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Uma história escabrosa (por Sérgio Vaz)

É indecente como funciona a cabeça de um bolsonarista

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Militantes bolsonaristas em Brasília
1 de 1 Militantes bolsonaristas em Brasília - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Algumas semanas atrás, Antonio Nahud me perguntou se eu daria uma entrevista para um site dele sobre cinema. Entrevista por escrito, claro – ele mandaria as perguntas, eu responderia por escrito, coisa tranquila, gostosa, muito melhor do entrevista para um gravador.

Eu já o conhecia de nome. Não tem apenas um blog sobre cinema – tem vários. Já havia enviado muitos comentários para o meu site, cheios de elogios.

Me mandou o questionário. Imenso, descomunal. 30 perguntas. Demonstrava conhecer um tanto do meu jeitão, e ter lido, além de alguns textos sobre filmes, também aquele em que faço minha apresentação. Entre suas perguntas estavam:

* “Seu texto tem um tom de conversa coloquial. É intencional?”

“Achei muito boa a apresentação do seu ofício: “Não sou crítico, nem “entendido em cinema”, expressão de resto detestável – apenas gosto de filmes”. Se possível, explique um pouquinho mais.”

* “Quando tinha 12 anos, passou a anotar num caderninho os nomes dos filmes que via, os atores, o diretor, o estúdio, a duração, e uma nota. Fiquei impressionado. Eu fazia o mesmo e mais ou menos também comecei por volta dos 12 anos. Depois de uns dez anos, parei, voltando definitivamente em 2010. Você ainda tem esses caderninhos? Concorda geralmente com as notas e observações antigas?”

Ou seja: boas perguntas, de quem tinha lido coisas que eu tinha escrito.

         ***

Depois que recebi as perguntas, fui dar uma xeretada no que ele dizia no Facebook – e descobri, chocado, que o cara é bolsonarista.

Fiquei impressionado: como é que um bolsonarista podia gostar do que escrevo? Diacho: não fico falando apenas do movimento de câmara. Falo do que os filmes querem dizer, e meus textos são terrivelmente, terribilissimamente anti tudo o que a extrema direita representa e defende.

Mas respondi às 30 perguntas com empenho, seriedade. OK, vamos lá. De um cinéfilo para outro. A vida, afinal, está acima do Fla-Flu.

Na quinta-feira recebi um e-mail do rapaz.

É indecente.

Transcrevo a peça da peça, e então deveria deixar para vocês lerem e fazerem o seu próprio julgamento, mas não consigo me impedir de dizer que é fantástico como o cara se considera melhor que eu, – e me trata como se eu fosse um velhinho idiota.

É indecente como funciona a cabeça de um bolsonarista.

Eis o texto que ele me mandou nesta quinta-feira:

“Sérgio, em busca de dados biográficos para concluir a introdução da nossa entrevista, dei de cara com o texto “A Pior Oposição da História”, publicado pelo nefasto Noblat no bizarro site comunista “Metrópoles”. Foi um choque! Um balde de água fria! Jamais pensei que fizesse parte desse consórcio jornazista. Cada um vive como quer, não vou partir para ofensas, mas peço desculpas, não me faria bem publicar sua entrevista. Mesmo se tratando de filmes e ter gostado bastante dela, só em saber que você conspira contra o Brasil, com narrativas falaciosas, me incomoda profundamente.

Não posso ver nada admirável em quem defende um ladrão, em quem idolatra o maior corrupto da história do Brasil. Sou do tipo que não vê filmes de Wagner Moura, que não ouve Caetano, que não lê Chico Buarque e outros calhordas. Sou também jornalista. Tenho matérias publicadas em jornais e revistas do Brasil, Portugal e Espanha. Por 12 anos cobri festivais de cinema europeus. Aos 53 anos, jamais fui na onda pilantra do rebanho esquerdopata. Acompanho a política tupiniquim desde o General Figueiredo e honestamente nunca houve um Presidente como Jair Messias Bolsonaro. Ele é um presente dos céus para os brasileiros acossados pela máfia petista que nos rouba desde sempre. Só os mamateiros de plantão não enxergam suas virtudes e honradez.

Vencemos em 2018 e venceremos este ano. Os cidadãos de bem merecem. Sugiro que aproveite sua aposentadoria, veja mais filmes e evite textos políticos ridículos publicados para a bolha no “Metrópoles”. Respeite os brasileiros. Cerca de 70% da nossa população ama Bolsonaro. Você já não é um adolescente irresponsável. É um senhor dando os últimos passos. Tenha juízo, fica em paz, fica com Deus. Sinto por esse desencontro. Finalizo dizendo que nunca mais visitarei o seu site que tanto me deu prazer por mais de dez anos.

 

Sérgio Vaz é jornalista (ex-Estadão, estado.com.br, Agência Estado, revistas Marie Claire e Afinal, Jornal da Tarde). Edita os sites 50 Anos de Filmes e 50 Anos de Textos

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