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O custo da vingança (por Mary Zaidan)

O país não pode continuar sendo vítima do revanchismo político 

atualizado

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Montagem de Lula (esquerda) discutindo com Bolsonaro (direita) em debate com arte em forma de "X" atrás - Metrópoles
1 de 1 Montagem de Lula (esquerda) discutindo com Bolsonaro (direita) em debate com arte em forma de "X" atrás - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

Os desacertos de Luiz Inácio Lula da Silva – cujo cérebro tem sido irrigado por bílis – depois de quatro anos de desgoverno de Jair Bolsonaro, que agora se posta como ingênuo injustiçado, podem até servir ao interesse eleitoral de ambos. Mas Bolsonaro já foi. Cabe a Lula dar o tom e o ritmo, fazer valer o amplo apoio que conseguiu arrebanhar e que vem diminuindo aceleradamente. Antes de tudo, o presidente deveria compreender que o modo vingativo empaca seu governo, tendo como consequências a cruel eternização do subdesenvolvimento e o aprofundamento da desigualdade.

No país que exibe a extraordinária plataforma de quase 245 milhões de smartphones, quase metade da população não se conecta ao esgoto – 100 milhões dos 207,8 milhões de acordo com dados parciais do Censo 2022 -, 35 milhões nem mesmo têm água potável. Condena 62 milhões à pobreza, 30 milhões à absoluta miséria. Um quadro que se agravou ao longo dos anos, e que não se resolve com medidas emergenciais de complementação de renda. Muito menos com políticas arcaicas que já se provaram ineficazes e têm chance zero de dar certo, a exemplo dos decretos de Lula contra o Marco do Saneamento.

Não há tempo para discutir políticas industriais baseadas em subsídios ou, pior, com prioridade à indústria automotiva, acariciada pelos governantes brasileiros desde os tempos de JK. Em vez de um novo carro popular movido a combustível fóssil, já apelidado de “fusca do Lula”, o país deveria premiar iniciativas inovadoras. Investir, ainda que um tico, no século 21, que, alô alô, governo Lula!, já avança pela segunda década.

Na educação, área em que Bolsonaro brincou com ensino domiciliar em aceno às correntes evangélicas, e com colégios militares rígidos, garbosos e elitizados como os dos anos dourados, o arraso é total. E não apenas por culpa da pandemia, que só piorou a indecente qualidade do ensino, praticamente estagnado desde o governo Fernando Henrique Cardoso, quando se deu a universalização do nível básico.

O quadro hoje é alarmante. Quatro em 10 crianças do 4º ano do ciclo fundamental não sabem ler e apenas 13% das que participaram das avaliações para o Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS) de 2021 dominam integralmente essa habilidade. Não há, portanto, espaço para firulas. É preciso agir rápido.

A saúde, sem qualquer dúvida a pior área dos tempos de Bolsonaro, deveria servir de parâmetro para Lula. O Ministério retomou as campanhas de vacinação, os atendimentos em especialidades e as cirurgias seletivas. Voltou a investir na invejável estrutura do SUS, elogiado em vários cantos do mundo. Aqui, tem-se uma vitrine extraordinária que se faz por mérito, sem sangue nos olhos, sem necessidade de xingar os Pazzuelos ou contrabandistas de vacinas do governo anterior.

Em vez de alimentar o ódio e o ranço, de apostar na chacota como a que fez no episódio da cassação do deputado Deltan Dallagnol, com a produção oficial de powerpoint remetendo à perseguição do ex-promotor a Lula, o governo deveria pular algumas casas. Nem seria preciso muito esforço. Depois dos anos de trevas de Bolsonaro, bastaria fazer a lição de casa direitinho e correr para o abraço.

O país pode vencer o atraso, mas não com revanches e soluções do século passado. Elas só condenam os brasileiros ao maldito círculo da subvida.

Mary Zaidan é jornalista 

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