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PT descobre a China (por André Gustavo Stumpf)

Gleisi Hoffman, presidente do PT, chefiou, recentemente, grande caravana de petistas a Pequim

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Gleisi Hoffman, presidente do PT, chefiou, recentemente, grande caravana de petistas a Pequim, onde a turma conheceu os progressos do comunismo chinês. Um momento único, diferente e quase inesperado para o partido que no início não queria se filiar a nenhum governo e pretendia seguir uma trajetória independente. Não foi assim, mas todos os partidos são susceptíveis às circunstâncias de momento.

A delegação liderada por Gleisi participou de seminário sobre o fortalecimento da capacidade de governança e os esforços para a modernização nacional. Na avaliação dela, Brasil e China possuem realidades distintas, mas o PT e o PC chinês assumem responsabilidades semelhantes. “Tanto o Partido Comunista da China como o Partido dos Trabalhadores têm por objetivo atender os interesses do povo. Colocar o nosso povo para ter desenvolvimento, para ter inclusão, para ter dignidade de vida. E isso requer preparação desses partidos, preparação de formação teórica, de organização, de renovação”, reconheceu a presidenta do PT.

O PT foi fundado por um grupo heterogêneo, formado por militantes de oposição ao governo militar, sindicalistas, intelectuais, artistas e católicos ligados à Teoria da Libertação (que foi praticamente extinta pela ação do Papa João Paulo II, que, ao mesmo tempo, ajudou a derrubar o comunismo na Polônia) no dia 10 de fevereiro de 1980 no colégio Sion, em São Paulo. O partido resultou da aproximação entre os movimentos sindicais que existiam na região do ABC, em São Paulo, e militantes da esquerda brasileira, entre eles alguns que haviam sido presos e exilados, mas tiveram seus direitos políticos devolvidos pela lei de anistia, assinada pelo então presidente João Figueiredo.

O surgimento do movimento organizado de trabalhadores, notabilizado pelas greves lideradas por Lula no final da década de 1970, permitiu a reorganização de um movimento sindical independente do Estado, concretizado na criação da Conferência das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), o embrião da Central Única dos Trabalhadores. O PT surgiu contra as tradicionais lideranças do sindicalismo oficial, buscando nova forma de socialismo democrático, que se afastava dos modelos então existentes, o soviético e o chinês.

Os elogios de Gleisi Hoffmann ao partido comunista chinês são interessantes por serem contraditórios com a dirigente do partido político brasileiro. A China vive um capitalismo selvagem muito bem-sucedido. Retirou 800 milhões da pobreza absoluta e criou uma classe média maior do que a população da Europa Ocidental. Êxito excepcional. Tudo isso foi conquistado à custa de repressão interna, censura à imprensa e inexistência de debate político. A Gleisi brasileira critica a política do Banco Central, fartamente praticada na China, em favor de política monetária restritiva que busca a queda de juros para favorecer o crescimento econômico.

A privatização das empresas estatais foi amplamente adotada em todos os níveis, na mesma medida em que o Estado favorece e incentiva os empresários nacionais. O capitalismo chinês gosta da concorrência e estimula os melhores que podem ser locais ou estrangeiros. É preciso criar empregos numa sociedade com mais de um bilhão de habitantes. Eventuais rebeliões populares são perigosíssimas num país acostumado a guerras civis, invasões externas e sucessivos golpes de estado. Não se brinca com isso. Então, crescer é fundamental para que haja paz na política nacional. Corrupção lá é assunto tratado como crime capital. O culpado é morto com um tiro na nuca e a família paga as despesas.

Aqui, o presidente Lula precisa, com urgência, de boa assessoria para encontrar o rumo em seu governo, perdido entre querelas dos parlamentares. As brigas entre ministros, senadores, deputados e outras autoridades sitiam o governo, que não consegue avançar para lugar nenhum. Está perdido dentro deste tiroteio inútil. Há grandes obras a serem realizadas que esperam a benção do governo federal. Até agora o governo lançou apenas programas pontuais e participou de discussões estéreis.

Não há uma única grande obra do governo Lula a ser exibida. Nem na política externa. O governo não consegue se libertar das querelas internas, das disputas entre tendências na medida em que se aproxima a data das eleições municipais, que constituem a base da escolha presidencial de 2026. E a direita brasileira, agora está mais articulada, objetiva e dispõe de pelo menos quatro bons nomes para colocar na corrida ao Palácio do Planalto. Gleisi e seu partido precisam se decidir se continuam acreditando na economia planificada ou entram na agitação alucinante do progresso digital do século 21. Sua visita à China pode ajudar a decidir.  Mas, ao que parece, seu ideal democrático virou miragem.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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