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Só pode ser piada (por Mary Zaidan)

Dono do PL apronta das suas, frita o ex-presidente e lança Michelle 2026

atualizado

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Michelle Discursa em convencao do PL
1 de 1 Michelle Discursa em convencao do PL - Foto: Reprodução

Valdemar da Costa Neto, dono do PL, não tem nem terá importância na história política do país. No máximo, talvez possa ser lembrado pela fidelidade a diferentes senhores, de Itamar Franco a Luiz Inácio Lula da Silva, desembocando em Jair Bolsonaro. Agora, se lançou em nova frente: manter os bolsonaristas, mesmo rifando o ex-presidente. Sua mais recente aposta – nem que seja só para tumultuar – tem nome e, principalmente, sobrenome: Michelle Bolsonaro 2026, lançada por ele na sexta-feira.

A hipótese da candidatura veio à tona um dia depois de Michelle desembarcar sozinha em Brasília, deixando o marido em Orlando, embora o visto de permanência dele nos Estados Unidos vença nesta segunda-feira. Parece piada, mas tudo foi bem ensaiado. Enquanto Costa Neto falava da opção Michelle e de por que Bolsonaro seria melhor como cabo eleitoral do que como candidato, instantaneamente começaram a pipocar fotos da ex-primeira dama nas redes sociais com a pergunta “Você votaria nela para presidente?”

No mesmo dia, o jornal O Globo havia publicado uma entrevista de Costa Neto, na qual ele afirma que a minuta de golpe encontrada pela Polícia Federal na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres “tinha na casa de todo mundo”. A declaração caiu como bomba entre os integrantes do governo do ex, envolvidos em uma trama da qual querem distância. Uma pá de cal sobre Bolsonaro que nem o melhor estrategista de Lula imaginaria.

Vindo de um político descolado, é improvável que a declaração tenha sido ingenuidade ou apenas mais uma trapalhada do dono do PL, que não costuma deixar de dar nós nos pontos.

Deputado federal por seis mandatos, Costa Neto ostenta o caso raro de dupla renúncia de mandato, em 2005 e 2012, ambos para escapar da cassação e consequente inelegibilidade advinda do julgamento do Mensalão. Em 2012 foi condenado a 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas saiu quase ileso: ficou na cadeia por pouco tempo, sendo indultado em 2014.

Embora aprecie os holofotes, a partir daí passou a jogar nos bastidores, mesmo sendo um tanto boquirroto para tal. Continua inconformado com a multa de R$ 22 milhões atribuída ao seu partido por ter cedido a Bolsonaro e pedido a anulação do segundo turno das eleições em cima de argumentos sabidamente falaciosos. E não esconde que conta com a turma do Lula para se safar dessa.

Em relação aos ditos sobre a minuta golpista, cuja intenção, dizem, foi apenas a de banalizar o documento, as consequências podem ser ainda mais graves. Tanto Costa Neto como o “todo mundo” que ele cita podem ser acusados de prevaricação e conivência com quem tentou conspirar contra a democracia. Não é pouca coisa.

Talvez esteja aí o ponto em que Costa Neto apertou o nó. Como o “todo mundo” depende da deduragem dele em um provável chamamento para depor, em uma só agulhada ele se impôs novamente a Bolsonaro e aos seus aliados mais próximos, incluindo os filhos, que vira e mexe ameaçam tomar as rédeas do lucrativo PL.

No trânsito em campos antagônicos, só o habilidosíssimo Gilberto Kassab, dono do PSD, faz frente a Costa Neto. Mas a diferença entre os dois é gigantesca. Um costura em silêncio, outro é falastrão.

Atual secretário de Governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas, em São Paulo, Kassab foi vice-prefeito do tucano José Serra, prefeito ao derrotar Geraldo Alckmin, ministro de Dilma Rousseff e do arqui-inimigo dela, Michel Temer, secretário de Planejamento do malufista Celso Pitta e da Casa Civil do governador João Doria. Sem deixar de ser aliado de primeira hora de Lula. Na quarta-feira, tudo indica – a não ser que haja uma reviravolta das grandes – ele deve voltar a exibir sua força na reeleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Sem aparecer no palco. Fará ainda que o PL de Costa Neto perca a condição de maior bancada do Senado, com a migração de Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) para o PSD. Sem fazer marola.

Quanto a Michelle, nos quatro anos que faltam para a próxima eleição ela terá tempo de sobra para explicar o cheque de Fabricio Queiroz em sua conta bancária e, claro, de fazer sucesso como influencer de produtos de beleza, seara em que ela está mandando bem.

Mary Zaidan é jornalista 

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