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Cúpula da Amazônia busca economia verde em vez de degradação ambiental

Chefes de Estado de países amazônicos e convidados vão debater ações conjuntas para salvar a floresta e para promover uma economia verde

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
mineração na amazônia
1 de 1 mineração na amazônia - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Por seu tamanho e papel na regulação climática do mundo, a floresta amazônica é considerada fundamental por pesquisadores na ambição de frear os efeitos das mudanças climáticas. Pesquisas recentes, como uma publicada na revista Nature em 2022, mostram que a floresta, que o Brasil divide com mais oito países vizinhos, tem sido tão machucada pelo desmatamento que se aproxima de um ponto de não retorno, quando será impossível evitar sua transformação numa savana pobre em biodiversidade.

É para propor formas de evitar esse cenário de desastre que chefes de Estado dos países amazônicos, além de convidados, se reúnem nesta semana em Belém (PA), na Cúpula da Amazônia. A ideia é que esses países cooperem em ações para frear o desmatamento ilegal e para dar às populações locais perspectivas de desenvolvimento econômico e social. Uma cooperação para coibir crimes ambientais, escoamento do garimpo ilegal e tráfico de drogas e para desenvolver ações e políticas que promovam uma transição da exploração predatória para uma economia sustentável.

A cúpula foi proposta pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pretende liderar um bloco de países onde há grandes florestas, incluindo os amazônicos, os dois Congos e a Indonésia, para cobrar dos países mais desenvolvidos recursos para financiar a transição para uma economia mais verde.

Lula tem dito em seus discursos que a Amazônia não pode ser apenas um “santuário” natural, mas que precisa aliar proteção e desenvolvimento. O petista tenta usar o tema ambiental para se diferenciar de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e dar uma cara ao seu terceiro mandato. Bolsonaro também defendeu o desenvolvimento econômico da Amazônia, mas não fazia essa ligação com a proteção da floresta, sendo um crítico da proibição da mineração em Terras Indígenas, por exemplo.

Participação nas conversas preparatórias

A Amazônia, nos países que a dividem, é lar de quase 50 milhões de pessoas, incluindo dois milhões de indígenas. Esses países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) têm representantes debatendo desde o início do ano as propostas que serão discutidas na cúpula de Belém – e depois levadas para a conferências das Nações Unidas para o clima, a COP-28, que acontece em novembro, em Dubai.

Nos eventos de preparação, além de governos, debateram pesquisadores, membros de ONGs que atuam na região e houve a preocupação de levar para as discussões representantes de povos indígenas, comunidades tradicionais e ribeirinhos, que são alguns dos principais interessados na proteção da floresta.

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Expectativas

Membro da ONG ambientalista WWF no Brasil, o especialista em políticas públicas Raul do Valle espera que o tratado que os chefes de Estado devem assinar ao final da cúpula, que ocorre em 8 e 9 de agosto, traga compromissos efetivos e detalhados para o combate ao desmatamento e caminhos para o desenvolvimento sustentável da região amazônica.

“Fazia nove anos que os presidentes dos países amazônicos não se reuniam. Essa cúpula é a oportunidade de atualizar o primeiro tratado assinado por eles, em 1978, e reforçar ações coordenadas para lidar com contextos e problemas novos. É preciso admitir que a floresta está caminhando para um ponto de não retorno e colocar em ação medidas para evitar isso”, disse ele, em entrevista ao Metrópoles.

Brasil é de longe o maior desmatador, por ter 60% da floresta amazônica em seu território e por ser fronteira ser mais intensa de expansão agrícola.

“A Colômbia tem processo parecido, apesar de em menor escala. O processo de pacificação lá valorizou áreas que eram ocupadas pela guerrilha e agora estão sendo desmatadas para a produção agropecuária. O processo de expansão da agricultura também ocorre na Bolívia. Então, somos três países conectados pelo desmatamento voltado à produção de commodities agrícolas. Por isso, temos que conectar também a busca por soluções. A cúpula serve para isso”, afirmou o ambientalista.

O Brasil chega ao evento com o discurso fortalecido por dados que mostram uma redução nos alertas de desmatamento na Amazônia este ano (apesar de um aumento recorde no Cerrado).

Para Beto Mesquita, membro da Coalizão Brasil, que é uma entidade que reúne pesquisadores, organizações da sociedade civil e empresas, inclusive do agronegócio, a vontade política sinalizada pelo governo é uma oportunidade para acelerar a transição da economia amazônica.

“Para isso”, afirma ele ao Metrópoles, “é fundamental engajar toda a sociedade numa nova economia da Amazônia e fortalecer as ações de combate à ilegalidade”.

“Se não estivermos num escopo de legalidade, o ilegal sobrevive e avança. Existe até exploração de madeira num contexto sustentável, mas essa madeira não consegue competir com a retirada ilegalmente, que é muito mais barata para o explorador. Então, a cúpula precisa trazer maneiras de combinar as estratégias de estimular a economia sustentável e sufocar a degradação ilegal”, afirma o especialista.

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