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Os vacineiros (por Gaudêncio Torquato)

Pandemia misturada à despedaçada economia. Indiciados não sabem de nada, até aparecerem provas de que sabem de tudo

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Roberto Ferreira dias cpi
1 de 1 Roberto Ferreira dias cpi - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Mentira! Mentira! Mentira! Mesmo antes de o galo cantar, ou os depósitos de propina aparecerem, o governo e seus apóstolos do Ministério da Saúde, tais quais o apóstolo Pedro, que negou por três vezes conhecer Jesus, repelem veementemente a suspeita de vantagens pecuniárias para negociarem vacinas. Pedro, depois de se arrepender, salvou-se, ganhou as chaves da Igreja e se tornou o primeiro papa, sob o perdão do Cristo crucificado.

E o governo e seus apóstolos? Quem será o arrependido na CPI? Nem a prisão em flagrante do ex-diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias, por “mentir”, colocará os próximos depoentes na frente da verdade. Quem seriam os tios Patinhas de remédios.

Como negar, mesmo com uma batelada de assessores flagrados com a mão na botija? Um centro de contrainformação deve ter sido montado para blindar os grupos de “vacineiros”. Os cidadãos são brindados com mentiras deslavadas, sem disfarce.

No Brasil de hoje e na síntese do Macunaíma de Mário de Andrade, “pouca saúde e muita saúva”, muito cupim comendo nosso capim. Pandemia misturada à despedaçada economia. Indiciados não sabem de nada, até aparecerem provas de que sabem de tudo.

Veja-se, por exemplo, o caso do Roberto Dias. Encontrou-se em Brasília com um militar de baixas divisas e ouviu dele a condição para adquirir a vacina negociada, em detalhes. Um dólar por dose. E se aparecer o tal dossiê que teria preparado caso ficasse em má situação? Chegaria a derrubar o governo, um xeque-mate?

Nesses tempos a palavra oral nada vale. A lei garante a legitimidade de provas testemunhais. Por isso, é pouco razoável acreditar na eficácia das CPIs. De uma coisa, sabemos: a repetição das tramoias engolfa os protagonistas eleitorais envolvidos em um manto de sujeira, com reflexo nas urnas de 2022.

Dirigentes da CPI estão ávidos para descobrir o caminho do dinheiro dos vacineiros. Mas está difícil. Até porque os comediantes impressionam as plateias não quando estão furiosos, mas quando representam o furor. Os histriões convencem mais que os grandes atores porque conseguem o exagero indispensável ao teatro.

 

Gaudêncio Torquato é jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político

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