir, interpretar, gerar opinião própria, debater opiniões contrárias e verdadeiramente se comunicar com propriedade, de forma clara, efetiva, empática e responsável. Vivemos uma era em que pessoas são contratadas por suas excelentes habilidades técnicas e seus renomados diplomas, mas demitidas pela falta de capacidade de lidar com o outro e até consigo mesmo”.

Liliany, por sua vez, destaca a importância de a inteligência emocional ser ensinada às crianças desde o momento do nascimento. “É importante para que a criança possa entender aos poucos as próprias emoções. Se permitir sentir e entender o porquê que [os sentimentos] estão ali. Quando estiver triste por querer ir ao ‘parquinho’, é bom que se explique o porquê da tristeza, entre outras emoções, além de nomeá-las para as crianças”.

Ela avalia que essa habilidade vem se deteriorando nos últimos tempos. Segundo a psicóloga, as gerações mais novas apresentam dificuldades maiores para se relacionar. “Eu diria que o formato dos relacionamentos se modificou. A dificuldade maior [dos jovens] está nas interações diretas, presenciais, o que se relaciona muito com a nova forma indireta de socialização devido a tecnologia. As interações acabam sendo muito mais vivenciadas pelas redes sociais do que de pessoa pra pessoa”.

4. Agir com tranquilidade em entrevistas de emprego

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Não é surpresa que após passar a maior parte da vida acadêmica sendo avaliado por provas escritas e conhecimento teórico, o jovem tenha grande dificuldade ao passar por uma entrevista de emprego, onde deverá será avaliado principalmente por sua habilidade de comunicação e apresentação pessoal.

Tatiana aconselha que, mais uma vez, conhecer a si mesmo é essencial. “Tenha clareza de qual o seu propósito com a vaga oferecida, do motivo pelo qual você é o candidato ideal, no que você irá agregar à equipe/instituição, no que a oportunidade irá agregar na sua evolução pessoal (além da profissional). Reflita com antecedência se as condições propostas se encaixam nos seus planos e seja sempre transparente, não só com o entrevistador, mas consigo mesmo em primeiro lugar.”

A Master Coach Malu Albuquerque também recomenda que o jovem não deixe de perguntar o que a empresa espera dele. “Estar em uma empresa onde se compartilha dos valores é muito importante. Digamos que você tem um valor de crescimento e a empresa também valoriza que o funcionário cresça ali, será um grande encontro.”

O portal do estudante do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) oferece algumas dicas de como se portar durante a entrevista. Confira:

  1. Mantenha a calma e demonstre interesse. Pesquise informações sobre a empresa e o mercado, e, se for o caso, sobre o currículo do entrevistador;
  2. Seja pontual;
  3. Seja você mesmo e seja o mais honesto possível;
  4. Vista-se de acordo;
  5. Seja educado. Use “bom dia”, “obrigado”, “por gentileza” com qualquer colaborador que encontrar.

5. Manter um aprendizado ativo

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O auxílio de uma boa equipe de professores é, provavelmente, uma das bases fortificadoras das instituições de ensino. Porém, com o formato de ouvir e reproduzir aplicado durante anos, o aluno perde grande parte da capacidade de investigação. Quando deseja estudar para concursos públicos, vestibulares, ou até mesmo adquirir uma nova habilidade, como tocar um instrumento musical ou falar uma língua estrangeira, o jovem encontra diversas debilidades.

Tatiana explica que a clareza de seus objetivos é o melhor ponto de partida: “O primeiro passo é ter clareza do ‘para quê’ você quer desenvolver o conhecimento/habilidade. Isso lhe ajudará a manter o foco durante o processo. Em seguida, deve-se estabelecer metas acessíveis até o seu objetivo final. Após isso, é apenas atitude: prática, correção e repetição até atingir a excelência desejada”.

 Malu destaca que ter um feedback constante também ajuda. “Esse feedback pode ser uma autoavaliação ou com acompanhamento profissional [se preferir].”

O portal da Universidade de Montes Claros, em Minas Gerais, estabelece passos decisivos a serem tomados por quem deseja se tornar um estudante ativo. Veja:

  1. Questionar e formular perguntas;
  2. Refletir, pensar criticamente e explorar o conteúdo;
  3. Adotar hábitos regulares de leitura, escrita e engajamento com o estudo;
  4. Integrar os estudos a vida social;
  5. Ser presente e concentrado nos estudos;
  6. Ir além do material básico de estudo, procurando novas fontes que despertam o interesse.

6. Gerenciar finanças e saber os seus direitos como consumidor

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O especialista financeiro Charles Medeiros diz que é bom aprender sobre os próprios direitos como consumidor o mais cedo possível. “Direito do Consumidor] Deve ser ensinado pelo fato de pessoas serem constantemente ludibriadas a comprar e parcelar produtos, muitas vezes de forma indevida. Apesar de algumas coisas, como juros compostos, dívidas, cálculos, já serem ensinadas de certa forma nas escolas, isso não impede que acumulem dívidas. O moralismo de não gastar com coisas supérfluas não faz parte das escolas”, diz.

Ele ainda cita os erros mais cometidos pelos jovens (e até mesmo adultos) na área financeira. “Os erros mais comuns (e graves) são confusões de conceitos. Infelizmente, hoje, uma pessoa que compra um celular de R$ 1.000 por R$ 1.200, parcelado em 12 meses, chama isso de investimento. Não saber diferenciar gasto fixo de variável e investimento é o maior erro que vejo os brasileiros cometerem, de longe, independentemente da renda ou nível de escolaridade. Absolutamente todo mundo erra”, diz.

Charles também aconselha os mais jovens a não se enganarem com propostas sensacionalistas. “O caminho inicial é focar nos investimentos de renda fixa. Infelizmente os leigos não querem aprender a investir e sim a ganhar dinheiro ‘fácil’. Veja como os sites de pesquisa estão saturados de investimentos de alto risco, como ações ou criptomoedas. Um leigo sabe mais de ações do que de debêntures [título de crédito representativo de um empréstimo] e isso é inaceitável se ele quiser ter uma reserva financeira minimamente saudável”, alerta.

7. Conhecer como funcionam os impostos

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O fato de que não somos ensinados sobre impostos que serão cobrados sem aviso prévio é, no mínimo, incoerente.

Charles cita a falta de modernização das escolas brasileiras e os problemas que isso acarreta na vida de um jovem que acabou de chegar à maioridade.

“Esse deve ser um tema nas salas de aula para sabermos o porquê pagar, quanto pagar a sua função. É muito normal uma notificação chegar para um brasileiro sobre um imposto que ele deixou de pagar por simplesmente esquecer ou não saber que existia. Da mesma forma, se ele estiver sendo cobrado de forma indevida, não saberia calcular.”

Para aqueles que estão entrando no mercado de trabalho, com exceção de pessoas jurídicas, o especialista aconselha: “Entender como funciona a declaração anual de renda de pessoa física é o suficiente. Entender também o funcionamento das restituições tributarias nesse documento também pode ser útil ou pelo menos preparar terreno para as declarações futuras”.

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